30 de julho de 2011


A competitividade rubro-negra

Logo após o título invicto no Campeonato Carioca, a desconfiança sobre o Flamengo de Vanderlei Luxemburgo ainda pairava. Invicto, pois sim, apenas no fraco Estadual. De tal maneira não resistiria no Brasileiro. A derrota logo na partida seguinte, contra o Ceará, pela Copa do Brasil, deu mais força aos críticos. Na maior competição nacional, o Bonde encontraria o freio definitivo e teria de aceitar as suas limitações. Após 13 rodadas do Brasileiro e uma vice-liderança, muita opiniões foram derrubadas e os críticos e devem dar a mão à palmatória. O trabalho de Vanderlei Luxemburgo no Flamengo em 2011 é, sim, digno de aplausos. Impressiona a consistência da equipe, osso duro de roer para qualquer adversário.

Você pode não gostar da maneira como ela joga. É um direito. Mas não pode negar a eficiência. São 40 jogos no ano e apenas uma única derrota. Se isto não é símbolo de um bom trabalho, não sei mais o que pode ser. Neste ano, o Flamengo enfrentou adversários de todos os tipos. Empatou com a Cabofriense e ganhou do Santos na Vila Belmiro no Brasileiro. De um time claudicante no início do ano, ainda em busca do acerto, a um time maduro, com jogadores que conhecem uns ao outros em campo, trocam passes e esperam o adversário para dar o bote fatal. Não é um time perfeito. Mas, sim, a equipe mais difícil de se bater no Brasil atualmente.

O ponto ao qual Vanderlei Luxemburgo desejava desde o início da temporada parece chegar à maturação apenas agora. Une padrão de jogo ao brilho de Ronaldinho, seu grande astro. Tática a técnica. A chegada de Alex Silva para a defesa só aumentará ainda mais a capacidade de o Flamengo ser uma barreira de difícil superação pelos adversários. Diante da exuberante fase técnica de seu camisa 10 e com o apoio de luxo de Thiago Neves, a qualidade necessária para levá-los à vitória. À sua maneira e com apoio da diretoria em momentos-chave, como o veto a Adriano, Vanderlei Luxemburgo leva o Rubro-Negro a um nível de competitividade desconhecido na Gávea até então. Em 2009, o hexa chegou com uma arrancada. Neste ano, não será surpresa se o Brasileiro terminar mesmo com o troféu na Gávea.

28 de julho de 2011


A alegria da bola

Há muito tempo ela não estava assim tão empolgada. Quantas saudades tinha de encontrar tantos craques ao mesmo tempo. O Santos de Neymar, o craque da nova geração. O Flamengo de Ronaldinho, o craque da última geração. Já com os times perfilados ela observou que outros estavam ali para o grande baile. Elano, Thiago Neves, Ibson, Léo Moura. Feliz, ela sorriu. E posicionou-se no centro do gramado, pronta. A bola estava ansiosa pelo primeiro toque.

Pois nem bem ela rolou e viajou do pé de Elano, num voo suave, para encontrar Borges. Mansamente, foi tocada com categoria para o fundo do gol. Acostumada que estava com tantos pernas de pau por aí, ela estranhou. "Mas já?", perguntou. Eram apenas quatro minutos e o Santos estava na frente. Feliz com o fino trato, posicionou-se de novo no meio do gramado. E rapidamente já estava nos pés de Ronaldinho, carregada com carinho e fintando os pés adversários que, em vão, tentavam tirá-la do camisa 10 rubro-negro.

Foi, então, que ela se acostumou a ver mais os pés santistas. Recebeu o toque suave de Ganso e, de novo, estava na cara do gol com Borges para abraçar novamente as redes. Lá estava ela de novo no centro. E rolou de novo. De repente, passou para os pés de Neymar e, com eles, pareceu flutuar. Ziguezagueando, passou pelos meios das canelas de Angelim antes de pular sobre Felipe e abraçar o gol. Que noite! Mas não ficou por aí, não. Mais um pouco e Ronaldinho a quis de volta. Com o toque simples, deixou-a novamente nas redes. Mas do outro lado.

Estranhou, no entanto, que rolava macia, de pé em pé, num bom gramado, sem aquele apito estridente paralisando o jogo minuto a minuto. Sentia-se como nos velhos tempos. Ali mesmo na Vila lembrava dos toques mágicos de Pelé, do fino trato de Pepe. Mergulho tão fundo nas lembranças que só se deu conta que encontrara a cabeça de Thiago Neves no último instante para, novamente, adormecer nas redes do outro lado. Cinco vezes em 35 minutos. Incrível. E lá estava ela postada novamente, mas dessa vez na marca da cal.

