30 de agosto de 2011


Por Leonardo André, jornalista e assessor de imprensa do departamento de futebol do Flamengo

Há alguns anos, eu achava essas peladas de profissionais de imprensa contra ex-jogadores e/ou integrantes da comissão técnica dos clubes algo muito legal. Foi em um desses eventos que conheci Ricardo Gomes. Sem saber que o meu futebol não mete medo em marcador algum, ele logo mandou o recado quando viu que eu jogaria de atacante: “Não apronta correria para cima de mim, respeita a minha idade”. Eu sorri e respondi sem pensar: “Mesmo que eu quisesse, não seria maluco. Eu respeito a tua história”. Naquele dia, o máximo que consegui no imenso campo das Laranjeiras foi um bom passe, mas Ricardo não estava mais em campo.

A convivência diária com Ricardo Gomes aconteceu somente em 2004. E tudo que eu ouvia falar dele se confirmou. Ricardo é o tipo de pessoa que milita no futebol porque gosta, não porque precisa de holofotes para massagear seu ego. Foi nos poucos meses de Tricolor que virei fã dele. Educado, gentil, sincero, firme sem ser estrela, decidido, mas sereno, Ricardo era incapaz de tratar mal alguém.

No Brasileiro de 2004, em um jogo contra o São Paulo, Ricardo substituiu Edmundo no intervalo, perdeu a partida, e o atacante não poupou críticas ao treinador. No dia seguinte, liguei para o Ricardo, que mostrou a tranqüilidade de sempre. “Léo, o Edmundo pensa de uma forma e eu de outra. Mas a conversa vai ser interna, e o assunto será resolvido. Discussão pública não é comigo”. E eu realmente não esperava nada diferente. Firme sem ser espalhafatoso, Ricardo contornou a situação, Edmundo se desculpou e a vida seguiu.

Meses depois, Ricardo negociava sua ida para o Flamengo. Eu nem fazia a cobertura rubro-negra, mas queria muito vê-lo na Gávea. Quando soube da chance, mandei um torpedo. “É só curiosidade...rs...Só quero saber se vou te ver de Flamengo agora. Abraços, Léo”. Não demorou muito e veio a resposta. “Pode ficar feliz. Vou treinar o teu time. Forte abraço”.

Quando Flamengo e Fluminense se enfrentaram no Brasileiro de 2004, Ricardo treinava o Fla, e Edmundo continuava no Flu. Foi do atacante o gol da vitória tricolor por 2 a 1. No dia seguinte, Edmundo quebrou o gelo e me deu uma longa entrevista pelo telefone. Aproveitei para matar uma curiosidade. “Você teve um problema com o Ricardo no Fluminense, mas foi abraçá-lo antes da partida. Eu achei estranho...” Edmundo nem me deixou terminar a pergunta. “Léo, é impossível não gostar do Ricardo. Naquela discussão, eu era o errado. Passou, eu adoro ele”.

Depois que foi para o a França, o contato com Ricardo diminuiu. Algumas vezes, porém, seu nome era falado para voltar ao Fluminense. Em duas ocasiões, conversamos por telefone sobre o assunto e, ao dizer que tudo não passava de especulação, eu tinha a certeza de que ele falava a verdade. Em 2009 e 2010, quando jogamos contra o São Paulo, fiz questão de cumprimentá-lo no vestiário antes dos jogos e sempre ouvi um “Como é bom te ver”, frase simples, mas que retratava o carinho e a cordialidade de uma pessoal especial.

No domingo, antes do clássico, ia seguir minha rotina e dar um abraço no Ricardo mais uma vez. Pensei e achei melhor deixar para depois da partida. Agora, não vejo a hora de encontrá-lo e poder dizer: “como é bom te ver”. Força, amigo...

