18 de outubro de 2011


Um beijo em Rafael Marques

Não direi aqui que sou amigo do peito de Rafael Marques. Certamente não sou. Talvez apenas mais um companheiro de trabalho, do tipo com o qual só esbarramos no dia a dia corrido da profissão. No intervalo de um jogo, antes de um treino ou apresentação de um jogador. Mas de todos os bons momentos que já vivi na carreira, em um deles tive a especial companhia do Rafa. 21 de junho de 2010, em Bloemfontein, África do Sul. Eu mal tinha desembarcado na cidade para o último confronto do Grupo A da Copa do Mundo, entre os Bafana Bafana e a França. No centro de imprensa do Estádio Free State, sigo para buscar meu ingresso para a partida. Enquanto procurava um assento entre os centenas de jornalistas presentes, noto uma mão balançando no ar, efusiva. Era Rafael. Logo levantou, me abraçou e tascou-me aquele beijo fraternal que lhe é característico. Senti-me mais em casa. Com um sorriso de orelha e orelha e em meio à história de sua difícil logística até chegar ao estádio, percebeu que ainda não tinha conseguido um ticket para a coletiva de Carlos Alberto Parreira, treinador da África do Sul, logo após o jogo. Como estava atarefado gravando boletins para a Rádio Globo, pediu-me para buscar um para ele, o que fiz com prazer. Ao fim daquele dia, nos despedimos e marcamos de nos vermos antes do jogo, no início da tarde seguinte.

Dito e feito. Cheguei ao Free State cerca de três horas da partida, escolhi meu local junto a outros jornalistas brasileiros e minutos depois vi Rafael entrar. Sorridente, brincalhão, espalhando beijos aos conhecidos e, como diriam os boleiros, exalando satisfação em estar ali. Saímos, então, eu e ele para percorrer os arredores do estádio e conversar com torcedores da França e da África do Sul. Ali, naquele caminhar, me emocionei com Rafael. Em meio ao frenesí de uma cobertura de Copa do Mundo, ele conseguiu fazer com que eu parasse por um instante e entendesse onde estávamos. Rafa falava da carreira, do início, de como planejava o futuro, até quando gostaria de ser repórter de clube. Mencionava com saudade a família, a esposa e, principalmente, a filha, a quem atribuía um milagre diário ao acompanhar seu crescimento. Em meio ao mar de torcedores sul-africanos e franceses, Rafael me fez rir ao abordar quase todos, esbaforido, pedindo que posassem para um vídeo que ele postaria mais tarde no site da Rádio Globo. A garotas sul-africanas, pediu que cantassem "Shosholoza". A três franceses, pediu que entoassem "La Marseillaise", o belíssimo hino francês. E nós dois, felizes bobos, ríamos do que presenciávamos. "É minha primeira Copa do Mundo, Pedro. Imagino também que seja a sua. Vamos rir. Vamos chorar. Grave este exato momento, essa atmosfera e lembre do quanto fizemos muito para chegar aqui. Somos privilegiados", disse Rafael. Palavras que, garanto, nunca vou esquecer.

Após aquele breve momento de um turbilhão de emoções, voltamos ao centro de imprensa e depois fomos ao jogo. De volta ao Brasil, encontrei Rafael algumas vezes, dentro e fora do exercício diário da imprensa esportiva. Sempre fui recebido com um efusivo abraço e o beijo que quem o conhece sabe como é característico. Na última semana, soube que Rafa esbarrou em uma daquelas armadilhas que a vida nos proporciona. Aos poucos, pelo que acompanho, felizmente ele vem derrubando barreira por barreira. Não deixei de rezar um dia por ele e sua recuperação desde então. Não deixei de pensar nos planos que ele me relatou naquela tarde em Bloemfontein. Em seu mar de palavras, Rafael me fez entender como devemos apreciar certos momentos e entender tantos outros. Às vezes eles duram só minutos. Só segundos. São raros e passam. E nos tornam mais fortes. Rafael é um cara que vive pelo esporte, pelos amigos, pela família, pelas paixões. Esbanja gentileza e sinceridade. Não conheço uma só pessoa que não goste do Rafa e acompanho com satisfação a imensa onda de carinho que ele recebe. Merecidíssimo. Torço muito para que você saia dessa, Rafael. Estamos todos esperando pelo seu abraço. Um beijo, rapaz. Força.

Um comentário:

f1world disse...

Forca Rafael Marques, saia dessa e volte a exercer sua profissão com muita competência e com alegria!