Tremeu toda, sentindo o bico de Elano. Mas foi suave e dessa vez parou em mãos. Foi, por duas vezes, razão de um deboche. Desde o toque do camisa 8 santista às embaixadas do goleiro Felipe. Riu das brincadeiras. Estava leve, solta. Feliz. Como há muito não estava. Por isso novamente se perdeu no tempo e só se viu dentro das redes depois da cabeçada de Deivid. Cansada, agradeceu aos céus pelo intervalo. Relaxou. Mas de repente lá estava novamente voando nos pés do garoto prodígio santista e mergulhando rumo ao gol. Àquela altura, a pelota já estava acostumada a voltar ao centro do gramado. Era a sétima vez na noite. Mas algo lhe dizia que haveria mais.

Ronaldinho, seu velho conhecido, a colocou estática na frente do gol e da barreira. Trêmula, olhou para os jogdores à sua frente e para o alto do gol. Iria por cima, sem dúvidas. Mas até ela conseguiu ser supreendida pelo craque. E na batida seca, correu pelo gramado, por baixo, rumo ao gol adversário. Estupefata, se atirou as redes e achou que uma noite daquelas merecia um vencedor. Deixaria entregar-se, então, ao próximo que a tratasse tão bem.

Foi então que Thiago Neves novamente a rolou pelo gramado, suave, pelo lado esquerdo. Lá estava Ronaldinho, fulminante como nos velhos tempos, com o domínio preciso e a batida no campo. Feliz, ela correu rumo às redes santistas e deu-se por satisfeita. Novamente, ela vira história. Novamente, entrara no gol por tantas vezes. Nove, para ser exata. Novamente, via o motivo de futebol ser chamado de arte. Sorridente, comemorou o apito do árbitro. Estava cansada, exausta de tanto trabalho. Mas, acima de tudo, alegre.

23 de julho de 2011



Quando a massa não abraça


O jogo contra o Ceará foi a exceção. O time jogou bem, entregou vitória fácil, perdeu dois em três pontos fáceis em casa. Compreensível a irritação de uma Nação. Mas incompreensível, sim, é a irritação da torcida do Flamengo em 2011 com Vanderlei Luxemburgo e com o próprio time. São quase 40 jogos na temporada e uma, apenas uma derrota. Um título invicto, uma eliminação e uma colocação, por enquanto, entre os quatro primeiros do Campeonato Brasileiro. A temporada longe de terminar e o Flamengo e Luxa encontram críticas, implicâncias, irritações.


A imagem representativa da relação entre time e técnico com torcida ocorreu justamente nesta noite, em Macaé. O time vencia por 1 a 0, jogava bem, disputava cada bola e...torcedores atrás do banco de Vanderlei Luxemburgo o importunavam. Xingavam. Debochavam. Pediam raça a um time de jogadores que não se cansaram de dar carrinho na lateral. É de se repensar. Qual a razão de uma torcida não simpatizar com a equipe? Não abraçá-la nos maus momentos para empurrá-la para frente, algo tão comum no Flamengo. Curioso. Sem química.


As críticas, claro, são válidas. Time e Vanderlei Luxemburgo erram, estão bem longe de serem imbatíveis e perfeitos. Às vezes vão mal. Às vezes vão bem. Mas, no geral, o Flamengo é um time muito competitivo em 2011. Está na briga, pode lutar, apesar dos deslizes bobos e das falhas individuais. Mas não há empatia com a arquibancada. Talvez a falta do Maracanã pese e a atmosfera à qual time e treinador estão acostumados faça força para um lado nesta balança. Mas é intrigante ver o Flamengo, com apenas uma derrota em 2011, ser motivo de tanta irritação, de tanta cobrança. Ronaldinho deve jogar mais. Thiago Neves deve passar mais a bola em vez de chutar. Felipe não deve espalmar a bola para frente uma vez.


Pois a torcida do Flamengo já fez a equipe chegar a resultados surpreendentes. Jaílton e companhia já foram empurrados, com Souza no ataque. Era o Mengão do coração. "Vamos, Flamengo, vamos ser campeões!". Com times mais fracos, mais vulneráveis e sem grandes esperanças. Hoje não há mais química. Título invicto, apenas uma derrota, Ronaldinho com a camisa 10, Thiago Neves como coadjuvante. Na briga pelo Brasileiro. Mas não há empatia. Para um time que tem uma Nação por trás, fica difícil. Quando a massa não abraça.