18 de agosto de 2011


Falta de bom senso

Ambos os lados têm, no fundo, sua razão. Mano Menezes em convocar Ronaldinho e se proteger ainda mais diante de novo fracasso que pode pôr seu cargo a perigo. A torcida rubro-negra em chiar com a possibilidade de não o ter ou tê-lo exausto em importante partida contra o Corinthians pelo Campeonato Brasileiro. Técnico da Seleção Brasileira, Mano pode e deve convocar quem bem desejar. Poderia, ao menos desta vez, ter bom senso. As relações do comandante brasileiro com o Corinthians são cristalinas e justificáveis por sua boa passagem pelo Parque São Jorge. Por isso, cautela neste momento seria de bom tom.

Por mais que teorias conspiratórias viagem no espaço diante da tal relação Mano-Corinthians, não há, caro rubro-negro, qualquer esquema para prejudicar o Flamengo e dar a taça ao Timão com inúmeros desfalques. Mas Mano desfalcou os cariocas diante do próprio Corinthians no primeiro turno do Brasileiro ao convocar Thiago Neves e utilizá-lo apenas por alguns minutos. Agora, repete a dose com Ronaldinho. A ira rubro-negra é compreensível. O que mais você poderia esperar de um torcedor, portanto? Apenas a defesa de seu clube mesmo. E Mano poderia, sim, ter evitado o disse-me-disse que, pasmem, pode durar até o fim do campeonato. Afinal, Ralf não representa nem de perto para o Corinthians o que R10 significa para o Flamengo.

Pois digamos que Ronaldinho jogue contra o Timão e seja discreto. "Está cansado por culpa do Mano!", praguejará o rubro-negro. Ainda que pedir razão ao torcedor diante de tal situação, vale lembrar: R10 voltou ao Brasil com o discurso de que queria recuperar o bom futebol e, consequentemente, a vaga na Seleção Brasileira. Conseguiu. A reboque, a boa fase e a convocação de Ronaldinho trarão benefícios futuros ao Flamengo, como patrocínio, visibilidade e, principalmente, a recuperação da imagem do clube, ainda desgastada com o Caso Bruno, um dos fatores que, acredite, emperrou o alto valor de patrocínio para 2011. E, convenhamos, o campeonato não será definido em apenas uma rodada. Bater o Corinthians vale em termos práticos tanto quanto vencer o América-MG. Mas, sim, faltou bom senso a Mano Menezes.

17 de agosto de 2011


Pedigree de Seleção

Não há mais como adiar. A partir da lista de convocação desta quinta-feira, Mano Menezes deve definir uma boa base e seguir com ela para o que der e vier. Fernandinho, Jadson? Nem pensar. Muito menos André Santos. É hora de Mano chamar o que temos de melhor em todas as listas que puder. Deixe as birrinhas de lado. Sem mimimi, treinador. Convoque quem tiver cara de Seleção. Não compreende? Pois vejamos. Marcelo deve ser o dono da lateral esquerda, pouco importa o que tenha feito. Converse, dê nova chance. No gol, Julio Cesar tem falhado demais e Jefferson mostra sempre estar em ótima fase. Neymar é craque, já provou isso. Uma hora vai arrebentar também com a camisa amarela. Basta apostar, insistir. Deixe Lucas Leiva de lado. Traga logo o Hernanes, aquele amistoso contra a França já passou e a expulsão, também.

É claro que o técnico da Seleção já enfrenta grande pressão. Diante dos grandes e em uma competição oficial, o time brasileiro não andou. Mas mandá-lo embora agora é bobagem. É hora de dar uma cara à equipe, chamar os jogadores que podem dar a qualidade necessária para que o Brasil volte novamente a ser respeitado pelos adversários. Até pouco tempo atrás, bastava sair na rua e perguntar quem estava na Seleção Brasileira. Citariam Ronaldo, Ronaldinho, Kaká, Adriano, Gilberto Silva, Dida. A Seleção estava na boca do povo. Não está mais. Mano tem, sim, enorme culpa no estágio atual do time canarinho. Teve um ano, jogos amistosos, competição oficial para definir uma base. Até mesmo um período de treinamentos na Europa, quando não marcou amistosos. Não definiu e simplesmente patinou com nomes claramente errados como André Santos.

