13 de dezembro de 2011


Na latinha, a tal geração de 81 do Flamengo

Em plena era digital, recheada de smartphones e redes sociais, por duas horas o rádio tomou para si o velho papel de protagonista entre os veículos de comunicação. Colados à velha latinha, milhares de rubro-negros e tantos outros torcedores de outros times se renderam de novo. Tudo graças à tal geração de 81 do Flamengo. Quem a acompanhou de perto não deixou de se emocionar. Relembrava o que fazia no momento da transmissão, como viveu cada gol rubro-negro ao longo dos 45 minutos iniciais. Os que nem chegaram perto de viver a época, se imaginaram quietinhos, ali no silêncio da madrugada, torcendo para que os ingleses não mais ameaçassem o título rubro-negro. Coisas da tal geração de 81 do Flamengo.

Em meio ao túnel do tempo proporcionado pelas ondas da Rádio Globo exatos trinta anos depois, a tal geração de 81 do Flamengo pulsou mais viva do que nunca. Invadiu redes sociais com a mesma habilidade com que Zico lançou Nunes para marcar o gol rubro-negro em Tóquio. Tomou os bares da esquina como a paixão que invadira as ruas do Rio de Janeiro naquele 13 de dezembro de 1981. Fez muita gente bater no peito e ter orgulho de ser rubro-negro e campeão do mundo. Ainda encolhidos naquele silêncio da madrugada, os amantes do futebol e do rádio prestavam atenção em cada palavra empostada com a tradicional elegância de Jorge Curi. Sentiram o frio e riram ao ouvir o locutor informar que a temperatura era tão baixa em Tóquio que até as pernas de Adílio estavam quase brancas. Tudo graças à tal geração do Flamengo de 81.

De novo foi tempo em que os relógios Mondaine eram os melhores presentes no Natal. Época em que o Ponto Frio era Bonzão e cobria qualquer oferta da concorrência. Tempos do baile rubro-negro. Pois quase sem fôlego e emocionado, Jorge Curi relatava seu sofrimento ao ter de ceder o microfone para o companheiro Waldir Amaral na segunda etapa. Parecia, mesmo, não querer se despedir novamente, ainda mais após reviver momento tão mágico. Mas, resignado, admitiu que não gostaria de voltar à locução em uma possível prorrogação daquele jogo, à altura já 3 a 0 a favor do time rubro-negro, pois preferia assistir mesmo ao Flamengo campeão do mundo. O hino rubro-negro tocava ao fundo e, no intervalo, Zico, Lico e companhia não pregaram respeito ao Liverpool. Queriam mais. Faltavam ainda 45 minutos de deleite para os torcedores que estavam no Brasil. Ah, a tal geração do Flamengo de 81...

E a bola voltou a rolar na Tóquio de 1981 e no Brasil de 2011. A madrugada continuava, o coração rubro-negro acelerava e o título estava cada vez mais próximo. Waldir Amaral assumiu o microfone e tocou a empreitada. Rui Porto considerou a fatura liquidada, mas Kleber Leite, 14 anos antes de ser eleito presidente do clube, empunhou o microfone da Rádio Globo no gramado de Tóquio e condenou uma possível acomodação rubro-negra: "Tem trivelinha demais. Vão acabar torcendo o tornozelo desse jeito!". Puro deleite. Era a tal geração do Flamengo de 81. De pé em pé, com os ingleses na roda, o Flamengo, 30 anos depois, voltou a abraçar o mundo através das ondas de rádio. E Zico, defenestrado da Gávea e mandado de volta ao museu em 2010, ergueu o trofeu e orgulho rubro-negro como nunca antes na História em Tóquio.

No microfone da Rádio Globo, com o hino rubro-negro ao fundo, declarações de que a alegria era pelo clube, a euforia era por participar de momento tão importante. Nada para si. Tudo para o clube. As badaladas dos relógios Mondaine, então, avisaram que era hora de partir. Jorge Curi e Waldir Amaral ficaram em silêncio. Kleber Leite desligou o microfone. Três décadas depois, o Flamengo tornou-se o que é graças a Raul; Leandro, Mozer, Marinho e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico. Uma geração da qual a politicagem da Gávea já teve a ousadia de dizer que o clube precisa se libertar. Nunca, mesmo, se libertará. O que se ouviu 30 anos depois nas ondas da Rádio Globo foi história. Em duas mágicas horas, muitos voltaram no tempo. E tantos outros que não viveram aquele 13 de dezembro de 1981 entenderam o porquê de tanta reverência. A quem? À tal geração de 81 do Flamengo.

5 de dezembro de 2011


Um campeão com alma

A taça do Campeonato Brasileiro repousa em local justo. Não há como tirar os méritos deste Corinthians, campeão pela quinta vez em sua história. Um penta justo. Um penta digno. Mas, acima de tudo, um penta com alma. Porque só mesmo o Vasco, segundo colocado, para rivalizar com tamanha dignidade e entrega dos corintianos durante toda a competição. O time é notoriamente limitado na defesa, tinha em Tite um técnico para lá de pragmático. Mas encarnou como poucos encarnaram o espírito corintiano. Por isso, o título veio com a cara da turma do Parque São Jorge. Suado, sofrido, em um empate a duras penas com o maior rival. Doce sabor.

Bobagem creditar a taça ao Timão a fatos extracampo, como a influência sobre arbitragens e o sassarico desenfreado de Andrés Sanches pelos corredores poderosos do futebol brasileiro. O Corinthians de 2011 foi tão prejudicado e beneficiado como qualquer outra equipe da competição. Historicamente, times com alma surgem depois de pancadas avassaladoras. O Vasco ressurgiu depois de um início de ano deprimente, de fazer envergonhar qualquer um. O Corinthians não foi diferente. Logo após a eliminação diante do modesto Tolima ainda na primeira fase da Libertadores, o time do povo foi encarnado por uma alva vencedora. Ronaldo deu adeus ao futebol, Roberto Carlos deixou o Brasil e foi abraçado ao seu povo que o Corinthians provaria mais uma vez razão de tamanha devoção Brasil afora.

Pois o time de Tite virou jogos improváveis, perdeu na conta do chá outros incríveis, mas nunca deixou de dar um carrinho na sombra. Raríssimo ter acompanhado um gol corintiano em que o time inteiro não explodisse com o alívio de quem dava mais um passo rumo ao caminho que curaria as feridas da eliminação precoce em sua maior cobiça no início do ano. Revigorado, com a alma purificada pela tradicional luta da Fiel, o Corinthians foi o campeão do povo. Foi o Timão. E já lá de cima, doutor Sócrates deve ter ficado emocionado ao observar inúmeros punhos cerrados e erguidos em sua homenagem. Era um domingo. O Corinthians foi campeão. Foi o time do povo. Mas foi, acima de tudo, um campeão com alma.

20 de novembro de 2011


A reinvenção tricolor

No balé da bola, de pé em pé, o canto da arquibancada parece ganhar um eco uníssono entre os 11 jogadores que entram em campo. Não há dúvidas de que vestem o manto e têm orgulho de ser tricolor. O Fluminense, de novo, se reinventou. É especialidade da casa de uns tempos para cá. Adicione um pouco de dificuldade, dê duas pitadas de pressão, acrescente três colheres de impossível. Leve superstição a gosto. Pronto. Está pronta a fórmula para mais uma reinvenção tricolor. De jogo em jogo, a cada capítulo decisivo, o Fluminense fascina e domina. Com sorriso de orelha a orelha, o tricolor avisa para quem quiser ouvir: sim, eles se reinventaram de novo.

Porque difícil seria acreditar que depois de um primeiro semestre tão tristonho após o êxtase do título brasileiro, o time teria forças para se reerguer depois de pancadas. O início no Brasileiro foi ruim, verdade. Mas, hoje, quem é tricolor nunca duvida que dê para aprontar alguma coisa. Da arquibancada, o sujeito vestido com as três cores olha para o campo e não considera perdido um jogo que seja. Nem que o Grêmio, por acaso, tenha virado o placar em minutos. Cada tricolor tem certeza ali no ritual particular da arquibancada de que a virada está chegando. E ela vem. Pouco importa também que do outro lado está o menino prodígio Neymar. Nem mesmo ele parece ser páreo para mais uma reinvenção tricolor. O gosto da superação é diferente e arranca sorriso com um gol de Márcio Rosário aos 50 minutos. Coisa que só tricolor acredita. Só ele sente.

Com uma vitória suada aqui, outra de goleada ali, o sentimento de que é possível superar qualquer adversidade está diretamente ligada ao espírito tricolor. É na cara angustiada de Abel no banco de reservas. Nos gols primorosos de Fred. Nos petardos de Rafael Sobis. Nos passes geniais de Deco. Todos inventores tricolores. Deixaram marca indelével de uma geração que se recusa a acreditar que tudo acabou. Porque nunca, mesmo, acabou. Porque a cada campeonato, a cada ano, o Fluminense aprende a se reinventar. Dá aula de dignidade em um mundo da bola cada vez mais indigno. De ponto em ponto, de vitória em vitória, o Tricolor sempre se reinventa. É possível. E lá está o Fluminense de novo na Libertadores, com antecedência. O título, é verdade, está apenas em um risquinho de esperança. Mas e daí? Está talhado para, quem sabe, mais uma incrível reinvenção tricolor.

O Flamengo que não é Flamengo

O sonho dourado de o Bonde passar por cima de todos em 2011 com o sorriso do craque dentuço no comando foi por água abaixo. Achar um só culpado é bobagem. O Flamengo, do alto de seu pedestal, tem de olhar para si. É grande, mas deixou de ser grandioso e se fazer respeitado de verdade há tempos, com a rara exceção de 2009. Perde-se, sempre, em meio à bagunça que atola a Gávea e seu frenesí político e à incoerência que hoje invade o Ninho do Urubu. A culpa é de todos. Vai desde Vanderlei Luxemburgo, responsável por treinar o time e gerenciar o futebol, até o mais simples reserva. A torcida, embriagada pela frase "Flamengo é Flamengo" proferida pelo craque da camisa 10, também se empolgou. Acreditou que era simples. No embalo, na camisa e na raça, o time conquistaria tudo que viesse pela frente, sem receios. Não é assim.