22 de julho de 2011


Triste autocensura

Forçar cartões amarelos para não jogar esta ou aquela partida, acordado ou não com diretoria e técnico, é comum. Não seja ingênuo. Ocorre sempre no futebol. A comprovação do ato, essa sim, é sempre difícil. E vista com receios. Mas Thiago Neves resolviu abrir o verbo. Falou. Surpreendeu a todos. Ele e Ronaldinho combinaram entre si e, sim, forçaram os terceiros cartões amarelos que lhes permitiria a ausência da partida seguinte, contra o Ceará, e a participação contra Santos, Grêmio e Cruzeiro. Declaração louvável, recheada de sinceridade, algo raríssimo nos dias em que jogadores e cartolas, personagens bons ou ruins, são doutrinados por assessores e pela ditadura da boa imagem, do bom mocismo.

Thiago Neves, então, foi criticado. Mas não só pela atitude de forçar o cartão, que, diga-se, só interessa ao Flamengo. Mas por ter declarado a intenção. Por ter concedido uma entrevista fora dos padrões de que "o importante são os três pontos" e "vamos tentar buscar a vitória". Não é raro ouvir repórter deixar entrevista coletiva e afirmar que não aproveitará uma linha sequer. Lugar comum, a mesma linguagem boleira de sempre, sem sobressaltos ou polêmicas. Então, parte da imprensa depara-se com um Thiago Neves inspirado. E qual a atitude? Condena as declarações. Não a atitude, mas as palavras. Está errado por sincero, por suscitar polêmica. Está lá na capa de um periódico, literalmente. "Cala a boca, Thiago Neves!".

O torcedor, então, deve ser privado das declarações sinceras por conta de uma autocensura da imprensa. Thiago Neves deveria dizer que não forçou cartão, foi um simples acidente. Ele e Ronaldinho sem se falaram no vestiário. Tudo por trás da cortina. Diante de reações como essa, com o camisa 7 rubro-negro, clubes sentem-se ainda mais à vontade para tolhir qualquer possibilidade de imagem negativa para o clube. Corta-se, desde a base, o direito de pensar do jogador, a possibilidade de se expressar por si só. Diga isso, garoto. Fale aquilo. Omita essa parte. Evite polêmica, pode gerar publicidade ruim. Mas, ainda que cada vez mais raros, personagens como Thiago Neves aparecem. Um caso aqui, outro ali. Craques como Ronaldinho são raros. Jogadores de expressões comedidas, como o próprio R10, são mais do que comuns. Thiago Neves confrontou o óbvio e se expôs, com naturalidade. E foi repreendido até pela imprensa. Levou bordoada para, digamos, mais de metro. Triste autocensura.

21 de julho de 2011


O bico na ética

Ética. Está lá no dicionário: conjunto de princípios morais que se devem observar no exercício de uma profissão. Deveria valer para todo o mundo. Menos um em particular. O mundo da bola. Cheio de soberba, boleiros e seus comandantes ignoram essa palavrinha essencial. Pouco vale para eles. O que importa, mesmo, é levar vantagem. Atingir os fins sem se importar com os meios. Uma pena que Fluminense e Kleber tenham dado, mais uma vez, exemplos de como o mundo do futebol sente-se alheio ao restante.

Pouco pareceu importar para a diretoria tricolor que Martinuccio, o argentino que chegou à final da Libertadores pelo Peñarol, tenha assinado um pré-contrato com o Palmeiras. Não vale nem mesmo o que está escrito. Passa-se por cima de leis e palavras como quem troca de camisa no intervalo dos jogos. A paixão do futebol desperta até nas pessoas mais sensatas a debilidade. Há, sim, tricolores defendendo a atitude antiética do clube que se diz tão fidalgo. Como há palmeirenses justificando a injustificável atitude de Kleber diante do Flamengo.

Ética não é regra nem lei. Mas está acima da ambas. Há o consenso, a fidalguia de que o Palmeiras deveria devolver a bola. Em nome da ética. Da honra. Kleber pouco se importou. Acuado contra a parede após as rodadas de negociação com o próprio Flamengo, viu ali, na falta de ética, a porta aberta para se refazer perante os súditos do Gladiador. Pegou a pelota, partiu em direção ao gol rubro-negro e bateu cruzado. Com a bola, foi-se a ética. No coro da torcida alviverde com o nome do atacante, a aprovação da atitude. Na apresentação de Martinuccio pelo Flu, o desprezo aos princípios morais. E, no saldo, um bico na ética.

19 de julho de 2011

O preço de deixar o Olimpo

Falcão permaneceu por anos no Olimpo com outros deuses da bola. Foi Rei em Roma, mas nunca esqueceu a camisa vermelha do clube em que era o maior ícone da história. De cima, contemplou o seu Colorado ganhar Libertadores e o Mundo, algo que nem ele teve pôde provar como jogador. O desejo, então, invadiu o coração do ídolo. E Falcão se propôs a deixar o Olimpo para vestir o agasalho vermelho do Internacional e despir-se de seus poderes de deus colorado. Tornou-se mortal, passível de críticas e de injustiças do mundo da bola.