A geração, claro, não está no auge e nem mesmo sabemos se um dia estará no topo do mundo como Ronaldinho, Rivaldo e Ronaldo estiveram nas últimas décadas. Por isso, vale azeitar o time com os bons jogadores que temos à disposição, casos de Neymar e Lucas, e lá na frente trazer de volta figurões que estejam em boa fase, como Ronaldinho atualmente e, quem sabe, Kaká. No momento é necessário fazer o básico, dar uma cara ao time, repetir convocações, dar murro em ponta de faca se for necessário. E, com o tempo, mostrar bom futebol e vencer. O projeto ainda está nas suas mãos, Mano. Nada de Fernandinho, Luiz Gustavo, Renato Augusto, simples apostas. Mas, sim, um time com caras que tenham pedigree de Seleção.

15 de agosto de 2011


A soberba do apito

A postura por vezes é arrogante, os gestos são excessivos e a incoerência, uma marca registrada. A arbitragem brasileira, não é de hoje, vive uma crise. Não há um padrão a ser seguido. Cada árbitro parece julgar por si o que é necessário fazer em campo para o bom andamento da partida. Jogadores, técnicos e clube devem se cuidar no Deus no acuda dos gramados brasileiros. O que significa cartão amarelo para determinado árbitro, nem mesmo digno de advertência é para outro. Difícil crer em má-fé, predisposição para prejudicar esta ou aquela equipe.

A clara falta de padronização da Comissão de Arbitragem brasileira é diretamente responsável por episódios como o ocorrido em Figueirense x Flamengo. Heber Roberto Lopes por vezes demonstra grande benevolência com o time da casa. Em lances idênticos, amarelo para os visitantes, no caso de Florianópolis, o Flamengo, e nenhum para os mandantes, o Figueirense. Nada contra o Rubro-Negro em particular. É apenas o seu padrão.


Assim como o de Leandro Pedro Vuaden é deixar o jogo correr. Há falta que, em sua opinião, não vale marcar. Simplesmente. E daí que toda falta é obrigatoriamente falta? O árbitro escolhe a sua padronização e caminha sozinho em seu mundo próprio. São as suas senhorias do futebol. Gostam do holofote para si. E há, ainda, os que são fracos tecnicamente por natureza. Não? Pois observe o impedimento marcado após um lateral na partida entre Bahia e Internacional neste fim de semana. Isso mesmo. Impedimento em lateral. Total desconhecimento da regra.


Há, claro, bons profissionais que pouco são notados. Não gostam de ser chamados de sua senhoria, não fazem ameaças a jogador, controlam a partida e mantêm o critério para os dois lados. São discretos. Ou você realmente lembra o nome da partida mágica entre Santos e Flamengo na Vila Belmiro? Provavelmente não. Mas André Luiz de Castro, árbitro daquela partida, conduziu o jogo sem ser vedete. Fosse propenso aos holofotes e certamente estragaria o espetáculo ao seu prazer, deixando Neymar e Ronaldinho tímidos. Poderia ameaçá-los com o apito estridente, deixar os jogadores irritadiços com tanta contradição. Mas é exceção em um futebol assolado pela soberba do apito.

13 de agosto de 2011


Há razão para mágoa

"Da nossa parte não há mágoa com o Ronaldo", disse a presidente Patricia Amorim após anunciar o novo patrocinador do Flamengo, em negociação que contou com a participação direta da empresa do Fenômeno. Pois Patricia, representante do maior poder do clube da Gávea, deveria, sim, demonstrar mágoa. Basta procurar nas ruas, nas arquibancadas e nos arredores dos estádios a opinião dos rubro-negros. A maioria esmagadora tem, sim, mágoa de Ronaldo. Não é para menos.