Enquanto o Bonde deu certo, com sorrisos, gols no Carioca e trem embalando as comemorações, a diretoria esteve presente. Sorriu. Posou para fotos. Tudo às mil maravilhas. Mas o craque começou a frequentar a noite, o rendimento em campo caiu. O teórico comando do futebol desapareceu. O treinador chamou para si briga com a imprensa e deu destaque exarcebado a situações contornáveis. Em campo, procurou bancar o que tinha em mãos. Deu urros por André enquanto Borges passava à porta. Ignorou Adriano e só ameaçou contratar Love. O preço veio em um time experiente, mas que passou a não ter mais pernas com o andar da temporada. Em dez jogos, quase um terço do campeonato, o Flamengo não venceu. E tudo se manteve estático. Parecia normal. Apenas parecia. Do alto de seu pedestal, o Flamengo olhou para o espelho e garantiu ser impossível um gigante de tal natureza ficar fora da briga pelo título. Com os craques que tinha. Com a força da torcida. Naturalmente estaria na briga até o fim, no mínimo. Não está.

Graças à cultura da bola, a culpa na maior parte das vezes cai em cima do treinador. Não deveria. Luxemburgo tem grande parcela, principalmente por assumir a gestão do futebol, mas, ao pé da letra, não entra em campo. Difícil entender a falta de gana dos jogadores rubro-negros para ser campeão. Vontade não faltou. Mas aquele espírito de querer beijar a taça no fim do ano, ver a carreira valorizada. Não há. Reconquistado a duras penas no fim de 2009, perdeu-se em meio ao turbilhão de 2010 e não mais voltou. A notícia flatulenta de um treino vaza sem propósito, o volante falta ao treino, é afastado e reintegrado. No vaivém de indecisões, o time afundou e o clima pesou. A vaga na Libertadores corre grande perigo e compromete já 2012. O ambiente sugere uma reformulação geral no departamento de futebol e é difícil não concordar. Algo deve ser feito. Porque apesar dos craques milionários, da folha polpuda e da pose, 2011 trouxe uma certeza que deve servir para reflexão: este Flamengo não é Flamengo.

17 de novembro de 2011


Caio Júnior chamou para si

Dia 5 de novembro. Após derrota inesperada para o Figueirense no Engenhão e uma chuva de críticas da torcida, Caio Júnior se posta em frente ao microfone na sala de imprensa do estádio. Abatido, mas, no fundo, insatisfeito com as críticas que sofrera. Após a tradicional chuva de estatísticas sobre a partida, o treinador não se contém e desabafa. Critica a torcida e até o clube pelos 16 anos sem um título brasileiro e atribui parte da derrota a essa ansiedade pelo fim do jejum. Pronto. Caio Júnior chamara ali, naquele instante, a sua demissão do cargo de técnico alvinegro. Mais uma vez, o treinador falha em um grande time brasileiro. Indigesta rotina.

Seria, sim, mais decente ao Botafogo demitir o técnico apenas após o fim das 38 rodadas. Mas Caio Júnior chamou para si. Inventou escalações, bateu de frente com a torcida em troca de suposições que claramente seriam erradas. Rotulado pelas passagens fracassadas em Palmeiras e Flamengo, voltou do futebol japonês com sorriso no rosto, barba grisalha e ar de quem estava mais maduro para comandar um time ao triunfo. Não está. Perdeu-se novamente em meio a velhos fantasmas em momentos decisivos. Inquieto, passa incerteza ao time e à torcida com a falta de coerência nas escalações partida após partida. Mas o erro fatal, mesmo, foi ter atirado contra os torcedores e aberto a ferida de um jejum brasileiro.

Em que pese o fator de um ano político para a rápida decisão da diretoria alvinegra, Caio Júnior não pode reclamar do que teve no Botafogo. Contou desde o início com o carinho da torcida mesmo sob os olhares de desconfiança dos rivais e da crítica. Ganhou um elenco muito superior ao que Joel Santana teve em 2010. Por tudo isso, o Botafogo esperava muito mais do treinador. Esperava, sim, o título e no mínimo a vaga na Libertadores. Tudo está ameaçado e, em grande parte, devido às constantes dúvidas do técnico com as suas assombrações. Sim, a demissão a três rodadas do fim do Brasileiro foi surpreendente e talvez até precipitada. Mas a torcida do Botafogo merecia mais. O elenco alvinegro podia mais. Caio Júnior não compreendeu isso e preferiu abrir a ferida e escorar-se em jejum e ansiedade dos torcedores. Como quem diz, a culpa é deles, não minha. Convenhamos: no fundo, Caio Júnior chamou a demissão para si.

10 de novembro de 2011


O Vasco que contagia

Impossível não se deixar contagiar pelo pulsar de um caldeirão em ebulição com sentimentos guardados há uma década. Mas extravasaram. A cada dia os vascaínos parecem querer mais. Um sentimento como o visto na classificação diante do Universitário não se forja assim, sem mais nem menos. Comunhão rara, de jogadores e torcida, capaz de comover até o mais descrente cruzmaltino. A olhos vistos. Não foram poucos os vascaínos na arquibancada, no bar ou em casa que subiram junto de Dedé e esticaram o pescoço para cabecear a bola rumo ao gol adversário. Êxtase puro. Futebol em sua essência. Aula de honra. Um Vasco que dá gosto.

O atual elenco honra como poucos as raízes do clube. Inverte pensatas estabelecidas na base do suor, da garra. Quem disse que a Sul-Americana não vale nada? Dedé, o Mito, o faz repensar ao pular e cantar ao lado da arquibancada depois da classificação. Juninho, o Reizinho, se joga no chão como um garoto para tentar cruzar a bola e se emociona como na Virada do Século contra o Palmeiras. Impossível não se contagiar com este Vasco. Retrata ao pé da letra que é vida, é história, é primeiro amigo. Faz desconhecidos se abraçarem na arquibancada. Um buzinaço correr pelas ruas. Homem feito chorar como o mais puro dos meninos no gol de Alecsandro. Provoca uma torcida inconsciente até no rival que acompanhava o jogo simplesmente para secar. Impossível não se contagiar com essa atmosfera vascaína.

Em tempos de futebol de resultados, da relação fria com clubes, o renovado Vasco demonstra como é possível jogar por valor à camisa. Um sentimento que não para. Contra o Universitario, o caldeirão vascaíno pulsou como nos velhos tempos. Foi o time da virada. O time do amor. E que amor. A goleada sobre os peruanos foi um dos momentos em que tudo se justifica. A paixão que não para. Os jogos sob chuva. Sob sol infernal. As alegrias. As tristezas. Foi o futebol mais puro, provando o porquê de ser tão apaixonante. Uma festa linda, um sentimento inesquecível. De arrepiar. Um Gigante pela própria natureza. Por resgatar tudo isso em meio a lágrimas, urros de alegria e orgulho de, simplesmente, levar a cruz-de-malta no peito desde que nasceu. É, não há mesmo como não dizer: é impossível não se contagiar por esse Vasco.

8 de novembro de 2011


A Copa das cotas

O cidadão comum brasileiro já se recosta no sofá. Tristonho, suspira ao imaginar os jogos da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Logo ele, torcedor de carteirinha, que frequenta Maracanã, Morumbi ou Olímpico desde moleque e contava as horas para assistir no seu quintal aos maiores craques do planeta tem grande chance de ficar fora da festa. Sozinho, ele observa o noticiário na televisão e fica ainda mais deprimido. Afinal, não é mais estudante, ainda não é idoso, não é estrangeiro, também não tem amigos políticos e muitos menos é índio. Está fora das cotas de ingressos para a Copa do Mundo. Está privado de um direito que deveria ser seu. Sempre foi. O simples prazer do brasileiro de frequentar um estádio de futebol.

Dotados de sorrisos cínicos, os caciques da Copa brasileira decidiram fatiar o torneio a bel-prazer. Caso você se enquadre no perfil estipulado por donas Fifa e CBF talvez tenha chance de sentar em uma arquibancada de um estádio novíssimo, construído com o dinheiro que você próprio sua para receber todo mês e depois contribuir para os polpudos cofres do Estado. Um acinte. O cidadão comum brasileiro tem tantos direitos quanto um índio. A cota não se justifica. Apoia-se na muleta do populismo governista em troca de boas palavras, manifestações positivas de ONG´s pró comunidades indígenas. Pratica-se, mais uma vez, o nefasto jeitinho brasileiro. Ingresso para índio assistir à Copa tem. Combate ao desmatamento em reservas indígenas, não.

A Copa do Mundo em território brasileiro após 64 anos deveria ser uma grande celebração do futebol no país que respira o esporte. Pelo que se desenha, não será. Fatia-se os ingressos em inúmeras cotas, premia-se os estrangeiros, facilita-se elites e faz-se populismo com quem não deveria ser exposto a tal façanha, os índios. O velho e bom torcedor, apaixonado pelo seu time, que vai ao Maracanã de chinelo de dedo, gasta seu domingo debaixo de um sol escaldante só para apoiar o time, ao que parece, não será convidado. Em um país marcado por diferenças sociais gritantes, estimular a desigualdade em um sistema surrado de cotas para ingressos em jogos de futebol extrapola qualquer limite do bom senso. Triste Copa das cotas.

6 de novembro de 2011


A honra de Deivid

Difícil acreditar que o camisa 9 do Flamengo recebe bordoadas de todos os lados desde que chegou à Gávea. Deivid não demonstra mágoa. Não faz gestos obscenos, não falta a treinos, não passa dias e dias lesionado no departamento médico. Está em todas. Vá lá que 2010 não tenha sido muito efetivo. Em vez daquele veloz atacante dos tempos de Santos e Cruzeiro, o que vestiu a camisa 99 na Gávea estava lento, pesado e foi comparado a atacantes pavoroso. Foi comparado a atacantes pavorosos que já passaram pelo futebol brasileiro. Virou vítima de piada de programa de tv e recusou vestir a camisa e atestar a gracinha. Mas Deivid tem honra.