A expressão de incredulidade de Paulo Roberto Falcão, já ex-técnico do Internacional, em sua entrevista coletiva após a demissão é comovente. Revela um deus traído e até culpado por ter sido tão ingênuo. Após se acostumar por anos a ser reverenciado, tratado com tapete, literalmente, vermelho, Falcão não esperava que fosse tratado como mais um. Ou, pior, que fosse julgado de maneira até mais severa do que um simples técnico qualquer. Ao entregar-se novamente à paixão colorada, o ídolo esqueceu-se de que era deus.

Lá de cima, Falcão pôde observar o que ocorreu com outros deuses que toparam a empreitada de deixar o Olimpo. Mas fez vistas grossas à crueldade com que as novas geraçõs tratam o ídolo de sempre. Zico foi reverenciado por sua história no Flamengo. É, ainda, chamado de Deus. Mas como dirigente rubro-negro encontrou uma inquisição que nem mesmo os piores dirigentes do Flamengo não tiveram de enfrentar. Magoado, deixou o clube incrédulo e sofrido. Falcão nã percebeu o exemplo. E foi apunhalado.

A poucos quilômetros do Beira-Rio, Renato Gaúcho, o deus gremista, também desceu do Olimpo. Sorriu, sofreu, comemorou, chorou. Mas ainda que tenha deixado o clube, teve o abraço do povo e palavras respeitosas. Falcão, não. Sentia-se confortável, acreditava piamente que seus poderes de deus seriam suficientes para segurá-lo em caso de tempestades no comando do Colorado. Não foram.

Na primeira rajada de vento severa em poucos tempos de trabalho, Falcão olhou para cima. Magoado, não acreditou que fora traído. Por parte de seus antigos súditos. Por comandantes de sua camisa colorada. E, com os olhos marejados, percebeu o que Zico já percebera quase um ano antes. Há um preço para deixar o Olimpo.

17 de julho de 2011



A nova realidade da Seleção


Grande parte dos torcedores que assistiu, surpresa, à eliminação brasileira diante do Paraguai na Copa América deve, aos poucos, estar se acostumando a uma nova realidade. Foi-se o tempo em que o Brasil possuía os grandes craques do futebol europeu e os trazia para a camisa amarela apenas para cumprir a função de provar que, sim, éramos os maiores do mundo. Romário, Bebeto, Ronaldinho, Rivaldo, Ronaldo, Kaká, Cafu, Roberto Carlos apresentaram uma Seleção Brasileira praticamente invencível a seguidas gerações. Chegar a uma final era o mínimo.


O tempo passou, os craques envelheceram, perderam o vigor físico ou simplesmente se aposentaram. E a Seleção Brasileira, em meio a arrogância e inferioridade técnica, caiu em duas Copas do Mundo em sequência para finalistas da competição. França, em 2006 e Holanda, em 2010. Até certo ponto normal. O alarme soou com força com a eliminação diante do esforçado Paraguai. O torcedor esteve acostumado nos últimos anos e observar a Seleção Brasileira a mandar sua segunda força para as últimas edições da Copa América e sair com a taça. Dessa vez, a realidade veio com força.


Pois o Brasil foi à Argentina com praticamente tudo o que tem de melhor. Kaká sofre com os problemas físicos que se tornaram comuns nas últimas temporadas. Marcelo e Hernanes ficaram pelo caminho de Mano Menezes. A Seleção Brasileira, portanto, sofreu nos gramados portenhos com seu time principal. Preocupante, mas em uma entressafra é até compreensível. O próprio treinador, Mano Menezes, ainda carece de amadurecimento para tentar comandar o Brasil de volta ao topo do futebol mundial. Mas é difícil contentar, hoje, uma geração acostumada a ver o Brasil vencer e brilhar em todas as competições.


A tarefa de Mano se torna ainda mais difícil com a proximidade da Copa de 2014 em casa. Sem seus craques de sempre, o Brasil terá de se reinventar até lá para evitar um vexame diante dos olhos dos torcedores. Toda mudança é passível de sofrimento. A geração de torcedores acostumada aos craques de outrora deve ser acostumar. Brasil foi, sim, eliminado diante do Paraguai na Copa América. É a dura, mas também a nova realidade da Seleção Brasileira.


Messi ainda deve


Messi é fantástico. Acostumou-se à tarefa de encantar o mundo com a camisa do Barcelona. Dribles curtos e certeiros, arrancadas irresistíveis, golaços de tirar o chapéu. Natural, então, esperar que o craque argentino brilhe também com a camisa da Argentina. Mais do que isso. É inevitável esperar que o meia seja também o senhor da bola com a 10 que já pertenceu a Diego Maradona às costas. Por isso, Messi ainda está devendo. Não há como negar.