Em 2008, o Fenômeno viveu talvez sua fase mais difícil como jogador. Nova lesão no joelho, nova cirurgia e carreira já em curva descendente. Procurou, então, o amor que sempre disse que buscaria um dia. Bateu na porta da Gávea. Foi prontamente atendido. Desde profissionais do clube exclusivos para sua recuperação até carinho da torcida em manifestações. No inconsciente coletivo rubro-negro, bastava Ronaldo se recuperar para entrar em campo pelo clube. A proposta seria uma mera formalidade. Era um acordo de paixão. Ele sempre quisera. A torcida queria. A diretoria também. Questão de boa fé.

Meses antes, ainda sem treinar, Ronaldo apareceu no Maracanã na final do Campeonato Carioca com camisa do Flamengo. "Não posso ver a hora de estar em campo com essa nação atrás", disse o então atacante. Não se cansava de alimentar um sonho, que, no fundo, também era seu. Pois no apagar das luzes de 2008, Ronaldo anunciou acertou com o Corinthians. Soco na cara de uma nação. De gente de boa-fé que ia ao Maracanã e gozava o rival mostrando a foto do Fenômeno treinando com o elenco rubro-negro na Gávea. Ele sempre declarou amor ao clube. No momento de devolver o carinho, o Fenômeno traiu um sentimento. Traiu o próprio garoto Ronaldo que em Bento Ribeiro chutava bola e se imaginava com a camisa rubro-negra na infância pobre.

Questão de opção profissional, diriam alguns. Sim, Ronaldo foi feliz no Corinthians, obteve retorno financeiro, embora isso já não fosse mais necessário para um atleta de seu porte. Não contente, o atacante chegou a debochar do tamanho da torcida rubro-negra em programas de tv, riu de provocações feitas. Foi vaiado por um Maracanã inteiro em 2010, em seu único encontro com o Flamengo no Rio de Janeiro. A relação, óbvio, ficou estremecida com qualquer rubro-negro. Um preço que o Fenômeno saberia que iria pagar. Não tivesse Ronaldo se declarado tão rubro-negro como qualquer um da arquibancada do Maracanã, realizado a recuperação na Gávea e, sim, não haveria motivos para mágoa. Mas ele se declarou. Treinou no clube. Alimentou esperanças. E tomou outro caminho. Sim, presidente, há razão para existir uma mágoa fenômenal de uma nação. E ela existe sem razão alguma para ser ignorada.

9 de agosto de 2011


A reinvenção da estrela

O Botafogo surpreende. Sofreria para enfrentar o então embalado Vasco, campeão da Copa do Brasil e terceiro na tabela. É, sofreria. Sem pena, o Alvinegro foi para cima, pressionou, aproveitou as chances que teve e goleou. Sorridentes, os botafoguenses deixaram o Engenhão pensando qual a razão para a equipe de Caio Júnior não ser tão linear assim e disputar o topo da tabela. Vale, no entanto, olhar pelo outro lado. Ter uma reflexão.

Assim que estreou no Campeonato Brasileiro de maneira desastrosa, o time alvinegro foi colocado sob suspeita, inclusive por este blog. Mas Maurício Assumpção e sua trupe trabalharam bem e deram a Caio Júnior um bom time, capaz de competir, sim, por uma vaga na Libertadores se souber suas limitações e jogar sempre ligado. Poderá ser, talvez, rival do Palmeiras de Felipão, também limitado, mas que vem se superando.

Não, o time do Botafogo hoje não é ruim. Pelo contrário. É bom. Tem em Jefferson um excelente goleiro, o melhor do futebol brasileiro atualmente. A zaga com Antônio Carlos e Fábio Ferreira é razoável. A lateral esquerda continuará bem se Cortês mantiver o nível do clássico. O lado direito, claro, terá de não comprometer apenas. Mas no meio há ótimos jogadores como Renato e outras boas peças como Elkeson, Maicosuel e Everton. Loco Abreu, a estrela do time, pode ser decisivo como foi no clássico e comandar a torcida na arquibancada.