Porque o atual camisa 9 do Flamengo não explodiu diantes de nenhuma das provocações e há quase um ano não recebe seus direitos de imagem, a parte mais polpuda dos salários de muitos jogadores. Quieto, Deivid assistiu à torcida pedir Wanderley ou Jael em inúmeros jogos, vaiá-lo em outros, fazer campanha por Adriano e Vagner Love e a diretoria buscar incansavelmente por André. Nada resolveu e Deivid permaneceu no time a maior parte do tempo, sempre bancado por Vanderlei Luxemburgo. De gol em gol, ele foi diminuindo a fúria da torcida, mas nunca deixou de ser alvo de chacotas. Ainda é até hoje. Diante do Cruzeiro, mais uma vez foi fundamental para o Flamengo no Brasileiro. Fez dois gols e chegou a 15 gols em todo o campeonato. Não é mesmo pouco.

Em 2009, Adriano foi artilheiro com 19 gols e marcou alguns de pênalti. Deivid fez todos com a bola rolando, a maioria com um só toque na bola. De atacante veloz dos tempos de Corinthians, Cruzeiro e Santos, demorou até entender que seu corpo não aguenta mais tanta velocidade aos 31 anos. Mudou o estilo. É o atacante de um toque só. Não é nada, não é nada e o camisa 9 já é o vice-artilheiro do Campeonato Brasileiro. Artilheiro do time que tem o melhor ataque da competição. Fez 15 dos 57 gols do Flamengo. Ou 26%. Não é pouco e não há como não ter méritos. Com salário atrasado, achincalhado pela torcida, Deivid nunca levantou a voz, fez gestos ou veio a público reclamar de seu salário atrasado. Pelo contrário. Por vezes exaltou que realiza um sonho ao jogar no Flamengo, seu clube do coração. Deivid não é o maior atacante que o clube já teve. Nunca será. Tem limitações e hoje parecer saber disso. Mas tem couraça forte. Aguenta pancadas, chacotas e salário atrasado. Ainda assim treina, joga e já fez 15 gols no Brasileiro. Sujeito honrado este Deivid. Não é mesmo pouco.

4 de novembro de 2011


O perigoso caminho trilhado por Dinamite

Roberto Dinamite assumiu a presidência do Vasco em meados de 2008. O sorriso simpático, o status de grande ídolo cruzmaltino mudaram a aparência do clube. Mas Roberto queria mais. Logo no primeiro clássico contra o arquirrival Flamengo, sugeriu a Marcio Braga, então presidente rubro-negro, que sentassem juntos para assistir ao primeiro Clássico dos Milhões de sua gestão no Maracanã. Unidos, lado a lado, sem ofensas ou provocações. O mandatário vascaíno argumentou que o gesto simbolizaria não só a paz entre os rivais, mas o início de uma união no futebol carioca. Marcio Braga aceitou a bela sugestão. De lá para cá, não é preciso dizer que os clubes do Rio ressurgiram no cenário nacional com força. Basta observar as campanhas e os títulos. Mas Dinamite, quem diria, parece estar tentado a trilhar outro caminho. Passou a olhar para si e esqueceu, sem mais nem menos, a união pregada em 2008 ao tratar dos clássicos em São Januário.

Que o Vasco tem todo direito de querer jogar em seu belo estádio, ninguém duvida. A maneira como o processo vem sendo conduzido nos últimos dias, no entanto, traz ares euriquistas de volta à Colina. Afinal, o combinado não sai caro. No primeiro turno, com mando de campo de Botafogo e Flamengo, o Vasco jogou no Engenhão. Era a tal união do futebol carioca. Clássicos em um grande estádio, com divisões igualitárias de renda e carga de ingressos para cada clube. Mas o Trem Bala da Colina disparou no Brasileiro. Disputa cabeça a cabeça o campeonato com o Corinthians. O olho vascaíno cresceu. Faz que não lembra o acordo, ignora a palavra dada lá atrás e busca jogar em seu estádio de qualquer maneira. Euriquismo puro. E a torcida, alheia a qualquer tipo de razão, leva faixas e pede os jogos em São Januário. Cenário triste.

Roberto Dinamite deve lembrar que foi eleito justamente para promover novos tempos no Vasco, clube democrático e sensato em suas raízes. O presidente acertou mais do que errou, fez o clube ressurgir de um marasmo cinzento e deu adeus a atitudes truculentas de tempos euriquistas. Ignorar este passado e esquecer o compromisso firmado vai contra o antigo desejo de união pregado logo que a gestão Dinamite chegou ao clube. Não é hora de dar razão a chororôs descabidos de que o Vasco é vítima do preconceito por desejar jogar em seu estádio. Não é. A razão tão bem utilizada por Dinamite ao sentar ao lado de Marcio Braga em um Clássico dos Milhões em 2008 deve servir agora para admitir que, em 2011, há um compromisso firmado. Maurício Assumpção, presidente do Botafogo, lembrou bem ao presidente vascaíno: em relações com pessoas como Roberto, a palavra deve valer mais do que qualquer assinatura. Que assim seja. E em 2012 o Vasco decida ter o apoio da Polícia Militar para mandar seus clássicos em São Januário e seguir no caminho da união do futebol carioca. Afinal, o outro caminho trilhado agora por Dinamite é perigoso. Bobagem maior é seguir em frente nele.

26 de outubro de 2011


A dignidade vascaína

A cruzada vascaína na temporada 2011 no futebol brasileiro deve ser notada com carinho e muita atenção. Não é como outra qualquer. É bem diferente. A Colina pulsa em dignidade. Do torcedor ao atacante. Do porteiro ao presidente. Todos no Vasco dão uma aula de honra às tradições com a busca incessante por todos os títulos que se apresentam pela frente. Após o fim do jejum de taças na Copa do Brasil a sede de conquistas poderia ter sido freada. Pensamento no próximo ano. Mas não. Por que que deixar para depois o que pode ser feito agora? Campeão da Copa do Brasil, líder do Brasileiro e classificado par as quartas de final da Copa Sul-Americana com goleada, o Vasco encanta e dá um tapa de luva de pelica nos rivais.

Seria fácil demais acomodar-se nos louros da até então inédita Copa do Brasil. Nenhum torcedor vascaíno provavelmente reclamaria de uma campanha de meio de tabela no Brasileiro ou de uma eliminação precoce na Sul-Americana. Sim, provavelmente muitos dirão que a fatalidade com Ricardo Gomes impulsionou o Trem Bala a desandar a vencer. Terão razão em parte. Basta olhar a tabela do dia seguinte ao problema do treinador. O time já era o quarto no Brasileiro, apenas dois pontos atrás do então líder Corinthians. O sentimento de dignidade já estava definitivamente implantado. O elenco atual pode não ser tecnicamente tão brilhante como na Era de Ouro, entre 97 e 2000, mas comove pelo coração nas partidas.

Seja com time titular ou reserva, o Vasco atualmente entra em campo para vencer. Pouco importa o que já fez neste ano. Não se esconde, não se acomoda. O grupo parece ter consciência do que o clube representa no futebol brasileiro, sul-americano e mundial. Deseja ser vencedor e não se acomodou com a mesmice de outros campeões. Enquanto na vizinhança Botafogo e Flamengo mostraram desdém e acabaram vítimas de vexame em palco internacional, os cruzmaltinos abocanharam com muitos reservas a vaga diante do Aurora com direito a goleada empolgante. Traz em si o DNA vitorioso de outros tempos. Faz a Colina pulsar como antes. Faz Felipe vibrar como garoto ao marcar um gol que vale liderança. Faz Juninho exercer com maestria seu papel de ídolo e referência. Faz o torcedor ter, de novo, orgulho do clube, do time. É mesmo diferente este Vasco. Não é só grande. Faz jus ao apelido de Gigante. E demonstra para quem quiser ver como é linda a dignidade vascaína.

25 de outubro de 2011


Neymar, o driblador de barreiras

O ziguezague entre os defensores e a leveza com que se desloca em campo não deixam dúvidas que Neymar nasceu mesmo para o drible. É daqueles cometas raros que passam de tempos em tempos pelos campos arrebatando fãs, fazendo-se admirar até por adversários e colecionando momentos inesquecíveis. Tem o dom da bola. Com apenas 19 anos, o garoto prodígio do Santos não se limita a passar apenas por rivais. Com a mesma sutileza com que deixa zagueiros para trás, Neymar tem driblado também barreiras pré-estabelecidas num tradicional mundo do futebol. Ágil, o atacante santista acaba de deixar para trás mais um obstáculo e mesmo jogando em terras tupiniquins está cotado para ser um dos integrantes na lista de melhor do mundo. Provavelmente não será eleito. Mas Neymar prova não bater de frente com barreiras. Ele simplesmente as dribla.

Porque até pouco tempo atrás era impossível imaginar que um brasileirinho jogando cá nessas terras fosse capaz de fazer tamanho estrondo em terras europeias a ponto de integrar a lista dos melhores do mundo. Edmundo só não fez chover em 97, pareceu de outro mundo e nem mesmo citado foi. O sorriso travesso, o moicano reluzente a metros de distância abre portas e deixa para trás convicções de drible em drible, de gol em gol. Aos 19 anos, Neymar da Silva Santos Júnior pôs uma Libertadores da América debaixo do braço e levou o Peixe a uma conquista que ainda não havia encontrado sem Rei Pelé com a camisa 10. É, sem dúvidas, um prodígio. Enquanto a maioria dos boleiros reclama do cansaço, de partida após partida, Neymar pede mais. Desejar estar em todos os jogos, pretende se divertir jogando futebol e assombra a todos como passeia em campo mesmo com 61 partidas nas costas durante a temporada.

Ao passo do encanto da bola, o garoto ainda prova que é possível ser popstar e jogador de futebol ao mesmo tempo. Estrela inúmeras campanhas de marketing, é jurado de torneio de freestyle. Não perde a pose nem o carisma. A cada drible dado no Engenhão no último domingo, o som estridente de gritos de adolescentes era ouvido no estádio. Ele ria. Fez gol e, com as mãos, o gesto de um coração. Neymar não é odiado. É admirado. Por vontade própria, disse que povo que ficaria por mais um tempo. Sente-se feliz aqui, em sua terra. E mesmo assim concorrerá ao prêmio de melhor jogador do mundo. Como será possível, perguntam os europeus. Pois é. Diante dos olhos de todos, Neymar faz história. É o driblador de barreiras.