Os defensores do argentino clamam: azar da Copa da Mundo, azar da seleção argentina. Bobagem. Messi sempre será cobrado por atuações ao seu nível com a camisa portenha e é justo que assim seja. Pelo futebol refinado e encantador que exibe no Barcelona, foi eleito melhor do mundo e alçado a possíveis comparações com mitos da bola como Maradona e Pelé. Basta lembrar que os ícones argentino e brasileiro brilharam e muito com a camisa de suas seleções.

É na seleção que Messi carrega a expectativa de um país. Ronaldinho, seu companheiro até poucos anos atrás no Barcelona, sofria grande pressão mesmo tendo tido boas exibições pelo Brasil, sendo decisivos em jogos, campeão do mundo. Messi não ficaria nunca fora de tal rol. Afinal, ele pertence a uma seleção tradicional, com bons jogadores. Dí Maria, Tevez, Higuaín, Aguero, Zanetti, Gago são seus companheiros. Não se trata, por exemplo, de Weah, melhora jogador do mundo em 92 e nascido na Libéria. Não haveria como brilhar na seleção.

Espera-se de Messi uma atuação convincente, em que, de fato, carregue o time nas costas como já fizeram Romário e Maradona, apenas para ficar em dois exemplos. Cabe a Messi ter uma atuação que faça você constatar que, sem ele, aquilo jamais seria possível. A canhotinha afiada já se cansou de fazer isso no Barcelona, apesar dos ótimos coadjuvantes. Na seleção, mesmo com o título olímpico em 2008, ainda não. A eliminação para o Uruguai foi mais um exemplo. Copa América na Argentina, que tem o melhor jogador do mundo vestindo sua camisa 10. Messi deveria, sim, brilhar. Por tudo que representa. Para mostrar que é o mito que muitos desejam que seja. Mas ainda não é. Por isso, Messi ainda deve.

15 de julho de 2011


O desrespeito boleiro

O garoto clica no site e vê seu ídolo estampado com a camisa do clube. Anseia por sua estreia. Conta nos dedos. Provoca os amigos no colégio, revê os melhores lances no Youtube. Pesquisa com afinco a média de gols do craque em seu último clube e fica animado. Falta tão pouco. Rapidamente, ele liga para o pai. Pede para comprar o ingresso para a estreia do craque. Curiosamente, será contra o seu ex-clube. Gosto mais especial. Vai ser bacana.

Ele, então, se senta em frente à tv e liga o video game. Já transfere o craque para o seu time do coração. No mundo virtual, não cansa de ver a cena que será realidade em breve. Gols de todas as maneiras. De cabeça. De costas. De barriga. De perna esquerda. De perna direita. Ele ouve a porta se abrir. Lá está o pai, sorridente, com o ingresso tremulando na mão. Ele abandona a alegria virtual e admira o pedaço de plástico que lhe dará, no dia seguinte, a senha para ver seu craque em ação. Falta muito pouco.

No dia seguinte ele acorda. Sai cantando pela casa o nome do seu novo ídolo. Chegou o dia. Após o almoço, ele está devidamente trajado. A camisa, novíssima, é presente do pai e tem o número e o nome do jogador às costas. Pela rua, o garoto imagina a jogada que resultará no gol e chuta a latinha na rua para a baliza imaginária, no meio-fio. Então, ele entra no estádio. A expectativa aumenta. O nome do ídolo aparece no telão. A torcida grita mais alto. Ele entra em campo. Emocionado, o garoto urra de alegria.

A bola rola, o time vai bem e no primeiro instante o ídolo recebe a bola na área. Com a categoria que lhe é característica, dribla o goleiro e toca de maneira suave para o gol. Golaço. O garoto se prepara para vibrar, começa a abraçar o pai, mas para. Lá está seu ídolo no gramado, inerte. É abraçado pelos companheiros, mas não mostra vibração. Apenas caminha em direção ao círculo central para a saída. "Por quê?", pergunta o garoto. "Ele diz que é respeito ao ex-clube dele", responde, com pesar, o pai. Chateado, o garoto não se levanta mais do assento da arquibancada. Quer, no íntimo, ir embora. Sentiu-se desrespeitado. Ele e todos os outros torcedores que ali estavam. Tanta expectativa e...nenhuma comemoração. "Por respeito!", pragueja o garoto.

É o retrato do que fazem vários craques no futebol atualmente. Adriano, revelado pelo Flamengo, fez gol contra o São Paulo, pelo qual já jogou. E não comemorou. Fred, do Fluminense, repetiu o gesto contra o Cruzeiro após três gols. Alex, agora no Corinthians, garantiu que não comemoraria gols contra o Internacional, seu ex-clube. Para a alegria da bola, Alex não marcou. Em um nome de um vazio respeito, o jogador se agarra à hipocrisia. Desrespeito boleiro.

