12 de abril de 2012

A lição que o Fla nunca aprende

Não, o Flamengo não caiu de pé ou de cabeça erguida na Libertadores. Muito provavelmente será o único brasileiro eliminado na segunda fase (ou fase de grupos) da competição. Motivo para refletir. Mais um vexame para a coleção do clube no maior torneio sul-americano. Entre desorganização, despreparo e até arrogância, deixar a competição ruborizado tornou-se lugar comum nos últimos anos. Não há um só culpado. Há, sim, um conjunto de ações que leva o clube a não aprender nunca a lição que a Libertadores dá.

Disputar o maior torneio sul-americano, ao pé da letra, exige algumas premissas. Organização do departamento de futebol, pagamento de salários em dia, cobrança dos atletas, logística perfeita, mas, acima de tudo, seriedade. Não se pode tirar o pé. E de novo, agora em 2012, o Flamengo tirou. Abriu 3 a 0 sobre o Olimpia no Engenhão e permitiu o empate em 15 minutos. Dois pontinhos num piscar de olhos que custaram, na frieza dos números, a classificação. Há sempre um apagão como em 2012 ou 2008 frente a Cabañas e companhia, com direito a festa para Joel Santana antes. Ou uma discussão interna, no vestiário, como em 2007 contra o Defensor. Uma confusão na Vila Cruzeiro que afasta o grande artilheiro, no caso Adriano, em 2010. Aos trancos e barrancos, o Flamengo acredita que, um dia, irá chegar de novo ao título. Não vai conseguir. Mesmo.

Basta aos rubro-negros olhar ao seu redor. Santos e Internacional, os últimos dois campeões, não conquistaram a competição apenas na camisa. Nem na base do "vamos lá". São clubes com história, mas também organizados, com preparação adequada, conhecimentos dos adversários e imensos planos de marketing. Buscam projeção internacional com trabalho dentro e fora de campo. O Colorado se vangloria de seu quadro de sócios, contrata jogadores, revela tantos outros bons valores. O Santos transborda em bons patrocinadores, mantém Neymar e Ganso mesmo diante de tantos holofotes e badalação, arrebata torcedores jovens. O Flamengo nem patrocinador master consegue, não aproveitou o impacto da chegada de Ronaldinho e vive mergulhado em notícias de desmandos. Não é mesmo por acaso a eliminação precoce.

Enquanto o Flamengo permanecer estagnado no tempo, agarrado a velhas tradições, à confiança de que a mística do time criada na geração Zico bastam para voltar a ser campeão da Libertadores e mundial, continuará a observar adversários cada vez mais ferrenhos o ultrapassando nesta briga. Em vez de lamentar a falta de sorte e sustentar discursos surrados de que o time fez a sua parte - quando claramente nem isso fez - o Flamengo deve acordar para o futuro. Até o Corinthians, seu companheiro gigante nos cenários nacional e mundial, soube sair da tragédia de um rebaixamento, em meio à desorganização, para entender o panorama de um futebol atual comandado pela profissionalização. Que mais uma eliminação acenda de vez a luz na Gávea e Ninho do Urubu. Democracia não é anarquia. E o Flamengo, enfim, compreenda a lição que teima em não entender.

Reizinho ou plebeu?

De tão forte, o desejo de vê-lo novamente com a camisa cruzmaltina era quase palpável nas arquibancadas e fazia fervilhar a social de São Januário. Parecia se materializar nos gritos recordando o histórico gol no Monumental de Nuñez. De longe, com sua conduta digna dentro e fora de campo, o futebol de classe e as batidas na bola que só os craques compreendem, Juninho fazia suspirar os vascaínos no Brasil. No retorno, poderia ter optado, como tantos outros, por assinar um contrato milionário, fazer exigências, ter caprichos. Mas não. Juninho, o Reizinho da Colina, reassumiu sua coroa em São Januário com simplicidade. Salário minimamente simbólico. Queria provar a si mesmo e à torcida de que poderia ser últil por mais seis meses e dar adeus de forma digna. Mas deu certo até demais. Hoje, de forma triste e irônica, paga por isso.

Logo na estreia, gol de falta. Êxtase nas casas vascaínas. Os gols, as belas atuações e a postura de liderança tornaram Juninho, de novo, referência no elenco vascaíno. O acerto pelo renovação chegou. Coerente, o camisa 8 propôs receber uma boa quantia por jogo disputado, mais um pequeno bônus por gols marcados. Do alto de seus 37 anos, Juninho conhece os limites que seu corpo já impõe. Dessa maneira, evitou viajar para o exterior. Preferiu se poupar dos desgastes de longas horas em aviões para estar às ordens em clássicos e jogos disputados da Libertadores em casa. E pagou pelo sucesso, pelo toque refinado, a batida perfeita na bola. Faz sempre falta à equipe. Tornou-se vítima dos cochichos de corredores, da desconfiança de quem antes gritava seu nome na arquibancada. Joga o Estadual, mas não a Libertadores. Enfrenta times pequenos e faz gols. Vê seu bônus crescer. Pura tolice.