18 de outubro de 2011


Um beijo em Rafael Marques

Não direi aqui que sou amigo do peito de Rafael Marques. Certamente não sou. Talvez apenas mais um companheiro de trabalho, do tipo com o qual só esbarramos no dia a dia corrido da profissão. No intervalo de um jogo, antes de um treino ou apresentação de um jogador. Mas de todos os bons momentos que já vivi na carreira, em um deles tive a especial companhia do Rafa. 21 de junho de 2010, em Bloemfontein, África do Sul. Eu mal tinha desembarcado na cidade para o último confronto do Grupo A da Copa do Mundo, entre os Bafana Bafana e a França. No centro de imprensa do Estádio Free State, sigo para buscar meu ingresso para a partida. Enquanto procurava um assento entre os centenas de jornalistas presentes, noto uma mão balançando no ar, efusiva. Era Rafael. Logo levantou, me abraçou e tascou-me aquele beijo fraternal que lhe é característico. Senti-me mais em casa. Com um sorriso de orelha e orelha e em meio à história de sua difícil logística até chegar ao estádio, percebeu que ainda não tinha conseguido um ticket para a coletiva de Carlos Alberto Parreira, treinador da África do Sul, logo após o jogo. Como estava atarefado gravando boletins para a Rádio Globo, pediu-me para buscar um para ele, o que fiz com prazer. Ao fim daquele dia, nos despedimos e marcamos de nos vermos antes do jogo, no início da tarde seguinte.

Dito e feito. Cheguei ao Free State cerca de três horas da partida, escolhi meu local junto a outros jornalistas brasileiros e minutos depois vi Rafael entrar. Sorridente, brincalhão, espalhando beijos aos conhecidos e, como diriam os boleiros, exalando satisfação em estar ali. Saímos, então, eu e ele para percorrer os arredores do estádio e conversar com torcedores da França e da África do Sul. Ali, naquele caminhar, me emocionei com Rafael. Em meio ao frenesí de uma cobertura de Copa do Mundo, ele conseguiu fazer com que eu parasse por um instante e entendesse onde estávamos. Rafa falava da carreira, do início, de como planejava o futuro, até quando gostaria de ser repórter de clube. Mencionava com saudade a família, a esposa e, principalmente, a filha, a quem atribuía um milagre diário ao acompanhar seu crescimento. Em meio ao mar de torcedores sul-africanos e franceses, Rafael me fez rir ao abordar quase todos, esbaforido, pedindo que posassem para um vídeo que ele postaria mais tarde no site da Rádio Globo. A garotas sul-africanas, pediu que cantassem "Shosholoza". A três franceses, pediu que entoassem "La Marseillaise", o belíssimo hino francês. E nós dois, felizes bobos, ríamos do que presenciávamos. "É minha primeira Copa do Mundo, Pedro. Imagino também que seja a sua. Vamos rir. Vamos chorar. Grave este exato momento, essa atmosfera e lembre do quanto fizemos muito para chegar aqui. Somos privilegiados", disse Rafael. Palavras que, garanto, nunca vou esquecer.

Após aquele breve momento de um turbilhão de emoções, voltamos ao centro de imprensa e depois fomos ao jogo. De volta ao Brasil, encontrei Rafael algumas vezes, dentro e fora do exercício diário da imprensa esportiva. Sempre fui recebido com um efusivo abraço e o beijo que quem o conhece sabe como é característico. Na última semana, soube que Rafa esbarrou em uma daquelas armadilhas que a vida nos proporciona. Aos poucos, pelo que acompanho, felizmente ele vem derrubando barreira por barreira. Não deixei de rezar um dia por ele e sua recuperação desde então. Não deixei de pensar nos planos que ele me relatou naquela tarde em Bloemfontein. Em seu mar de palavras, Rafael me fez entender como devemos apreciar certos momentos e entender tantos outros. Às vezes eles duram só minutos. Só segundos. São raros e passam. E nos tornam mais fortes. Rafael é um cara que vive pelo esporte, pelos amigos, pela família, pelas paixões. Esbanja gentileza e sinceridade. Não conheço uma só pessoa que não goste do Rafa e acompanho com satisfação a imensa onda de carinho que ele recebe. Merecidíssimo. Torço muito para que você saia dessa, Rafael. Estamos todos esperando pelo seu abraço. Um beijo, rapaz. Força.

16 de outubro de 2011


O bobo futebol de mocinhos


Futebol é, antes de mais nada, um esporte de contato físico. Muito, diga-se. Natural que no calor da partida um jogador troque um mero empurrão com outro, olhe de cara feia. Vida que segue. É do jogo. Na partida entre Ceará e Flamengo, no Estádio Presidente Vargas, Ronaldinho e Heleno acabaram expulsos pelo árbitro André Luiz Freitas Castro. A justificativa? Trocaram agressões. Chocante. Reveja a cena da disputa entre os jogadores. A bola é lançada para o Gaúcho. Heleno toma a frente, levanta os braços e joga as costas em direção ao camisa 10 do Flamengo. No revide, Ronaldinho o empurra e dá um leve chute por baixo. Os dois jogadores saem andando. Não houve briga, não houve consequência. Ninguém reclamou. Não houve agressão. Mas o cartão vermelho é exibido pelo árbitro, de peito estufado como se fosse um verdadeiro defensor da ética moral e dos bons costumes. Patético.

Ronaldinho e Heleno em momento algum trocaram agressões. Se alguém diz isso, mente. Mas o futebol, como grande parte do mundo, foi tomado pelo bom mocismo. Empurrãozinho não pode. Chutezinho na canela é motivo para expulsão. Bacana. O que dizer, então, das cotoveladas desferidas por Kleber, do Palmeiras, em adversários? E Airton, do próprio Flamengo, que já cansou de pisar em adversários e distribuir cotoveladas? Merecem, então, ser banidos do esporte. No mínimo. A lógica do velho esporte bretão anda invertida. Agressão é agressão. Merece e deve ser punido com expulsão e, posteriormente, até mesmo gancho. Vale para cotoveladas propositais, chutes no meio do corpo, entradas criminosas, socos, voadoras e afins. Tudo isso é agressão. O que houve entre Ronaldinho e Heleno não foi.

Mas o mundo hoje parece ser formado por pessoas sorridentes, apresentadores de televisão que são amigos de todos, mocinhos do bem em que nada fora da conduta é permitido. Abra jornais e sites com reportagens sobre a partida. "Ronaldinho e Heleno foram bem expulsos, trocaram agressões". É de rir. Ou chorar. Não há uma análise, a intenção de mostrar ao leitor ou espectador que o que árbitro passou da conta no episódio. Melhor ir, mesmo, pelo senso comum do bom cismo do mundo repleto de adoradores de João Sorrisão. Tivessem os dois jogadores recebido cartão amarelo, a partida seguiria normalmente, os torcedores seriam brindados com um bom jogo de futebol. Mas não. Hoje vale o bom mocismo. Empurrãozinho, um chutinho não merece advertência. Deve ter o mesmo peso de um soco, uma cotovelada. Para os polianas do futebol, o ideal deve ser tornar o esporte um novo vôlei. Jogadores de cada lado, uma rede no meio, sem contato físico. E um poço de hipocrisia no bobo futebol de mocinhos.

27 de setembro de 2011


Fla não deve deixar o bonde passar

Pergunte nas esquinas qual o craque do Campeonato Brasileiro até agora. Dificilmente nas respostas o nome de Ronaldinho não será mencionado. As belas jogadas, os gols, o fino trato da bola e o carisma dos dentes salientes ainda encantam o mundo. Mesmo na Seleção Brasileira, o veterano é cercado por fãs em busca de autógrafos, fotos ou um sorriso. Seu nome é gritado com insistência. Em seu camisa 10, o Flamengo tem um craque capaz de proporcionar uma retomada do clube na escala dos gigantes e alcançar patamar internacional. A possibilidade de marcar uma era recheada por conquistas dentro e fora de campo e arrebatar ainda mais torcedores, ampliando a vantagem nacional. Falta o clube rubro-negro acordar para isso.

Em 95, o Flamengo teve em suas mãos o então melhor jogador do mundo. Até hoje, Romário, à época no Barcelona, é reverenciado como a maior contratação do futebol nacional. Aos 28 anos, o Baixinho chegou à Gávea para o centenário do clube. Uma nova era se aproximava. Um pool de empresas havia ajudado na contratação e o marketing alçaria o Flamengo a uma das maiores potências do mundo dos negócios do futebol. Mas as teorias não corresponderam à realidade. Em campo, Romário sobrava como sempre. Até hoje mantém a melhor média de gols da história do clube. Eram gols, belas jogadas, mas...apenas um título estadual e, vá lá, uma Copa Mercosul foram conquistados com a ajuda do atacante. As vendas das camisas 11, aliás, explodiram. Mas foi só. Não houve ações de marketing efetivas para valorizar a imagem do clube no embalo de Romário.

O tempo passou, o Herói do Tetra ficou mais lento dentro de campo, o apelo de sua imagem diminuiu e, pasmem, ele chegou mesmo a grandes conquistas pelo arquirrival Vasco. A chance de ouro batera à porta do Flamengo e o clube insistiu em não perceber. O projeto com Romário era grandioso dentro e fora das quatro linhas. A geração do Baixinho no Fla poderia ter sido marcada por conquistas como Brasileiro, Libertadores, Mundial, recorde de bilheterias, venda de produtos licenciados. À altura do craque. Nada. Agora, novamente o cavalo encilhado bate à porta do Rubro-Negro.

A imagem de Ronaldinho é mundialmente mais midiática do que foi a de Romário. Em campo, o camisa 10 desfila talento ainda com 31 anos, mas por vezes parece uma só andorinha. Quase nove meses após sua chegada, quase nenhum produto de R10 foi licenciado. Nem um boneco para os torcedores. Em campo, o clube foi campeão estadual e já observa o título brasileiro escorrer pelos dedos. Muito pouco para quem tem um Ronaldinho. É hora de o clube rubro-negro acordar. Antes que o ímpeto do craque diminua em campo com a idade. Antes que sua volta ao Brasil não seja mais tão impactante. Antes que o bonde R10 passe à sua frente como passou o de Romário.