Hoje, sim, o Botafogo tem do que se orgulhar. Há um time. Caio Júnior terá de realizar um bom trabalho e não ficar pelo caminho como fez com Palmeiras, em 2007, e Flamengo, em 2008. Até ele, Caio, terá de se superar. Mas de grão em grão, com o time acertado, a base administrativa do clube sem sobressaltos, o Botafogo pode, sim, sonhar com bons voos nesse Brasileiro. Muito além do imaginado na primeira rodada da competição. A Estrela Solitária soube se reinventar.

Ícone da bola

O andar manso, a expressão de felicidade e o agradecimento, com cumprimentos de mão em mão, a cada jogador próximo foram comoventes. Talvez ele não precisasse estar ali. Poderia estar em casa, confortável em sua sala, recordando o passado. Mas Mário Jorge Lobo Zagallo não é assim. É vibrante por natureza. Sempre foi. Você pode não gostar de Zagallo. Pode achá-lo extremamente repetitivo com o papo de "amarelinha". Pode não ter gostado dele como técnico. Mas não pode negar que se trata de uma lenda viva da bola. Um ícone que tem a sorte de, ainda em vida, receber todas as homenagens pelas carreiras brilhantes, dentro e fora de campo, e pela enorme contribuição que deu ao futebol.

Você, rubro-negro, lembra do gol do Pet? Zagallo, camisa do Fla e número 13 às costas, era o técnico que berrou na beira do campo. Botafoguense, recorda do time histórico dos anos 50 e 60? Zagallo passou por ele. Você, saudosista, não esquece a Seleção de 70? Era Zagallo o comandante. Como foi auxiliar de Parreira na Copa de 94 e teve de conviver, de volta ao cargo de técnico, com o drama de Ronaldo na final de 98. Zagallo transformou-se em uma marca. Atende a todos com simpatia na maior parte das vezes. E fez com que o engolissem na Copa América de 97.

Em 2006, estava lá como fiel escudeiro de Parreira. Mas a idade cobra. Zagallo, aos 80 anos, não tem a mesma vitalidade de sempre. Está afastado apenas profissionalmente do futebol, já que o esporte jamais irá deixá-lo. O andar daquele senhor de cabelos brancos ralos, óculos e o sorriso estampado despertou sorrisos e admiração antes do embate entre Botafogo e Vasco no Engenhão. Loco Abreu, uruguaio, olhou para o Velho Lobo com admiração. Zagallo transcende o Brasil. É ícone do mundo. Mundo da bola.

Triste episódio

Sim, Fred até poderia jogar pelo Fluminense sem sobressaltos, sem alimentar a polêmica. Mas optou por ficar fora, por combater e chamar a atenção para um fato grave. Ele alega ser perseguido, vigiado em momento de folga. Episódio simbólico. Atitude corajosa. Sim, o camisa 9 tricolor não é exemplo de profissionalismo, ainda mais por custar tão alto e viver às voltas com lesões no departamento médico. Cada atleta, no entanto, deve saber os seus limites e ser cobrado pela diretoria do seu clube. Apenas. Não por torcedores, não por imprensa. Fred, em horário de folga, é um cidadão como qualquer um de nós. Pode beber, se assim quiser, e arcará com as consequências. Mas não pode perder o seu direito de ir e vir, a sua liberdade. Isso não.

Sim, Fred tem parcela de culpa na questão. Enquanto o Fluminense sofria a duras penas para manter a liderança do Campeonato Brasileiro em 2010, o atacante passava o tempo no departamento médico. No fim do ano, posou para uma coluna de celebridades de um jornal carioca. Sorriu, fez graça, portou-se como uma celebridade. Natural que o torcedor tricolor fique descontente com tal postura. Mas Fred, neste ano, tem jogado. Bem ou mal, faz parte do futebol. Mas está em campo, veste a camisa do Fluminense e o time acabara de vencer a última rodada por 4 a 0. Veio, então, a perseguição. A ameaça. Um jogador assustado.