Fosse tão interessado na parte financeira, Juninho não teria abandonado o futebol do Qatar ou tomaria novamente os rumos do chamado mundo árabe no início de 2012. Mas fez o caminho contrário. Por honrar como poucos a cruz-de-malta que leva no peito, decidiu ficar. Aos 37 anos, enfrenta desafios, não falta a treinamentos, por vezes joga o fino e compreende o amor da aquibancada. Sabe o que representa para cada torcedor que chega em São Januário pronto para assisti-lo. Em 2012, Juninho disputou 14 jogos. Recebeu apenas por um. Nem precisava mais estar ali, mas, ainda assim, ouve picuinhas, histórias de corredor e enfrenta desconfianças. Parecem não se lembrar mais de quão diferenciado Juninho é. Magoado, expôs sua chateação. O que deveria ser uma festa já ganha contornos de crise. Incoerência de um Vasco que sonhou em ter seu Reizinho de volta e, agora, insiste em tratá-lo como um simples plebeu.

9 de abril de 2012


Vaca do Verdão rumou para o brejo

A ideia, na verdade, saiu dos bares. Quantas vezes já não se ouviu por aí o rame-rame de que bastaria a qualquer grande clube pedir R$ 1 a todos os seus torcedores para contratar um bom reforço? Pois o Palmeiras teve coragem e o fez sair do papel. Talvez na tentativa de maquiar o processo e torná-lo mais profissional, denominou de crowdfunding a iniciativa de pedir ajuda financeira aos torcedores para contratar Wesley. No fundo, era a boa e velha vaquinha. Enfrentou deboches em toda esquina. Do total de R$ 21,4 milhões, a ajuda dos palmeirenses alcançou, de acordo com notícias, quase R$ 800 mil. Ainda assim, Wesley vestiu a camisa do Verdão. E, por sorte, a tal vaquinha não deu mesmo certo.

Em seu quarto jogo pelo clube, o volante sofreu lesão grave no joelho direito. Ligamento rompido, ao menos oito meses fora de ação. Bola, só em 2013. Fim de temporada. Lamentos no Palestra. Menos mal que o montante pela aquisição de Wesley tenha vindo mesmo do bolso da diretoria palmeirense. Pois imagine caso a vaquinha tivesse dado certo. Na fantasiosa cabeça do torcedor, o volante seria quase sua propriedade. Ele, enquanto "dono", acreditaria ter direitos. Pagou e nem mesmo viu Wesley em ação. O mais fanático poderia buscar uma reparação na Justiça, ainda que o caminho pudesse levar ao nada. Ao se ver livre do fundo dos torcedores, o Palmeiras livrou-se, na verdade, de transformar em realidade o virtual poder que a arquibancada já acredita ter sobre os jogadores. Menos mal. Porque a vaca palmeirense em 2012 foi, mesmo, para o brejo.

Muito barulho por nada

O Vasco de Ricardo Gomes e Cristóvão Borges sempre se pautou pela decência. Dentro e fora de campo. A entrega à beira da exaustão em busca das vitórias nos gramados foi motivos de elogios tanto quanto a postura serena com que o elenco se comportava mesmo diante de adversidades. Não que o time não possa nunca se irritar ou reclamar. Por vezes é até válido. Mas não da maneira desmedida como ocorreu no clássico contra o Flamengo. Dedos apontados para o rosto do árbitro, empurra-empurra, expressões ensadecidas. Diante de tanta cólera, houve até quem perguntou o porquê do comportamento cruzmaltino. Ainda uma incógnita.

Em um jogo bem disputado, com limitações técnicas e táticas, não houve grande polêmica. Vá lá que Welinton possa ter cometido pênalti em Thiago Feltri. Mas o lance esteve longe de ser claro e a partida, aquém de qualquer decisão. Há também quem lembre os pênaltis não assinalados contra o mesmo Flamengo por Péricles Bassols no Brasileiro do ano passado. Alhos com bugalhos. Tamanha reação retardada não se justificaria ainda assim. Entre destemperos, o Vasco trilha perigoso caminho que deveria já ter deixado para trás, sem saudade.

Afinal, uma das razões para a eleição de Roberto Dinamite ao cargo de presidente do Vasco foi justamente romper com a figura retrógada de Eurico Miranda. Mas logo ao final do clássico, à beira do gramado, Dinamite euricou. Expressão de fúria, reclamação aos microfones, acusações de roubo. Aos poucos, a nova administração vascaína traz o Vasco para a simpatia do torcedor de futebol. A rivalidade, claro, ainda existe. Mas o ranço presente com a ditadura euriquista começa a dar lugar à admiração por um clube que, ainda que com seus defeitos, melhora a olhos vistos. Quem sabe com sua voz pausada, sua postura serena, Cristóvão Borges, agora auxiliado nos bastidores por Ricardo Gomes, indique que o caminho trilhado não é indicado. Desta vez, o Vasco visitou o triste passado. E fez muito barulho por nada.

