20 de novembro de 2011


O Flamengo que não é Flamengo

O sonho dourado de o Bonde passar por cima de todos em 2011 com o sorriso do craque dentuço no comando foi por água abaixo. Achar um só culpado é bobagem. O Flamengo, do alto de seu pedestal, tem de olhar para si. É grande, mas deixou de ser grandioso e se fazer respeitado de verdade há tempos, com a rara exceção de 2009. Perde-se, sempre, em meio à bagunça que atola a Gávea e seu frenesí político e à incoerência que hoje invade o Ninho do Urubu. A culpa é de todos. Vai desde Vanderlei Luxemburgo, responsável por treinar o time e gerenciar o futebol, até o mais simples reserva. A torcida, embriagada pela frase "Flamengo é Flamengo" proferida pelo craque da camisa 10, também se empolgou. Acreditou que era simples. No embalo, na camisa e na raça, o time conquistaria tudo que viesse pela frente, sem receios. Não é assim.

Enquanto o Bonde deu certo, com sorrisos, gols no Carioca e trem embalando as comemorações, a diretoria esteve presente. Sorriu. Posou para fotos. Tudo às mil maravilhas. Mas o craque começou a frequentar a noite, o rendimento em campo caiu. O teórico comando do futebol desapareceu. O treinador chamou para si briga com a imprensa e deu destaque exarcebado a situações contornáveis. Em campo, procurou bancar o que tinha em mãos. Deu urros por André enquanto Borges passava à porta. Ignorou Adriano e só ameaçou contratar Love. O preço veio em um time experiente, mas que passou a não ter mais pernas com o andar da temporada. Em dez jogos, quase um terço do campeonato, o Flamengo não venceu. E tudo se manteve estático. Parecia normal. Apenas parecia. Do alto de seu pedestal, o Flamengo olhou para o espelho e garantiu ser impossível um gigante de tal natureza ficar fora da briga pelo título. Com os craques que tinha. Com a força da torcida. Naturalmente estaria na briga até o fim, no mínimo. Não está.

Graças à cultura da bola, a culpa na maior parte das vezes cai em cima do treinador. Não deveria. Luxemburgo tem grande parcela, principalmente por assumir a gestão do futebol, mas, ao pé da letra, não entra em campo. Difícil entender a falta de gana dos jogadores rubro-negros para ser campeão. Vontade não faltou. Mas aquele espírito de querer beijar a taça no fim do ano, ver a carreira valorizada. Não há. Reconquistado a duras penas no fim de 2009, perdeu-se em meio ao turbilhão de 2010 e não mais voltou. A notícia flatulenta de um treino vaza sem propósito, o volante falta ao treino, é afastado e reintegrado. No vaivém de indecisões, o time afundou e o clima pesou. A vaga na Libertadores corre grande perigo e compromete já 2012. O ambiente sugere uma reformulação geral no departamento de futebol e é difícil não concordar. Algo deve ser feito. Porque apesar dos craques milionários, da folha polpuda e da pose, 2011 trouxe uma certeza que deve servir para reflexão: este Flamengo não é Flamengo.

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