13 de agosto de 2011


Há razão para mágoa

"Da nossa parte não há mágoa com o Ronaldo", disse a presidente Patricia Amorim após anunciar o novo patrocinador do Flamengo, em negociação que contou com a participação direta da empresa do Fenômeno. Pois Patricia, representante do maior poder do clube da Gávea, deveria, sim, demonstrar mágoa. Basta procurar nas ruas, nas arquibancadas e nos arredores dos estádios a opinião dos rubro-negros. A maioria esmagadora tem, sim, mágoa de Ronaldo. Não é para menos.

Em 2008, o Fenômeno viveu talvez sua fase mais difícil como jogador. Nova lesão no joelho, nova cirurgia e carreira já em curva descendente. Procurou, então, o amor que sempre disse que buscaria um dia. Bateu na porta da Gávea. Foi prontamente atendido. Desde profissionais do clube exclusivos para sua recuperação até carinho da torcida em manifestações. No inconsciente coletivo rubro-negro, bastava Ronaldo se recuperar para entrar em campo pelo clube. A proposta seria uma mera formalidade. Era um acordo de paixão. Ele sempre quisera. A torcida queria. A diretoria também. Questão de boa fé.

Meses antes, ainda sem treinar, Ronaldo apareceu no Maracanã na final do Campeonato Carioca com camisa do Flamengo. "Não posso ver a hora de estar em campo com essa nação atrás", disse o então atacante. Não se cansava de alimentar um sonho, que, no fundo, também era seu. Pois no apagar das luzes de 2008, Ronaldo anunciou acertou com o Corinthians. Soco na cara de uma nação. De gente de boa-fé que ia ao Maracanã e gozava o rival mostrando a foto do Fenômeno treinando com o elenco rubro-negro na Gávea. Ele sempre declarou amor ao clube. No momento de devolver o carinho, o Fenômeno traiu um sentimento. Traiu o próprio garoto Ronaldo que em Bento Ribeiro chutava bola e se imaginava com a camisa rubro-negra na infância pobre.

Questão de opção profissional, diriam alguns. Sim, Ronaldo foi feliz no Corinthians, obteve retorno financeiro, embora isso já não fosse mais necessário para um atleta de seu porte. Não contente, o atacante chegou a debochar do tamanho da torcida rubro-negra em programas de tv, riu de provocações feitas. Foi vaiado por um Maracanã inteiro em 2010, em seu único encontro com o Flamengo no Rio de Janeiro. A relação, óbvio, ficou estremecida com qualquer rubro-negro. Um preço que o Fenômeno saberia que iria pagar. Não tivesse Ronaldo se declarado tão rubro-negro como qualquer um da arquibancada do Maracanã, realizado a recuperação na Gávea e, sim, não haveria motivos para mágoa. Mas ele se declarou. Treinou no clube. Alimentou esperanças. E tomou outro caminho. Sim, presidente, há razão para existir uma mágoa fenômenal de uma nação. E ela existe sem razão alguma para ser ignorada.

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