6 de setembro de 2011


A palavra de Abelão

O primeiro Brasileiro de pontos corridos já estava a pleno vapor em 2003 quando 13 jogadores resolveram deixar a Ponte Preta. Nove tinham um motivo: salários atrasados. No comando de um navio que parecia fadado ao naufrágio chamado rebaixamento, saltou aos olhos a atitude de Abel Braga. Campeão pelo Vasco, respeitado no futebol francês e bem resolvido financeiramente, Abelão tinha tudo para pedir o boné. Não pediu. Perguntado sobre o porquê de seguir na luta mesmo com sondagens de outros clubes, o treinador garantiu que deveria cumprir a palavra de deixar a Ponte Preta na Primeira Divisão. Poucos levaram fé na permanência dele no clube e da Ponte Preta na elite do futebol brasileiro. Pois o treinador cumpriu sua palavra.

Por isso, não é de se estranhar que Abel Carlos da Silva Braga tenha cumprido sua palavra mais uma vez no Fluminense. Possivelmente um caminhão de dólares para comandar a seleção dos Emirados Árabes lhe seduziram. Mas o fato é que Abelão disse não. Era sua obrigação com um clube que o aguardou pacientemente por três meses, abrindo mão talvez até do restante da temporada e sob uma chuva de críticas, fossem elas justas ou não. O Fluminense não merecia uma traição de Abel, que vez em outra jura amores pelas três cores que traduzem tradição. Mas bastava olhar o histórico do treinador para saber que ele manteria, sim, a sua palavra. O estilo de Abel é cada vez mais raro no meio boleiro sujeito a piores decisões.

Abel é ao mesmo tempo profissional e amador. Profissional porque mesmo que admita ser tricolor não se furtou de comandar o rival Flamengo em 2004. Amador porque à beira do gramado o treinador parecia ser rubro-negro de carteirinha. Como foi pontepretano. E, claro, colorado, com o título mundial em 2006, sua consagração. Seja de agasalho vermelho, rubro-negro, tricolor ou alvinegro no banco de reservas, é daquelas raras figuras que não mudam de comportamento de acordo com o clube. Abel é Abel. Sempre. Xinga, berra, vibra, desanima de acordo com os resultados da camisa que veste. Geralmente, vai até o fim. É a palavra de Abelão.

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