26 de setembro de 2011


O direito de dizer não

O queixo da maioria dos comentaristas e boleiros despencou. Mário Fernandes, jovem lateral e zagueiro do Grêmio, ousou dizer não para a Seleção Brasileira. Aos 20 anos, ainda uma promessa, o gremista teve a coragem que muitos medalhões não têm mesmo após anos de experiência no mundo da bola. Não rumou para Belém, onde encontraria os companheiros, vestiria a camisa amarela e enfrentaria a Argentina em uma partida sem valor algum. Por contrariar o sagrado e questionável mandamento de servir à Seleção, Mário sofre com críticas de todos os lados. Compreensível, mas não aceitável. Afinal, Mário Fernandes tem o simples direito de dizer "não, obrigado" a Mano Menezes e sua trupe amarelinha.

Na bíblia dos moralistas de plantão, a atitude do lateral gremista é altamente perigosa. Colocará em risco sua carreira, a possibilidade de vingar no futebol e deve até mesmo nunca mais ter uma chance de vestir a camisa da Seleção. Mas quem disse, cara-pálida, que o sonho de todo jogador de futebol é exatamente vestir a camisa da Seleção Brasileira? Mário Fernandes e outros estão aí para provar o contrário. O sonho do lateral pode ser o de fazer história no Grêmio, depois rumar para o futebol europeu e ter estabilidade financeira. Seleção? Talvez em algum momento. Mas sem essa necessidade de se envergar a um desejo que muitos imaginam ser coletivo. Não é. Mário Fernandes possivelmente ficará rotulado pelo resto da carreira como o jogador que decidiu dizer não à Seleção. Um absurdo, um acinte, muitos dirão. Dois pesos, duas medidas.

Pois Muricy Ramalho em 2010 decidiu permanecer no Fluminense por motivos que só ele bem soube compreender. Foi tachado como "de muita personalidade", "um técnico sério, que não se curva à CBF". Muricy teve o seu direito de dizer não. Mário Fernandes, agora, parece tolhido de qualquer possibilidade. Talvez por ser garoto. Talvez por não ser um professor. E já sofre com o peso de sua decisão ao ser chamado de louco, irresponsável ou inconsequente aos quatro ventos. O que acontecerá com a carreira dele só mesmo o tempo poderá nos dizer. O gremista não é louco, inconsequente ou traidor da pátria. Mário Fernandes, simplesmente, tem o direito de dizer não.

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