26 de setembro de 2011


O direito de dizer não

O queixo da maioria dos comentaristas e boleiros despencou. Mário Fernandes, jovem lateral e zagueiro do Grêmio, ousou dizer não para a Seleção Brasileira. Aos 20 anos, ainda uma promessa, o gremista teve a coragem que muitos medalhões não têm mesmo após anos de experiência no mundo da bola. Não rumou para Belém, onde encontraria os companheiros, vestiria a camisa amarela e enfrentaria a Argentina em uma partida sem valor algum. Por contrariar o sagrado e questionável mandamento de servir à Seleção, Mário sofre com críticas de todos os lados. Compreensível, mas não aceitável. Afinal, Mário Fernandes tem o simples direito de dizer "não, obrigado" a Mano Menezes e sua trupe amarelinha.

Na bíblia dos moralistas de plantão, a atitude do lateral gremista é altamente perigosa. Colocará em risco sua carreira, a possibilidade de vingar no futebol e deve até mesmo nunca mais ter uma chance de vestir a camisa da Seleção. Mas quem disse, cara-pálida, que o sonho de todo jogador de futebol é exatamente vestir a camisa da Seleção Brasileira? Mário Fernandes e outros estão aí para provar o contrário. O sonho do lateral pode ser o de fazer história no Grêmio, depois rumar para o futebol europeu e ter estabilidade financeira. Seleção? Talvez em algum momento. Mas sem essa necessidade de se envergar a um desejo que muitos imaginam ser coletivo. Não é. Mário Fernandes possivelmente ficará rotulado pelo resto da carreira como o jogador que decidiu dizer não à Seleção. Um absurdo, um acinte, muitos dirão. Dois pesos, duas medidas.

Pois Muricy Ramalho em 2010 decidiu permanecer no Fluminense por motivos que só ele bem soube compreender. Foi tachado como "de muita personalidade", "um técnico sério, que não se curva à CBF". Muricy teve o seu direito de dizer não. Mário Fernandes, agora, parece tolhido de qualquer possibilidade. Talvez por ser garoto. Talvez por não ser um professor. E já sofre com o peso de sua decisão ao ser chamado de louco, irresponsável ou inconsequente aos quatro ventos. O que acontecerá com a carreira dele só mesmo o tempo poderá nos dizer. O gremista não é louco, inconsequente ou traidor da pátria. Mário Fernandes, simplesmente, tem o direito de dizer não.

23 de setembro de 2011

Precisam-se de Locos

Ser ídolo no futebol é para poucos. Muitos tentam, com e sem os pés. Dentro e fora de campo. Mas não basta. Tem de ter espírito. O dom. Nascer com ele. Sebastián Abreu é assim. Excêntrico por si só, foi logo tachado de Loco no início da carreira. Nasceu, então, Loco Abreu. Muitos o acusam de ser caneleiro, fanfarrão. Às vezes até é. Mas o camisa 13 do Botafogo é muito mais do que isso. Loco nasceu para ser ídolo. Parece ter sido talhado para tal personagem. Com seu estilo irreverente e sua sina de decisivo, ganha mais admiradores, alvinegros ou não.

Não são apenas gols, belos dribles e títulos que tornam um jogador de futebol um ídolo de verdade. É a maneira como se porta, a presença nos momentos decisivos, a capacidade de capitanear a mudança no espírito de um clube. Loco Abreu, no Botafogo, é assim. Esqueçam aquele Alvinegro do chororô de 2008. O uruguaio da camisa 13 jamais permitiria algo assim. Pelo contrário. Ele provoca o rival e faz o gol com cavadinha, pondo fim ao jejum em finais. Lava a alma do botafoguense. Em campo, luta como muitos, consegue ser decisivo como poucos. Aprendeu rapidamente a língua falada em General Severiano. Coisa de Loco.

Diante do Grêmio, no Olímpico, mais uma vez foi assim. Loco Abreu gritou, chiou, esperneou, reclamou e chutou. Foi a Estrela Solitária encarnada, decidiu o jogo num facho de luz, rumo à estrada dos louros. Não é pouco. O Botafogo hoje tem Elkeson, Renato, Cortês, Jefferson. Mas ninguém entende tanto a torcida, o espírito do clube como Loco Abreu. Em um futebol tão vazio em declarações, provocações sadias, lá está o Loco para mostrar o porquê de ter luz própria. Garante que chegou ao clube para vencer o arquirrival Flamengo. Dias depois, marcou gol nos rubro-negros. E não ficou por aí. Cruzou os braços, posou para as câmeras e debochou da comemoração tradicional do ícone do rival, Ronaldinho Gaúcho. Não é mesmo pouco. Sorte do Botafogo. Que bom seria se o futebol tivesse mais personagens como esse. Precisam-se de mais Locos.

11 de setembro de 2011


Hora da chacoalhada

É preciso dar uma chacoalhada. Não, não. Você, torcedor rubro-negro, permaneça em casa durante a semana, acompanhe o noticiário por jornais e tv, e proteste, se for o caso, apenas no Engenhão no próximo domingo contra o Botafogo. Nada de treinos, cobranças exageradas durante a noite com direito a caso de polícia. Bobagem. Isso é apenas futebol. Mas é necessária, sim, uma boa mexida no Ninho do Urubu por Vanderlei Luxemburgo. Natural e compreensível que o treinador tenha defendido até agora a presença de medalhões no time rubro-negro. Até agosto, o time havia disputado pouco mais de 40 partidas e, pasmem, perdido apenas uma. Mas o fio virou. De vez. E talvez só acorde com uma boa sacudida.

A culpa de Luxemburgo, ironicamente, recai na insistência com alguns jogadores. Não há motivo algum para perseguição pessoal. Mas na vida e, principalmente, no futebol, caso você esteja em má fase continuamente a tendência é que haja uma substituição. Você, torcedor rubro-negro, irá berrar aos quatro cantos que Galhardo pode não substituir Léo Moura com a mesma categoria na camisa 2. Mas às vezes é um simples momento. Uma mudança com direito a conversa nos bastidores do CT rubro-negro. E deixar claro que o que interessa para todos ali, claro, é o Flamengo na disputa do título, algo que deixou de ser real.

É visível que Léo Moura parece ter perdido o fôlego em alguns meses. Thiago Neves não vem bem desde que foi cortado na lista de Mano Menezes na Copa América. Willians anda meio perdido com a ausência de Airton no meio de campo. Ótimos jogadores e até certo ponto normal que passem por má fase. Mas quando muitas peças de uma só equipe desandam a jogar mal é preciso mexer. Sem drama, sem bico, sem mimimi. Talvez apenas uma resolva. Talvez sejam necessárias quatro. É tarefa de Vanderlei Luxemburgo tentar encontrar razões para que o time despenque de maneira tão assustadora da tabela em tão pouco tempo.

Demitir o técnico é bobagem. Quem irá substituí-lo? Olhe o mercado, veja o trabalho já realizado até aqui. Não há sentido. Assim como parecem ser baboseira as teorias que apontam os jogadores como vilões por se rebelarem contra o trabalho de Luxa. Contra o Atlético-PR, o time se esforçou, correu, deu carrinho e até começou bem. Mas as fases tática e, principalmente, técnica são muito ruins. O chute sai torto, a bola que era tocada de maneira macia agora recebe um golpe que a faz viajar no espaço e pouco ajudar para mudar o placar a favor. São oito jogos sem vitória. De segundo para sexto. A tendência, sem alguma mudança, é daí para baixo. Por isso, sem desespero, com muito papo e talvez algumas mexidas, é hora de o Flamengo sofrer uma chacoalhada. Para aí, quem sabe, despertar do sono que vive no Brasileiro.

Por que não, Flu?

Parecia um ano fadado ao fracasso desde a saída de Muricy Ramalho e o polêmico episódio do rato nas Laranjeiras. Mas o Fluminense demonstrou força de campeão. Após a quase interminável sequência de péssimo resultados, lá está o Tricolor beliscando a ponta da tabela. Ainda são seis pontos de diferença para o líder Corinthians. Verdade. Mas o Flu de Abel Braga já se acostumou à subir ladeira depois de quatro vitórias consecutivas. Candidato fortíssimo à Libertadores e, mais para frente, até mesmo pela taça.

Em um campeonato tão parelho como é o Brasileiro, um time com bons valores como o Fluminense deve sempre disputar o topo da tabela. Pois foi só Mariano voltar a ser veloz como em 2010, cheio de vontade, o menino Lanzini ser descoberto para levar a equipe à frente e Fred e Rafael Moura, um dos dois, se acostumarem a fazer gols para o time iniciar a subida na tabela. Abelão sabe que o que tem em mãos não é de pouco valor. Tem um bom time, um bom elenco. Talvez não a ponto de ser indicado como um dos favoritos a mais um caneco nacional. Mas o Fluminense atual tem pedigree de campeão brasileiro. E isso pode ser decisivo em uma reta final.

Muricy passou, mas deixou nas Laranjeiras o know-how do campeonato. Apesar de a grande referência de 2010, Conca, ter ido embora, muitos outros jogadores ainda vestem o manto tricolor. Leandro Euzébio, Mariano, Carlinhos, Diogo e até o próprio Gum estão lá. Sabem o que fazer no momento mais difícil, qual partida pode ser preponderante na contagem final de pontos em dezembro. Mais do que isso, o Flu tem um elenco para se apoiar. Souza, Ciro, Rafael Sobis, Rafael Moura, Diguinho, quando recuperado, são ótimas opções no entra e sai sem fim que o Brasileiro proporciona. Por isso, o Tricolor das Laranjeiras está vivíssimo na briga pela Libertadores. Se voltar a contar com o embalo da torcida, famosa pelas belas festas e incentivos, e mantiver o espírito vibrante na partidas, vai em busca do segundo título consecutivo. Ainda dá tempo, sim. É só acreditar. Por que não, Flu?

10 de setembro de 2011


Respeitem o Ricardo

Diante da cena dramática de Ricardo Gomes com parte do corpo paralisado no banco de reservas do Vasco e, posteriormente, de seu comprovado grave estado de saúde, é natural e legítimo o interesse que ronda o técnico vascaíno. A comoção em abundância, no entanto, passou. Sem dó nem piedade, muita gente pouco se importa em perceber quão delicado é o momento. Especulações de nomes para o cargo de Ricardo Gomes aparecem mais do que os milhões de euros para levar Neymar para o futebol europeu. São ofertas, desmentidos, boatos e nenhum bom senso nas consequências do que palavras e imagens ao vento podem causar a Ricardo e sua família.

