1 de setembro de 2011


Fora de série extracampo

Em meados dos anos 2000, Romário começou a flertar com a política. Filiou-se a partido, mas garantiu que não seria nada demais. Mas a veia política do Baixinho começou a saltar. Na caminhada pelo milésimo gol, em 2007, sensibilizou muita gente ao discursar no Congresso a favor dos portadores da Síndrome de Down, como Ivy, a filha que levava ao colo no discurso. Emocionou-se e decidiu, então, lutar por alguns direitos de maneira enfática. De terno e gravata. Ali, o futebol brasileiro viu o nascer de um fora de série extracampo.

Romário não tem papas na língua. A vida financeira é estável, o talento dentro dos gramados inegável e o prestígio de ser um dos melhores do esporte na história, inabalável. Eleito deputado federal, o Baixinho deu um bico na vida sossegada e pôs-se a desafiar os desmandos de quem faz o que quer com o dinheiro público. Assessorado por uma boa equipe, o ex-atacante fiscaliza, cobra e põe a boca no trombone contra descasos de obras da Copa, convoca o todo poderoso presidente da CBF para prestar esclarecimentos sobre orçamentos do Mundial de 2014. Poderia ser demagogia. Mas o Baixinho não é disso. E paga o preço.

Lembre do pomposo sorteio para as eliminatórias da Copa realizado no Rio de Janeiro. Ronaldo, o bacana amigo da Casa Brasileira do Futebol, estava lá, pimpão e rechonchudo dentro de um terno e com a mão girando em um pote recheado de bolinhas. Nunca o Fenômeno esboçou qualquer crítica contra absurdos como a isenção do Itaquerão, os saltos orçamentários da nababesca obra no Maracanã. Romário não estava na festa. Heroi do Tetra, foi deixado de lado justamente por estar ao lado do povo que o elegeu. Tem poder político para contestar e legitimidade de um ídolo para chamar atenção para qualquer episódio. Faz-se valer da maravilhosa era das redes sociais, onde encontrou um palanque extremamente efetivo para expôr sua opinião.

Com o mesmo ímpeto com que partia para cima dos zagueiros, ele pergunta de quem é a responsabilidade sobre as comidas estragadas dos funcionários do Maracanã e discursa sobre as desapropriações em comunidades para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Romário é cria da comunidade do Jacarezinho, no Rio, e parece lembrar das dificuldades que passou na infância. Genial como sempre foi dentro dos gramados, o eterno camisa 11 da Seleção Brasileira mostra que a tarefa de servir a pátria lhe cai mesmo muito bem. E entre os boleiros do Congresso, destaca-se na luta por fugir da pasmaceira e dar a cara à tapa. É, sem dúvidas, um fora de série também extracampo.

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