12 de julho de 2011


O abismo colossal

O tapa seco cruzou o ar e atingiu em cheio a cara dos torcedores de outros clubes. 37 milhões de libras, cerca de R$ 90 milhões, por Tevez. Piada. Não só o Corinthians, mas qualquer clube brasileiro jamais conseguiria formular tal oferta. Mas a realidade dos milionários contratos de tv para o futebol brasileiro bateu à porta e escancarou sem medo o abismo colossal que passará a existir entre os clubes. Andrés Sanchez, presidente corintiano e principal artífice do racha do Clube dos 13, ri à vontade e confirma a proposta de R$ 90 milhões por um só jogador. Atento, o mercado da bola já se movimenta para adequar-se aos novos afortunados e seus milhões sedutores. Do alto da pirâmide financeira, Flamengo e Corinthians jogam seus dados sem pena dos rivais.

Pois no formato anterior, com divisões um pouco mais igualitárias das cotas de tv entre os clubes brasileiros, tal disparidade do poder aquisitivo não acontecia. Mas é passado. O Corinthians sorri e se propõe ao inimaginável: R$ 90 milhões por Tevez, o ídolo da Fiel, hoje aportado em um dos clubes europeus mais ricos, o Manchester City. Do outro lado, o Flamengo, de maneira mais modesta, também já mostra ao mercado seu novo poderio. Tem Thiago Neves, Ronaldinho, ainda que bancado em grande parte com uma parceria, e propõe a Kleber um salário que o Palmeiras não tem condições de lhe oferecer sem quebrar o caixa de maneira irresponsável. Cerca de R$ 600 mil. Além, claro, de humildes, se comparados à oferta corintiana por Carlitos, 3,5 milhões de euros para o Palmeiras, como benefício. Difícil responder à altura.

Ao lado do Corinthians está o Santos, cercando-se de patrocinadores, desenhando parcerias, abusando da criatividade. Tudo para evitar que Neymar, seu garoto prodígio, saia para a Europa pelo mesmo valor que...Tevez chegará ao Corinthians se o Manchester City der o seu aval. Sorridente, Andrés Sanchez afirma que nos próximos quatro anos o Corinthians comprometerá "apenas" 25% de sua cota de tv para trazer o ídolo da Fiel para os braços do povo. Imagina ações de marketing, camisas esgotadas, estádios abarrotados com Tevez arrancando rumo ao gol adversário com a camisa corintiana, o sonho da Libertadores. Algo que parecia impossível de acontecer, mas, num passe de mágica, no rachar dos clubes, torna-se até provável.

Concorrentes como Botafogo, Fluminense, Palmeiras, São Paulo, Grêmio e Internacional observam a movimentação corintiana com receio. Será possível? R$ 90 milhões por um só jogador. Loucura, sem dúvidas. Mas uma loucura possível e programada por um poulpudo contrato de tv. Não há como competir. Cada um tem sua razão. Corinthians e Flamengo, felizes e satisfeitos com o racha no Clube dos 13, se lambuzam com as cifras e com as estripolias que os milhões lhe permitirão daqui para frente. Sem ação, os outros clubes observam embasbacados a proposta corintiana e só agora sentem na pele a consequência de uma desunião, das conversas individuais. Um abismo colossal.

5 de julho de 2011


Um Drogbinha rumo ao desperdício

Era meio de semana quando o Flamengo enfrentava o Grêmio Prudente no Maracanã, Brasileiro de 2010. Já sem Adriano, a torcida viu sair do banco um rapaz forte, cabelo volumoso, sorriso cheio e muita disposição. Na primeira bola, um tapa seco, incrível velocidade rumo à área adversária. Só um pênalti o derrubaria. Caído no chão, ele parecia chorar em seus primeiros passos no futebol profissional. Atônito, assistiu ao gol de Vagner Love e à vitória do Flamengo por 3 a 1. Sorridente, o garoto dava entrevistas e abraçava a mãe, logo ali nas cadeiras do Maracanã que gritava seu nome. Diego Maurício. Que futuro ele teria. Parecia mesmo ter. Mas, de repente, o garoto indica mesmo flertar com o desperdício.