Por diversas vezes, o Vasco se pronuncia. Não está pensando, não pensa e não tem interesse em trazer no momento um substituto para Ricardo Gomes. Até porque a principal cabeça que pensava ao lado do treinador em São Januário está à beira do gramado: Cristóvão Borges, seu fiel auxiliar. Mas o apetite pela fome e pelos boatos é insaciável. Dane-se o Vasco dizer não ter interesse em substituir o técnico agora. Parece valer levantar a polêmica ao afirmar que o clube deveria fazê-lo o mais rápido possível com o argumento de não perder a chance de título do Campeonato Brasileiro. Pois bem. Pergunte a cada jogador vascaíno, à maioria dos torcedores que carrega a cruz de malta no peito se o sentimento não aumentou ainda mais com o drama do treinador. Claro que gostariam de levar a taça em homenagem a ele, figura correta, querida e respeitosa no sujo meio da bola. Mas sem ninguém em seu lugar. Pelo menos até o fim da temporada.

Caso Ricardo Gomes seja aconselhado por médicos e família a não continuar a carreira de treinador, a discussão sobre um novo nome para o cargo será válida. Já com ele fora do hospital e de perigo, talvez até com um novo cargo oferecido pelo clube. Mas por enquanto não é. Ricardo Gomes merece mais consideração agora do que nos dias em que esteve à beira do gramado com o agasalho vascaíno. Internado em um hospital, lutando a cada dia para voltar a viver sem sequela alguma, ele emociona multidões com a simples informação de que retribuiu a declaração de amor do filho. Maldade pensar, de maneira mesquinha, que alguém cogitaria substituí-lo por agora. Não vale. No oceano das especulações, até qualquer lucidez é perdida com jornais que estampam em sua capa uma foto do técnico entubado no hospital. Deveriam repensar a consequência. Não pelos leitores, não pela profissão. Por humanidade. Por favor, respeitem o Ricardo.

8 de setembro de 2011


Pensatas de um (provável) jogão

Corinthians e Flamengo podem até não fazer o jogo pela liderança que chegou a ser qualificado como a velha bobagem de final antecipada há dez dias. Mas não deixa de ser um jogão que se anuncia no Pacaembu. Importante, tenso e talvez até um divisor de águas para cada equipe. Sim, pois tanto o time de Tite como o de Vanderlei Luxemburgo estão com a água no pescoço diante de tantos desleixos ultimamente. Pau a pau na tabela desde o início do campeonato, os dois clubes mais populares do Brasil voltam a se encontrar justamente quando estão em declínio e a turma de baixo já os passou na tabela ou os ameaça cada vez mais. Difícil fazer um prognóstico sobre quem sairá sorridente hoje à noite em São Paulo. Mas a balança pende um pouco lado o corintiano por uma série de fatores que se apresentam.

Tite, por enquanto, não conta com desfalques. Pelo que armou durante os treinamentos do Timão durante a semana, ele promete explorar ao máximo as deficiências de um Flamengo debilitado com algumas baixas. Pois vejamos. A simples troca de Danilo por Alex evidencia a opção por velocidade no meio de campo. Opção ainda mais escancarada com um ataque formado por Jorge Henrique e Emerson, nas pontas, e um Liedson mais centralizado, mas em movimentação contínua. Do outro lado da trincheira, Vanderlei Luxemburgo terá trabalho. Airton, seu cão de guarda, faz muita falta. Com as passagens dos atacantes corintianos pelas laterais, Léo Moura e Junior Cesar terão trabalho extra na marcação e pouco poderão se dedicar à parte ofensiva. Ao abrir a marcação rubro-negra, a zaga carioca ficará mais exposta às ofensivas de Alex, além de Ralf e Paulinho. Daí, provavelmente, a opção de Luxa por Welinton na defesa e sua velocidade. Afinal, Maldonado, sem ritmo de jogo, estará na proteção à zaga.

Com o jogo aberto e o Flamengo atacado, a aposta terá de ser em uma rápida saída no contragolpe com Ronaldinho e Thiago Neves pelos lados. Difícil aí é contar com a eficiência de Deivid para transformar chances que provavelmente serão raras. A outra opção rubro-negra recai no velho sistema de jogo que apresentou em bons momentos no Brasileiro: a farta troca de passes para cansar o adversário e achar a brecha. Mas com uma marcação mais ferrenha do Corinthians com Ralf, Paulinho e companhia em um Pacaembu em ebulição, manter o controle da partida parece muito improvável. Salve aí um Ronaldinho em dia inspiradíssimo como diante do Santos, a tarefa será muito difícil para o Fla. Mas igualmente importante para o Corinthians. Quem perder o jogão começa a se complicar de verdade na luta pela parte de cima. Nem tanto pela pontuação, mas pelo momento. Será um duro baque. Mas vale esperar o jogo do Pacaembu.

7 de setembro de 2011


A nova Estrela Solitária

Difícil não prestar atenção neste Botafogo que brilha intensamente no Campeonato Brasileiro. Está leve, livre, muito solto dentro de campo. A sorte sorri ao time, à torcida. Tudo parece dar certo. Mas nem parece, mesmo, o Botafogo de outros tempos. E nem faz tanto tempo assim. Mais do que um time, era um clube que sentia-se inferiorizado com erros de arbitragem. Ganhou apelido de chororô no épico episódio da Taça Guanabara de 2008 contra o Flamengo. Tinha certeza de que era perseguido. A mudança passou por um nome: Maurício Assumpção. Discreto, de fala pausada e sem o ar pedante que costuma cercar os cartolas brasileiros, ele assumiu o Botafogo e lhe deu outra cara.

O processo, claro, não seria fácil e muito menos rápido. Lá se vão quase três anos desde que a atual gestão assumiu o Glorioso. Maurício Assumpção soube se portar. Por mais que tenha sido prejudicado por arbitragens como qualquer outro clube, o Botafogo deixou de espernear, dar chiliques ou protagonizar o chororô. Maurício preferiu a discrição. Fez os alvinegros se conscientizarem de que o clube é maior do que erros de arbitragem. Bastaria um trabalho bem feito. Nada das bravatas da época de Bebeto de Freitas, que deixavam os nervos dos corredores de General Severiano a mil. Maurício Assumpção é político, soube se aproximar da CBF sem desgastar a imagem, a ponto de ser chefe de delegação de um amistoso da Seleção Brasileira. Simultaneamente, estruturou o departamento de futebol. E reformulou o time.

Nem mesmo mais uma derrota para o Flamengo, em 2009, o desanimou. Um ano depois trouxe Loco Abreu, deu garra uruguaia ao time e força necessária para derrubar o algoz rubro-negro no Estadual. No Brasileiro, campanha digna. Neste ano, o Botafogo causou desconfianças. Mas Maurício Assumpção, sempre calmo, avisou que teria time para disputar o título brasileiro. Muitos, incluído aí este blog, desconfiaram das palavras de Assumpção. Mais uma vez, ele mostrou ser diferente. Em silêncio, trouxe Renato, do Sevilla. Na queda de braço com o Fluminense e seu cofre, levou Elkeson. Em momento de incerteza, segurou Caio Júnior no comando. Hoje, o Botafogo brilha e o time joga o fino. Está, sim, na briga pelo título após muitos anos. É mais um degrau. Graças a Maurício Assumpção, a Estrela Solitária tem outra cara.

6 de setembro de 2011


A palavra de Abelão

O primeiro Brasileiro de pontos corridos já estava a pleno vapor em 2003 quando 13 jogadores resolveram deixar a Ponte Preta. Nove tinham um motivo: salários atrasados. No comando de um navio que parecia fadado ao naufrágio chamado rebaixamento, saltou aos olhos a atitude de Abel Braga. Campeão pelo Vasco, respeitado no futebol francês e bem resolvido financeiramente, Abelão tinha tudo para pedir o boné. Não pediu. Perguntado sobre o porquê de seguir na luta mesmo com sondagens de outros clubes, o treinador garantiu que deveria cumprir a palavra de deixar a Ponte Preta na Primeira Divisão. Poucos levaram fé na permanência dele no clube e da Ponte Preta na elite do futebol brasileiro. Pois o treinador cumpriu sua palavra.

Por isso, não é de se estranhar que Abel Carlos da Silva Braga tenha cumprido sua palavra mais uma vez no Fluminense. Possivelmente um caminhão de dólares para comandar a seleção dos Emirados Árabes lhe seduziram. Mas o fato é que Abelão disse não. Era sua obrigação com um clube que o aguardou pacientemente por três meses, abrindo mão talvez até do restante da temporada e sob uma chuva de críticas, fossem elas justas ou não. O Fluminense não merecia uma traição de Abel, que vez em outra jura amores pelas três cores que traduzem tradição. Mas bastava olhar o histórico do treinador para saber que ele manteria, sim, a sua palavra. O estilo de Abel é cada vez mais raro no meio boleiro sujeito a piores decisões.

Abel é ao mesmo tempo profissional e amador. Profissional porque mesmo que admita ser tricolor não se furtou de comandar o rival Flamengo em 2004. Amador porque à beira do gramado o treinador parecia ser rubro-negro de carteirinha. Como foi pontepretano. E, claro, colorado, com o título mundial em 2006, sua consagração. Seja de agasalho vermelho, rubro-negro, tricolor ou alvinegro no banco de reservas, é daquelas raras figuras que não mudam de comportamento de acordo com o clube. Abel é Abel. Sempre. Xinga, berra, vibra, desanima de acordo com os resultados da camisa que veste. Geralmente, vai até o fim. É a palavra de Abelão.

5 de setembro de 2011


Bonde em xeque

Algo parece ter saído dos trilhos no Ninho do Urubu. Não só pelas últimas atuações desastrosas da equipe no Campeonato Brasileiro. É de se estranhar o tom das, digamos, conversas públicas depois da derrota para o Bahia. Angelim dispara a favor de Welinton, barrado por Luxemburgo. Talvez sem perceber, atropelou Gustavo sem dó nem piedade. Minutos depois, o técnico dispara ao ser perguntado se o time jogou mal: "Mal, não. Foi péssimo. Péssimo!". Curioso. O badalado Bonde sem freio que embalou no Brasileiro capitaneado por Ronaldinho parece estar em choque com si mesmo. Seis partidas sem vitórias. Três pontos em 18 disputados. Mas, afinal, há algo de podre no Reino do Ninho do Urubu? Talvez.