Levianos apontam que em clube grande a pressão é normal. Pressão, sim. Ameaças, perseguições, não. Não importa o número de caipissaquês (ou caipi-saquês?) que o atacante tenha consumido. É com ele, problemas apenas dele, não mais do que dele. Grave, sim, é Fred ser perseguido em um bar. Como se fosse um bandido, refém de próprios adoradores do clube que ele defende. Difícil, portanto, questionar a decisão de Fred de não jogar. Assim como é temeroso fazer piadas sobre a questão e atirar toda a culpa sobre o atacante. Não. O errado, neste caso, está do outro lado. Perseguições, ameaças e observar a vida pessoal de qualquer um são atitudes deploráveis de uma sociedade cada vez mais vigiada por câmeras, celulares e redes sociais. Sim, Fred já errou. Mas não neste caso. Triste episódio.

Vento a favor

Nem só de competência se faz uma conquista de título. É preciso ser bafejado pela sorte também. O Flamengo de Vanderlei Luxemburgo demonstra ter os dois elementos no atual Campeonato Brasileiro. Pode não jogar bem, mas é competitivo como poucos são, busca a vitória até o fim. E há dias em que é premiado com um gol salvador como foi o de Jael contra o Coritiba. Sorte, sim. Mas que acompanha apenas os que primam pela eficiência.

Não foi um grande jogo do Flamengo contra o Coritiba. Primeiro tempo até bem tímido, dando chances de contra-ataque a um Coritiba que se permitiu a isso. Mas este Rubro-Negro não desiste. Seja com um homem a menos, com um adversário indigesto e a equipe não se entrega. E o futebol o premia. Lembre de 2010. O time até tentava jogar bem, pressionar o adversário. Mas o vento, definitivamente, não estava a favor. Acontece.

A vitória sobre o Coritiba e a liderança na tabela são resultados de muita insistência. Ninguém pode duvidar que o Flamengo batalhou demais para chegar onde está. Ronaldinho, craque, dá carrinho, sua, bate no peito e ainda arranja tempo e espaço para colocar a bola de maneira genial na cabeça de Jael, o novo reforço que mantém a estrela de entrar e balançar a rede, como Wanderley, seu predecessor. Em um campeonato tão disputado como é o Brasileiro, não basta apenas ser eficiente, ter uma boa equipe. O vento, também, tem de soprar a favor. E por enquanto ele está na direção da Gávea.

4 de agosto de 2011


Credenciados ao título

Se ainda havia algum ponto de dúvida de que Flamengo e Vasco poderiam disputar o título brasileiro, ele se dissipou diante nas últimas rodadas. Não? Pois os rubro-negros enfrentaram um trio de graúdos, dois deles fora de casa. Santos, Grêmio e Cruzeiro. Foram três vitórias e a vice-liderança do Brasileiro. Logo atrás na tabela está o Vasco. Dos últimos 18 pontos disputados pelos cruzmaltinos, 16 foram adicionados à tabela. O credenciamento de ambos à disputa da taça é inquestionável. Sorte de um futebol carioca que assiste aos seus dois maiores clubes de volta à briga de uma mesma edição de Brasileiro.

São dois trabalhos bem realizados. Flamengo, campeão carioca invicto na temporada e com apenas uma derrota em 41 jogos. Tem padrão tático, peças no elenco, um craque, Ronaldinho, um ótimo coadjuvante, Thiago Neves, e bons jogadores em praticamente todas as posições. Vasco, campeão da Copa do Brasil, com dois craques, Juninho e Felipe, ótimos coadjuvantes, como Dedé e Diego Souza, um elenco robusto e tarimbado pelo título recente. Há quanto tempo você, rubro-negro, não via o Flamengo vencer com autoridade o Cruzeiro fora de casa? Não faz algum tempo, vascaíno, que bater o São Paulo no Morumbi remetia à lembrança do título de 89? Hoje, os rivais cariocas são fortes, impõem respeito aos adversários.