Em 2010, em meio ao caos da Gávea, Diego Maurício foi aquele porém. Não era um craque, mas mostrava qualidade. Fazia gols. Entrava com muita vontade nos jogos. Era rápido. Forte. Pelo estilo de jogo, ganhou na Gávea o apelido de Drogbinha. E terminou o ano como titular em meio aos pesos de ouro Deivid e Diogo. Pois 2011 tinha tudo para ser o ano da consolidação. Logo em janeiro lá estava Drogbinha na turma de Neymar e Lucas com a Seleção Brasileira no Sul-Americano sub-20. Reserva de luxo, sempre que entrou deu conta do recado. Fez gols e foi campeão. Valorizou-se. E aí o sucesso parece ter subido à cabeça. De volta ao Flamengo, não conseguiu se firmar. Não são poucas as notícias do Ninho do Urubu sobre atrasos e repreensões. Negueba tem sua chance entre os titulares. Luiz Antônio também. Diego Maurício dificilmente joga mais do que 20 minutos no time de Vanderlei Luxemburgo. Não pode ser ao acaso.

Há pouco mais de um mês, Drogbinha teve proposta para ir para o futebol ucraniano. Empolgado com a possibilidade da independência financeira, topou a aventura. Porém, Dentinho, do Corinthians, chegou antes à Ucrânia. E Diego Maurício continua sua cartilha para se valorizar cada vez menos. Em vez das arrancadas e da vontade de 2010, poucas participações. Do garoto sempre solícito a entrar em campo ao que pede liberação do jogo da final de juniores para o qual havia sido requisitado.

Entre Twitter, iPad e conselhos não tão aconselháveis nos bastidores, Diego Maurício, uma das boas revelações do Flamengo nos últimos anos, parece não ter se encontrado nos profissionais, como previsto. Para um jovem de 20 anos, no entanto, ainda há tempo. Basta levantar a cabeça, demonstrar vontade no Mundial sub-20 e na volta ao Flamengo. Ser o Drogbinha rompedor, de chute forte e velocidade elogiável. Assim, deixará de ser descartável. Será valorizado. E não mais trilhará o caminho do desperdício.

3 de julho de 2011


Em defesa de Dunga

Dunga deixou o comando da Seleção Brasileira dias depois da eliminação para a Holanda na África do Sul. Pagou mais pela falta de educação e pelo destempero do que propriamente pelo seu trabalho. À frente da Seleção Brasileira, o papel do Capitão do Tetra foi, sim, bom. Campeão da Copa América, Campeão da Copa das Confederações, classificado por antecipação para a Copa da África, onde caiu nas quartas de final em jogo duro diante de uma das finalistas. Não é pouco. Mas Dunga está marcado pelos palavrões, o jeito ranzinza. Mano Menezes, seu sucessor, trilha o caminho contrário e já é dotado de um escudo tanto por parte da torcida como por parte da mídia.

Imagine você se Dunga houvesse disputado amistosos diante de Argentina, França e Holanda com um saldo de duas derrotas e um empate em casa? Seria massacrado. Mano Menezes não foi. Sorri, tenta manter o equilíbrio e quase não leva pedradas. A Seleção de Dunga contava com um padrão tático, gostasse você ou não, além de ser ser competitiva e eficiente. Praticamente as mesmas caras figuravam na equipe titular. A Seleção de Mano parece não ter padrão tático, há várias indefinições no time titular e está longe de ser competitiva. Pegue como exemplo o jogo diante da Venezuela. Nenhuma jogada tramada, pouca inspiração, um Brasil nem um pouco empolgante diante de uma das babas da América do Sul. Um empate sem gols de dar dó.

Dirão os defensores de Mano que ele não contou com tempo para treinar a Seleção. Ora. Mano estreou há quase um ano, em agosto de 2010, e teve oito jogos até a Copa América. Não há razão para a Seleção Brasileira hoje não contar com um mínimo de padrão de jogo. Até mesmo uma data Fifa para amistosos foi utilizada apenas para treinamentos pela Seleção de Mano. Fosse Dunga que não apresentasse resultados e as críticas seriam diferentes.

Comparar os trabalhos dos técnicos, determinando quem foi melhor, claro, ainda não é válido, já que Mano está no andar da carruagem e tem apenas nove jogos. Dunga teve 60 até a eliminação na África do Sul. Mas está claro que Mano precisa achar o rumo de sua Seleção e aproveitar a Copa América para dar o seu cartão de visitas. Porque, no fundo, apesar do jeito intempestivo seu antecessor fez, sim, um bom trabalho, com dois títulos e vitórias expressivas sobre rivais. Que a volta por cima comece já contra o Paraguai. Caso contrário, a corneta do povo começará a berrar. E não adiantará xingar, Mano.

É para valer, Mano

Mano Menezes fala manso, conta com a simpatia de grande parte da mídia, é querido, tenta mesclar discrição com firmeza. Mas o período de lua de mel termina a partir de hoje, na estreia da Seleção Brasileira na Copa América de 2011 diante da Venezuela. É inegável: o time de Mano será avaliado com mais rigor na primeira competição oficial sob sua batuta. Depois do torneio na Argentina, a Seleção principal só entrará em campo para valer na Copa das Confederações, o propagado evento teste da Copa do Mundo, em 2013. Portanto, a Copa América deixa de ser mais um torneio para o treinador. É mais do que isso.