Não só a crise de flatulência que, de acordo com rádios e sites, foi o estopim para uma discussão entre o treinador e comandados. Ingênuo acreditar que uma brincadeira infeliz como essa, tão comum em ambiente boleiro, seria suficiente para tirar o Bonde dos trilhos. O fato é que por motivos de campo ou extracampo, o Flamengo está perdido no Brasileiro. Pior, sem reação. Não é apenas a ausência de Airton que tornou a defesa tão desprotegida. O Fla das últimas rodadas parece não vibrar tanto para vencer uma partida como se acostumou a fazer nos bons momentos do primeiro turno. Está confuso mesmo com Ronaldinho, seu craque, em campo. Um desperdício. Difícil entender a vocação rubro-negra para a autogênese das crises. Mas em alguma esquina do Ninho do Urubu algum episódio sempre se apresenta para ameaçar a caminhada da equipe nos trilhos.

Em 2009, Adriano alegou ter pisado em lâmpada e desfalcou o time contra o Corinthians na penúltima rodada. A campanha do hexa poderia ter se desestabilizado. Mas foi contornada. Impossível dizer se agora o Fla terá a mínima tranquilidade para bater o Timão no Pacaembu, na quinta, e voltar com força máxima para a disputa do título. Diante do quadro, a tendência é mesmo de que os rubro-negros fiquem pelo caminho uma vez e vejam na Terra da Garoa o título ficar ainda mais distante. Mais uma vez, o Flamengo parece brigar com si. Os rivais, de longe, agradecem por ver tamanho gigante tropeçando nas próprias pernas, ainda mais com um gênio do quilate de Ronaldinho em boa fase. O Bonde está em choque. Mas também em xeque.

3 de setembro de 2011


Felipão: ame-o ou deixe-o

O estilo general e a cara de rabugento podem dar a Luiz Felipe Scolari o ar de ultrapassado. Para muitos, não deveria mais estar ali. A época já passou. Mas ele resiste. Agasalho verde à beira do gramado, Felipão faz caras e bocas, berra pelo Palmeiras e defende o clube com unhas e dentes. Provavelmente um dos primeiros argumentos contrários ao técnico será "ele ganha muito para isso". Para treinar o Alviverde imponente, sim, Felipão recebe um pomposo salário. Além do currículo para justificá-lo, o trabalho com o limitado elenco que tem em mãos é bom desde 2010. Mas Felipão vai além das fronteiras de técnico.

Scolari veste sempre a camisa do clube ou seleção que comanda. Foi feroz com a Seleção Brasileira em 2002 e quase saiu literalmente no tapa no comando de Portugal. Em clubes, não é diferente. Compra briga com empresários, dirigentes e até jogador se for necessário para defender os interesses do clube. No Palmeiras é assim. Chia, resmunga e por muitas vezes sai até do tom. Mas o técnico parece mesmo uma fera selvagem em defesa da cria. Que ninguém tente debochar do Palmeiras, pois ele dará a resposta. Fez isso com Lincoln, ex-jogador do Verdão e hoje no Avaí. A resposta foi curta e grossa, à la Scolari. E lembrou ao apoiador que o Palmeiras paga parte do seu salário. Alma do torcedor lavada.

Luiz Felipe Scolari não tem mais necessidade de ficar na batalha campal do dia a dia do futebol. Está consagrado em seleções e clubes. É respeitado e se faz respeitar quando necessário. Volta e meia, como na última semana, declara estar de saco cheio. Pode até estar. Mas difícil vê-lo abandonando o futebol assim, de repente. Felipão gosta da peleja e tem seu jeito próprio. Resmunga, faz careta e passa até dos limites ao partir para cima de um fotógrafo que o tenta registrar sob suspensão. Mas pouco teriam paciência para lidar com o vaivém infantil dos bastidores políticos do Palmeiras e com a limitação da equipe. Scolari ainda tem. Aos poucos, leva o Verdão a um papel digno. Entre bravatas e competência, defende a torcida alviverde. Este é Felipão. Este será sempre Felipão. E não mudará. Ame-o ou deixe-o.

1 de setembro de 2011


Fora de série extracampo

Em meados dos anos 2000, Romário começou a flertar com a política. Filiou-se a partido, mas garantiu que não seria nada demais. Mas a veia política do Baixinho começou a saltar. Na caminhada pelo milésimo gol, em 2007, sensibilizou muita gente ao discursar no Congresso a favor dos portadores da Síndrome de Down, como Ivy, a filha que levava ao colo no discurso. Emocionou-se e decidiu, então, lutar por alguns direitos de maneira enfática. De terno e gravata. Ali, o futebol brasileiro viu o nascer de um fora de série extracampo.

Romário não tem papas na língua. A vida financeira é estável, o talento dentro dos gramados inegável e o prestígio de ser um dos melhores do esporte na história, inabalável. Eleito deputado federal, o Baixinho deu um bico na vida sossegada e pôs-se a desafiar os desmandos de quem faz o que quer com o dinheiro público. Assessorado por uma boa equipe, o ex-atacante fiscaliza, cobra e põe a boca no trombone contra descasos de obras da Copa, convoca o todo poderoso presidente da CBF para prestar esclarecimentos sobre orçamentos do Mundial de 2014. Poderia ser demagogia. Mas o Baixinho não é disso. E paga o preço.

Lembre do pomposo sorteio para as eliminatórias da Copa realizado no Rio de Janeiro. Ronaldo, o bacana amigo da Casa Brasileira do Futebol, estava lá, pimpão e rechonchudo dentro de um terno e com a mão girando em um pote recheado de bolinhas. Nunca o Fenômeno esboçou qualquer crítica contra absurdos como a isenção do Itaquerão, os saltos orçamentários da nababesca obra no Maracanã. Romário não estava na festa. Heroi do Tetra, foi deixado de lado justamente por estar ao lado do povo que o elegeu. Tem poder político para contestar e legitimidade de um ídolo para chamar atenção para qualquer episódio. Faz-se valer da maravilhosa era das redes sociais, onde encontrou um palanque extremamente efetivo para expôr sua opinião.

Com o mesmo ímpeto com que partia para cima dos zagueiros, ele pergunta de quem é a responsabilidade sobre as comidas estragadas dos funcionários do Maracanã e discursa sobre as desapropriações em comunidades para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Romário é cria da comunidade do Jacarezinho, no Rio, e parece lembrar das dificuldades que passou na infância. Genial como sempre foi dentro dos gramados, o eterno camisa 11 da Seleção Brasileira mostra que a tarefa de servir a pátria lhe cai mesmo muito bem. E entre os boleiros do Congresso, destaca-se na luta por fugir da pasmaceira e dar a cara à tapa. É, sem dúvidas, um fora de série também extracampo.

30 de agosto de 2011


Por Leonardo André, jornalista e assessor de imprensa do departamento de futebol do Flamengo

Há alguns anos, eu achava essas peladas de profissionais de imprensa contra ex-jogadores e/ou integrantes da comissão técnica dos clubes algo muito legal. Foi em um desses eventos que conheci Ricardo Gomes. Sem saber que o meu futebol não mete medo em marcador algum, ele logo mandou o recado quando viu que eu jogaria de atacante: “Não apronta correria para cima de mim, respeita a minha idade”. Eu sorri e respondi sem pensar: “Mesmo que eu quisesse, não seria maluco. Eu respeito a tua história”. Naquele dia, o máximo que consegui no imenso campo das Laranjeiras foi um bom passe, mas Ricardo não estava mais em campo.

A convivência diária com Ricardo Gomes aconteceu somente em 2004. E tudo que eu ouvia falar dele se confirmou. Ricardo é o tipo de pessoa que milita no futebol porque gosta, não porque precisa de holofotes para massagear seu ego. Foi nos poucos meses de Tricolor que virei fã dele. Educado, gentil, sincero, firme sem ser estrela, decidido, mas sereno, Ricardo era incapaz de tratar mal alguém.

No Brasileiro de 2004, em um jogo contra o São Paulo, Ricardo substituiu Edmundo no intervalo, perdeu a partida, e o atacante não poupou críticas ao treinador. No dia seguinte, liguei para o Ricardo, que mostrou a tranqüilidade de sempre. “Léo, o Edmundo pensa de uma forma e eu de outra. Mas a conversa vai ser interna, e o assunto será resolvido. Discussão pública não é comigo”. E eu realmente não esperava nada diferente. Firme sem ser espalhafatoso, Ricardo contornou a situação, Edmundo se desculpou e a vida seguiu.

Meses depois, Ricardo negociava sua ida para o Flamengo. Eu nem fazia a cobertura rubro-negra, mas queria muito vê-lo na Gávea. Quando soube da chance, mandei um torpedo. “É só curiosidade...rs...Só quero saber se vou te ver de Flamengo agora. Abraços, Léo”. Não demorou muito e veio a resposta. “Pode ficar feliz. Vou treinar o teu time. Forte abraço”.

Quando Flamengo e Fluminense se enfrentaram no Brasileiro de 2004, Ricardo treinava o Fla, e Edmundo continuava no Flu. Foi do atacante o gol da vitória tricolor por 2 a 1. No dia seguinte, Edmundo quebrou o gelo e me deu uma longa entrevista pelo telefone. Aproveitei para matar uma curiosidade. “Você teve um problema com o Ricardo no Fluminense, mas foi abraçá-lo antes da partida. Eu achei estranho...” Edmundo nem me deixou terminar a pergunta. “Léo, é impossível não gostar do Ricardo. Naquela discussão, eu era o errado. Passou, eu adoro ele”.

Depois que foi para o a França, o contato com Ricardo diminuiu. Algumas vezes, porém, seu nome era falado para voltar ao Fluminense. Em duas ocasiões, conversamos por telefone sobre o assunto e, ao dizer que tudo não passava de especulação, eu tinha a certeza de que ele falava a verdade. Em 2009 e 2010, quando jogamos contra o São Paulo, fiz questão de cumprimentá-lo no vestiário antes dos jogos e sempre ouvi um “Como é bom te ver”, frase simples, mas que retratava o carinho e a cordialidade de uma pessoal especial.

No domingo, antes do clássico, ia seguir minha rotina e dar um abraço no Ricardo mais uma vez. Pensei e achei melhor deixar para depois da partida. Agora, não vejo a hora de encontrá-lo e poder dizer: “como é bom te ver”. Força, amigo...