É possível, claro, que nenhum dos dois conquiste o título ou fique na parte de cima da tabela deste Brasileiro. Mas é improvável que nenhuma das situações aconteça, ao menos. Elencos bem encorpados, times estruturados, competitivos, craques e treinadores que demonstram ter o controle sobre o padrão tático das equipes. Não é pouco se comparado ao passado recente. Adversários de porte ficaram para trás em campo. Torcidas estão animadas. O futebol carioca sorri e rubro-negros e vascaínos saem nas ruas trajados e orgulhosos. Pois anote aí: Flamengo e Vasco estão devidamente credenciados ao título brasileiro.

3 de agosto de 2011


Nova ordem

O espanhol e o italiano voltaram para o Velho Continente inconformados. Quão petulantes são esses moleques para recusar propostas milionárias dos poderosos Real Madrid e Inter de Milão? Passaram a entender, então, que o panorama mudou. As recusas de Neymar ao time espanhol e Lucas ao clube italiano podem simplesmente ser exceções perdidas em meio às naturais exportações de pé-de-obra. Até podem. Mas, de fato, já são a representação de uma nova ordem no futebol brasileiro. Não basta mais chegar com milhões de euros, assinar meia dúzia de papeis e sair com a nova promessa do futebol nacional debaixo do braço. É preciso convencer os garotos de que se trata, sim, de um bom negócio.

Real Madrid e Inter de Milão, por ora, não tiveram êxito com Neymar e Lucas. 45 milhões pelo primeiro. 27 pelo segundo. Nada feito. Dois expoentes da nova geração de craques do futebol nacional, os garotos dizem para quem quiser ouvir que desejam brilhar por aqui, pelo menos por algum tempo. O craque santista já o faz. Lucas vive seus altos, mais frequentes, e baixos. Impulsionados pela estabilidade da economia brasileira, os clubes se cercam de patrocinadores, assinam contratos antes inimagináveis de direitos de tv e oferecem aos garotos salários estratosféricos. Qual a razão, portanto, de deixar a proximidade da família, a identificação com o clube de origem, o carinho das ruas e a zona de conforto? Neymar e Lucas ainda não a encontraram.

Fatalmente daqui a algum tempo, talvez até meses, ambos rumarão para o futebol europeu em busca não do dinheiro, o que lhes é oferecido aqui. Mas, sim, do prestígio de ter vencido no futebol do Velho Continente, de ser eleito por dona Fifa o melhor do mundo, tarefa quase impossível para quem joga do lado de baixo do globo. Ninguém poderá culpar os garotos por esses desejos. Mas vale elogiá-los agora.

Neymar, 19 anos. Lucas, 18 anos. Garotos com milhões nos cofres e talento nato para jogar futebol se dispuseram a lascar tapas nas caras dos europeus. Da Espanha, um colunista desdenhou de Neymar, afirmando que o jovem não conhece o Real Madrid para recusar uma proposta. Sorridentes com as molecagens, no ótimo sentido, que aprontaram, a dupla mandou o recado a quem se acostumou a tratar o Brasil como colônia. Há uma nova ordem por aqui, colonizadores. Acostumem-se.

2 de agosto de 2011


Nada é para agora

Você já deve ter ouvido nos bares, no ônibus ou no trabalho. Ronaldinho já fez por merecer para voltar à Seleção Brasileira. A mesma velocidade com que foi descartado para vestir a camisa amarelinha foi usada para sacramentar: o craque é novamente a salvação para o decepcionante time de Mano Menezes. Paulo Henrique Ganso, o jovem detentor da 10, ainda não tem maturidade para o posto, dizem. Será mesmo que Ronaldinho já merece figurar entre os convocados da CBF? Ainda não. É momento justamente de ter calma. Sem pressa.

Ronaldinho voltou ao Brasil com a justificativa de que tinha saudades do país e gostaria de voltar à Seleção Brasileira para disputar a Copa de 2014 no Maracanã. Sonho válido. Depois de muito demorar a brilhar como nos velhos tempos, o Dentuço está na crista da onda. É manchete dos jornais, vive nova lua de mel com a torcida rubro-negra e em campo vem dando show. Tudo verdade. Mas não há necessidade de levá-lo para a Seleção agora, sem competição importante a ser disputada, sem taça que valha. Talvez em um outro amistoso mais para a frente com a Espanha, atual campeã do mundo, por exemplo.