A tarefa de renovar a Seleção Brasileira não é nem um pouco fácil. Dunga, há cinco anos, também teve a mesma missão, mas figurões como Kaká, Ronaldinho e Adriano, por exemplo, não eram considerados plano B. Com currículo de bons serviços prestados à Amarelinha, o trio deveria e seria utilizado no time titular em breve. Mano, agora, tem poucos medalhões a recorrer no aperto. Pior: eles são jogadores de defesa. Tanto que após as primeiras experiências o técnico brasileiro chamou Julio Cesar de volta para o gol, Lúcio para comandar a zaga. Diante de grandes seleções como Argentina, França e Holanda, a Seleção de Mano não andou. Mas a fala mansa, a simpatia com a imprensa lhe serviram como escudo.

Na Copa América, o papel muda de figura. O torcedor nas esquinas irá cobrá-lo em caso de vexame. Mano conta, principalmente, com o carisma e, claro, a bola de Neymar para dar cara a uma Seleção ainda irreconhecível para seu próprio povo. Há apostas como David Luiz para zaga, incógnitas Alexandre Pato e decepções como André Santos. Ao Brasil será necessário não só vencer, mas convencer nessa Copa América. Mano está há quase um ano no cargo. Teve tempo para analisar, formar sua base, faz testes, mas a Seleção ainda não tem uma cara. Vale, porém, a chance para observar a Seleção do ex-técnico corintiano e avaliar o que ela poderá fazer na primeira competição em que uma taça está em jogo. A bola está com Mano. Agora é para valer.

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Como todo bom brasileiro, o autor deste blog tem, sim, a sua Seleção ideal em mente para o momento. Lá vai: Julio Cesar; Dani Alves, Lúcio, Thiago Silva e Marcelo; Lucas (volante), Hernanes, Kaká e Ganso; Neymar e Pato. Concorda? Diga a sua.

1 de julho de 2011


A escolha de Conca

Talvez nem mesmo Darío imaginasse que Conca, seu alterego, valesse tanto assim. E lá está o melhor jogador do Brasileiro de 2010 arrumando as malas, rumo ao verdadeiro negócio da China em sua carreira. Em sua vida. Talvez só na timidez diante das câmeras Conca lembre aquele garoto franzino, de cabelo arrepiado e olhos arregalados que aportou no Vasco em janeiro de 2007. Era uma aposta, com o selo de qualidade da base do River Plate, onde por vezes foi renegado, e após boa passagem pelo futebol chileno. Nem de longe Darío, reserva do Vasco e que andava sempre ao lado do compatriota Dudar, imaginaria a valorização que teria quatro anos depois.

Ao receber a proposta do inexpressivo futebol chinês, Conca abriu os olhos. Observou o passado, o presente e imaginou o futuro para si e para a família. Terceiro maior salário do futebol mundial. Inúmeros zeros. 28 anos. Sem passagens por seleção principal ou futebol europeu. Darío não poderia mesmo deixar que Conca deixasse a oportunidade ir embora. Agarrou-a e pediu ao Fluminense que o liberasse para a chance única. Parece ter conseguido. Apesar da tristeza, até o torcedor tricolor lá da arquibancada consegue compreender.

Conca está longe de ser um gênio. Nem craque é. É um ótimo jogador, ainda mais para os padrões atuais do futebol e que vive seu auge técnico, físico e psicológico. Profissional, jogou todos os 38 jogos da campanha do título brasileiro de 2010 do Fluminense enquanto seus badalados companheiros utilizavam o departamento médico como casa. E Conquinha, como é chamado por muitos, aguentou o tranco no alto de seu 1,67 metro e com dores no joelho posteriormente operado. A Libertadores que escorreu entre os dedos em 2008 quando ainda era um coadjuvante também não se apresentou em 2011. Missão cumprida. Protagonista no futebol brasileiro após ser ignorado no futebol argentino.

Enquanto a Argentina estreia na Copa América nesta noite, Conca arruma as malas, faz exames físicos e se prepara para encher os bolsos e garantir seu futuro nos próximos dois anos e meio na aventura chinesa. Na terra portenha, seus compatriotas o ignoram. Acham até graça como aquele canhotinho pode ficar atrás apenas de Messi e Cristiano Ronaldo no ranking da grana. E o River Plate, que ignorou sua prata da casa, amarga o rebaixamento. Com o sorriso tímido característico, Conca sabe que sua missão foi cumprida no Brasil. Cabe ainda a confirmação. No mundo da bola, o baixinho pode até permanecer no Tricolor. Mas Conca está decidido a saltar sobre o cavalo encilhado. Uma boa escolha.