16 de outubro de 2011


O bobo futebol de mocinhos


Futebol é, antes de mais nada, um esporte de contato físico. Muito, diga-se. Natural que no calor da partida um jogador troque um mero empurrão com outro, olhe de cara feia. Vida que segue. É do jogo. Na partida entre Ceará e Flamengo, no Estádio Presidente Vargas, Ronaldinho e Heleno acabaram expulsos pelo árbitro André Luiz Freitas Castro. A justificativa? Trocaram agressões. Chocante. Reveja a cena da disputa entre os jogadores. A bola é lançada para o Gaúcho. Heleno toma a frente, levanta os braços e joga as costas em direção ao camisa 10 do Flamengo. No revide, Ronaldinho o empurra e dá um leve chute por baixo. Os dois jogadores saem andando. Não houve briga, não houve consequência. Ninguém reclamou. Não houve agressão. Mas o cartão vermelho é exibido pelo árbitro, de peito estufado como se fosse um verdadeiro defensor da ética moral e dos bons costumes. Patético.

Ronaldinho e Heleno em momento algum trocaram agressões. Se alguém diz isso, mente. Mas o futebol, como grande parte do mundo, foi tomado pelo bom mocismo. Empurrãozinho não pode. Chutezinho na canela é motivo para expulsão. Bacana. O que dizer, então, das cotoveladas desferidas por Kleber, do Palmeiras, em adversários? E Airton, do próprio Flamengo, que já cansou de pisar em adversários e distribuir cotoveladas? Merecem, então, ser banidos do esporte. No mínimo. A lógica do velho esporte bretão anda invertida. Agressão é agressão. Merece e deve ser punido com expulsão e, posteriormente, até mesmo gancho. Vale para cotoveladas propositais, chutes no meio do corpo, entradas criminosas, socos, voadoras e afins. Tudo isso é agressão. O que houve entre Ronaldinho e Heleno não foi.

Mas o mundo hoje parece ser formado por pessoas sorridentes, apresentadores de televisão que são amigos de todos, mocinhos do bem em que nada fora da conduta é permitido. Abra jornais e sites com reportagens sobre a partida. "Ronaldinho e Heleno foram bem expulsos, trocaram agressões". É de rir. Ou chorar. Não há uma análise, a intenção de mostrar ao leitor ou espectador que o que árbitro passou da conta no episódio. Melhor ir, mesmo, pelo senso comum do bom cismo do mundo repleto de adoradores de João Sorrisão. Tivessem os dois jogadores recebido cartão amarelo, a partida seguiria normalmente, os torcedores seriam brindados com um bom jogo de futebol. Mas não. Hoje vale o bom mocismo. Empurrãozinho, um chutinho não merece advertência. Deve ter o mesmo peso de um soco, uma cotovelada. Para os polianas do futebol, o ideal deve ser tornar o esporte um novo vôlei. Jogadores de cada lado, uma rede no meio, sem contato físico. E um poço de hipocrisia no bobo futebol de mocinhos.

Um comentário:

Anônimo disse...
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