Ronaldinho não precisa ser testado. Embora viva com a falsa fama de que pouco fez com a camisa amarela, o meia-atacante já teve ótimas exibições quando defendeu a Seleção. Chegou até mesmo a ser brilhante, como na final da Copa das Confederações em 2005, contra a Argentina. Ganhou Copa do Mundo como um dos principais jogadores da equipe. Enfim, está realizado com a camisa amarela. Mas que o seu sorriso, suas arrancadas e sua técnica podem ajudar Mano Menezes, não há dúvidas. E aí mora o perigo.

Criticada e motivo de piada depois da vexatória disputa de pênaltis na Copa América, a Seleção de Mano precisa de alguém para atirar às feras. Ou ser o escudo, como queiram. Convocar Ronaldinho neste momento, com uma Seleção indefinida e ainda perdida, serviria apenas para isso. Colocá-lo na fogueira. Seria repetir o gesto de ter a expectativa, justa diga-se, gerada na época em que era o melhor do mundo pelo Barcelona e camisa 10 na Copa de 2006. Jogue a amarela nele e diga: "Resolva aí!". Desnecessário fazer isso agora.

O ideal, mesmo é deixar a poeira da Seleção abaixar, o time recuperar a autoestima e caso Ronaldinho esteja ainda na crista da onda pelo Flamengo, chamá-lo para completar uma ótima geração de garotos como Neymar, Ganso e Lucas. Ronaldinho poderá ser na Seleção aquele veterano de qualidade, que passa experiência e ensina os atalhos diante dos caminhos difíceis. Futebol, como agora podemos ver de pertinho, ele ainda tem. Natural o veloz clamor pela volta dele a Seleção. Coincidiu. R10 está em alta e o time de Mano, em queda. Mas calma. Não se apressem. Pois nada disso é para agora.

1 de agosto de 2011


Leve fé

Os anos de penúria do Vasco sob a sombra ditatorial ainda custam ao clube. Pergunte a qualquer um nas ruas os cinco candidatos ao título brasileiro deste ano. Timidamente, aparecerá o Cruzmaltino em apenas algumas opiniões. Ainda há aversão ao time da Colina, mas deixá-lo fora de um pacote de candidatos à taça é, ainda, resultado de um tempo em que o Vasco passou a ser visto com reservas e antipatia no futebol brasileiro. Tão somente.

Vale, sim, levar fé neste Vasco no Campeonato Brasileiro. A grande disputa do time será contra si mesmo, penúria que ataca todos os campeões da Copa do Brasil. A quatro pontos do líder e em quinto lugar na tabela, o time de Ricardo Gomes pode e deve sonhar com o pentacampeonato brasileiro. O único porém é não deixar que essa distância aumente e o desânimo contagie técnicos e jogadores. Nada vale para o Vasco além do título brasileiro. Não há vaga de Libertadores. Ele já está lá. Quieto, sem alarde e com elenco bem montado, o Vasco se credencia pela primeira vez com a fórmula de pontos corridos a ser campeão.

Há a possibilidade de um revezamento entre Juninho e Felipe. Veteranos e craques. Sai Alecsandro? Entra Elton. Não são craques, mas um complementa o vazio deixado pelo outro. A zaga é segura com Anderson Martins e o selecionável Dedé. No meio de campo ainda há Diego Souza e Bernardo também como opções. Não é um elenco galáctico, mas bem homogêneo, com possibilidade de ir ao Morumbi, ser pressionado pelo São Paulo, mas encontrar seu jogo no segundo tempo e vencer a partida com autoridade. De mansinho, Ricardo Gomes motiva sua rapaziada, os coloca em campo sem alarde e parece até gostar da falta de holofotes. Na batida manso, com time e elenco acertadinhos e um título de campeão nas costas, o Vasco, mais leve em campo e fora dele, é sim candidato à taça. Leve fé.