18 de agosto de 2011


Falta de bom senso

Ambos os lados têm, no fundo, sua razão. Mano Menezes em convocar Ronaldinho e se proteger ainda mais diante de novo fracasso que pode pôr seu cargo a perigo. A torcida rubro-negra em chiar com a possibilidade de não o ter ou tê-lo exausto em importante partida contra o Corinthians pelo Campeonato Brasileiro. Técnico da Seleção Brasileira, Mano pode e deve convocar quem bem desejar. Poderia, ao menos desta vez, ter bom senso. As relações do comandante brasileiro com o Corinthians são cristalinas e justificáveis por sua boa passagem pelo Parque São Jorge. Por isso, cautela neste momento seria de bom tom.

Por mais que teorias conspiratórias viagem no espaço diante da tal relação Mano-Corinthians, não há, caro rubro-negro, qualquer esquema para prejudicar o Flamengo e dar a taça ao Timão com inúmeros desfalques. Mas Mano desfalcou os cariocas diante do próprio Corinthians no primeiro turno do Brasileiro ao convocar Thiago Neves e utilizá-lo apenas por alguns minutos. Agora, repete a dose com Ronaldinho. A ira rubro-negra é compreensível. O que mais você poderia esperar de um torcedor, portanto? Apenas a defesa de seu clube mesmo. E Mano poderia, sim, ter evitado o disse-me-disse que, pasmem, pode durar até o fim do campeonato. Afinal, Ralf não representa nem de perto para o Corinthians o que R10 significa para o Flamengo.

Pois digamos que Ronaldinho jogue contra o Timão e seja discreto. "Está cansado por culpa do Mano!", praguejará o rubro-negro. Ainda que pedir razão ao torcedor diante de tal situação, vale lembrar: R10 voltou ao Brasil com o discurso de que queria recuperar o bom futebol e, consequentemente, a vaga na Seleção Brasileira. Conseguiu. A reboque, a boa fase e a convocação de Ronaldinho trarão benefícios futuros ao Flamengo, como patrocínio, visibilidade e, principalmente, a recuperação da imagem do clube, ainda desgastada com o Caso Bruno, um dos fatores que, acredite, emperrou o alto valor de patrocínio para 2011. E, convenhamos, o campeonato não será definido em apenas uma rodada. Bater o Corinthians vale em termos práticos tanto quanto vencer o América-MG. Mas, sim, faltou bom senso a Mano Menezes.

17 de agosto de 2011


Pedigree de Seleção

Não há mais como adiar. A partir da lista de convocação desta quinta-feira, Mano Menezes deve definir uma boa base e seguir com ela para o que der e vier. Fernandinho, Jadson? Nem pensar. Muito menos André Santos. É hora de Mano chamar o que temos de melhor em todas as listas que puder. Deixe as birrinhas de lado. Sem mimimi, treinador. Convoque quem tiver cara de Seleção. Não compreende? Pois vejamos. Marcelo deve ser o dono da lateral esquerda, pouco importa o que tenha feito. Converse, dê nova chance. No gol, Julio Cesar tem falhado demais e Jefferson mostra sempre estar em ótima fase. Neymar é craque, já provou isso. Uma hora vai arrebentar também com a camisa amarela. Basta apostar, insistir. Deixe Lucas Leiva de lado. Traga logo o Hernanes, aquele amistoso contra a França já passou e a expulsão, também.

É claro que o técnico da Seleção já enfrenta grande pressão. Diante dos grandes e em uma competição oficial, o time brasileiro não andou. Mas mandá-lo embora agora é bobagem. É hora de dar uma cara à equipe, chamar os jogadores que podem dar a qualidade necessária para que o Brasil volte novamente a ser respeitado pelos adversários. Até pouco tempo atrás, bastava sair na rua e perguntar quem estava na Seleção Brasileira. Citariam Ronaldo, Ronaldinho, Kaká, Adriano, Gilberto Silva, Dida. A Seleção estava na boca do povo. Não está mais. Mano tem, sim, enorme culpa no estágio atual do time canarinho. Teve um ano, jogos amistosos, competição oficial para definir uma base. Até mesmo um período de treinamentos na Europa, quando não marcou amistosos. Não definiu e simplesmente patinou com nomes claramente errados como André Santos.

A geração, claro, não está no auge e nem mesmo sabemos se um dia estará no topo do mundo como Ronaldinho, Rivaldo e Ronaldo estiveram nas últimas décadas. Por isso, vale azeitar o time com os bons jogadores que temos à disposição, casos de Neymar e Lucas, e lá na frente trazer de volta figurões que estejam em boa fase, como Ronaldinho atualmente e, quem sabe, Kaká. No momento é necessário fazer o básico, dar uma cara ao time, repetir convocações, dar murro em ponta de faca se for necessário. E, com o tempo, mostrar bom futebol e vencer. O projeto ainda está nas suas mãos, Mano. Nada de Fernandinho, Luiz Gustavo, Renato Augusto, simples apostas. Mas, sim, um time com caras que tenham pedigree de Seleção.

15 de agosto de 2011


A soberba do apito

A postura por vezes é arrogante, os gestos são excessivos e a incoerência, uma marca registrada. A arbitragem brasileira, não é de hoje, vive uma crise. Não há um padrão a ser seguido. Cada árbitro parece julgar por si o que é necessário fazer em campo para o bom andamento da partida. Jogadores, técnicos e clube devem se cuidar no Deus no acuda dos gramados brasileiros. O que significa cartão amarelo para determinado árbitro, nem mesmo digno de advertência é para outro. Difícil crer em má-fé, predisposição para prejudicar esta ou aquela equipe.

A clara falta de padronização da Comissão de Arbitragem brasileira é diretamente responsável por episódios como o ocorrido em Figueirense x Flamengo. Heber Roberto Lopes por vezes demonstra grande benevolência com o time da casa. Em lances idênticos, amarelo para os visitantes, no caso de Florianópolis, o Flamengo, e nenhum para os mandantes, o Figueirense. Nada contra o Rubro-Negro em particular. É apenas o seu padrão.


Assim como o de Leandro Pedro Vuaden é deixar o jogo correr. Há falta que, em sua opinião, não vale marcar. Simplesmente. E daí que toda falta é obrigatoriamente falta? O árbitro escolhe a sua padronização e caminha sozinho em seu mundo próprio. São as suas senhorias do futebol. Gostam do holofote para si. E há, ainda, os que são fracos tecnicamente por natureza. Não? Pois observe o impedimento marcado após um lateral na partida entre Bahia e Internacional neste fim de semana. Isso mesmo. Impedimento em lateral. Total desconhecimento da regra.


Há, claro, bons profissionais que pouco são notados. Não gostam de ser chamados de sua senhoria, não fazem ameaças a jogador, controlam a partida e mantêm o critério para os dois lados. São discretos. Ou você realmente lembra o nome da partida mágica entre Santos e Flamengo na Vila Belmiro? Provavelmente não. Mas André Luiz de Castro, árbitro daquela partida, conduziu o jogo sem ser vedete. Fosse propenso aos holofotes e certamente estragaria o espetáculo ao seu prazer, deixando Neymar e Ronaldinho tímidos. Poderia ameaçá-los com o apito estridente, deixar os jogadores irritadiços com tanta contradição. Mas é exceção em um futebol assolado pela soberba do apito.

13 de agosto de 2011


Há razão para mágoa

"Da nossa parte não há mágoa com o Ronaldo", disse a presidente Patricia Amorim após anunciar o novo patrocinador do Flamengo, em negociação que contou com a participação direta da empresa do Fenômeno. Pois Patricia, representante do maior poder do clube da Gávea, deveria, sim, demonstrar mágoa. Basta procurar nas ruas, nas arquibancadas e nos arredores dos estádios a opinião dos rubro-negros. A maioria esmagadora tem, sim, mágoa de Ronaldo. Não é para menos.

Em 2008, o Fenômeno viveu talvez sua fase mais difícil como jogador. Nova lesão no joelho, nova cirurgia e carreira já em curva descendente. Procurou, então, o amor que sempre disse que buscaria um dia. Bateu na porta da Gávea. Foi prontamente atendido. Desde profissionais do clube exclusivos para sua recuperação até carinho da torcida em manifestações. No inconsciente coletivo rubro-negro, bastava Ronaldo se recuperar para entrar em campo pelo clube. A proposta seria uma mera formalidade. Era um acordo de paixão. Ele sempre quisera. A torcida queria. A diretoria também. Questão de boa fé.

Meses antes, ainda sem treinar, Ronaldo apareceu no Maracanã na final do Campeonato Carioca com camisa do Flamengo. "Não posso ver a hora de estar em campo com essa nação atrás", disse o então atacante. Não se cansava de alimentar um sonho, que, no fundo, também era seu. Pois no apagar das luzes de 2008, Ronaldo anunciou acertou com o Corinthians. Soco na cara de uma nação. De gente de boa-fé que ia ao Maracanã e gozava o rival mostrando a foto do Fenômeno treinando com o elenco rubro-negro na Gávea. Ele sempre declarou amor ao clube. No momento de devolver o carinho, o Fenômeno traiu um sentimento. Traiu o próprio garoto Ronaldo que em Bento Ribeiro chutava bola e se imaginava com a camisa rubro-negra na infância pobre.

Questão de opção profissional, diriam alguns. Sim, Ronaldo foi feliz no Corinthians, obteve retorno financeiro, embora isso já não fosse mais necessário para um atleta de seu porte. Não contente, o atacante chegou a debochar do tamanho da torcida rubro-negra em programas de tv, riu de provocações feitas. Foi vaiado por um Maracanã inteiro em 2010, em seu único encontro com o Flamengo no Rio de Janeiro. A relação, óbvio, ficou estremecida com qualquer rubro-negro. Um preço que o Fenômeno saberia que iria pagar. Não tivesse Ronaldo se declarado tão rubro-negro como qualquer um da arquibancada do Maracanã, realizado a recuperação na Gávea e, sim, não haveria motivos para mágoa. Mas ele se declarou. Treinou no clube. Alimentou esperanças. E tomou outro caminho. Sim, presidente, há razão para existir uma mágoa fenômenal de uma nação. E ela existe sem razão alguma para ser ignorada.