5 de abril de 2012


O fantástico mundo rubro-negro

Só mesmo no fantástico mundo rubro-negro houve quem não desconfiou que as linhas tortas traçadas no início da temporada não teriam reflexo. A doce ilusão de que a camisa e o fato de ser o clube mais popular do Brasil levarão o Flamengo novamente a uma grande conquista internacional compõem o fantasioso panorama. Nem mesmo os constantes choques de realidade proporcionados pelos seguidos vexames na Libertadores desde 2002 parecem acordar os rubro-negros entorpecidos por uma mística que parece perdida nos tempos de Zico. Tempos estes que muitos nem mesmo presenciaram, mas acreditam, solenes, de que ainda está em curso. Pois saiba, caro habitante do fantástico mundo rubro-negro, que não está.

Há tempos o Flamengo deixou de ser respeitado simplesmente por ser enorme fora de campo. Dentro dele, não o é por seguidas temporadas. Claro, há exceções como o título brasileiro de 2009. Pouco, mas absolutamente justificável para um clube refém de um comportamento que extrapola as raias do profissionalismo como quem troca de camisa. O problema rubro-negro não reside na contratação de Joel Santanta, no vaivém de jogadores tecnicamente fracos, na falta de padrão do sistema defensivo. É estrutural e cultural. No fantástico mundo rubro-negro, jogadores regem seus caminhos a bel-prazer, sem necessidade de prestar contas de seu serviço como qualquer profissional remunerado. No alto da montanha, pacata e omissa, a diretoria a tudo observa com a complacência de uma mãe que não se importa em apenas mimar o filho em vez de educá-lo para os desafios que terá pela frente.

Pois de nada adianta o torcedor habitante do fantástico mundo rubro-negro bater no peito que seu clube é grande, a mística é sedutora, a força é inegável e o título da Libertadores virá apenas com o tempo. O Flamengo de hoje desconhece a competição e nem mesmo se esforça para entendê-la. Os vexames são comuns. Em meio a seus inúmeros erros, Vanderlei Luxemburgo tinha um propósito positivo: dar o mínimo de cara profissional ao futebol rubro-negro. Treinos no horário, exigências, CT em curso e consequente chegada de patrocinadores. Foi ceifado por um amadorismo permissivo com noitadas de jogadores de fortunas no bolso e desempenho pífio em campo. Não tolerou, dançou. Menos um na lista dos que lutam contra o ranço que impede que o Flamengo volte a caminhar rumo à sua grandeza.

Em seu delírio contínuo, o habitante do fantástico mundo rubro-negro também tem sua culpa. Exige profissionalismo de Ronaldinho e pede a volta de Adriano. Critica Luxemburgo por suposta retranca e exalta Joel e seu estilo boleiro. Contradições que formam o Flamengo atual em um monstrengo que caminha e tropeça nas enormes pernas. De classificação na bacia das almas a esperança de uma simples vaga na Libertadores, o sonho de reviver os tempos de Zico é alimentado. Mas entre jogadores sem a consciência do que é o clube, vazamento de informações para enfraquecer condutas de profissionalismo, o sonho se perde. O Flamengo, hoje, é mero coadjuvante no cenário sul-americano. Em benefício do clube, todo torcedor deveria reconhecer isso. A não ser, claro, que esteja no fantástico, e triste, mundo rubro-negro.

A espera por Kaká

Kaká voltará, sim, à Seleção Brasileira. É praticamente inevitável. Tem bola, histórico e carisma para isso. Não se deve, no entanto, colocar o carro na frente dos bois. Parece inútil explicar em um país com milhões de treinadores. Se há pouco mais de dois meses o camisa 8 do Real madrid deveria se refugiar no Brasil para terminar a carreira dignamente, hoje representa aquele fio de esperança que vai fazer com que a Seleção volte das cinzas. Já foi assim com Ronaldinho. É assim com Kaká. Será no futuro com outro jogador de porte.

Apesar de todos os erros em que já cometeu em quase dois anos de Seleção Brasileira, Mano Menezes trata o episódio de Kaká com a devida precaução. Deve lembrar que o meia esteve na Copa de 2010 praticamente no sacrifício. Depois disso, sucumbiu às lesões. O futebol de incríveis arrancadas, passes certeiros e belos gols deram lugar às notícias de tratamentos, passagens pelo departamento médico e incertezas. Aos poucos, Kaká está voltando. Obviamente, aos 30 anos não será o mesmo jogador que aos 26 anos foi qualificado como o melhor do mundo. Mano sabe disso. E tem razão.

Convocar Kaká justamente agora, às vésperas dos Jogos Olímpicos, seria uma injustiça. Mais uma lesão ou atuação apagada a nuvem de desconfiança voltaria a pairar sobre o camisa 8. Melhor guardá-lo, apreciá-lo em evolução no Real Madrid e confirmar sua plena recuperação física. A partir daí, passagem carimbada para a Seleção, com efetivas chances de manter-se assim até a Copa do Mundo de 2014. Kaká ainda está longe de ser veteraníssimo, tem condições de continuar em bom nível até o Mundial e, acima de tudo, preza por sua profissão, de atleta profissional. Convém esperar por ele.