30 de junho de 2011


O jogo de empurra dos boleiros

Kleber recebe no peito, analisa e rebate. "Por mim, não saio do Palmeiras". A torcida do Verdão sorri, a diretoria palmeirense sente calafrios. O Gladiador avisou: se não ficar no Palestra, a culpa não será dele. Ele até gostaria, mas...sabe, são os milhões da Gávea que o seduziram. Basta olhar para o outro lado do muro e você achará um caso parecido. Dagoberto, atacante do São Paulo. Seu contrato, vejam só, termina apenas em abril de 2012. E cá estamos, em meio ao início do Brasileiro de 2011, lendo declarações sobre a renovação do jogador. Tal como Kleber, Dagoberto mata no peito, analisa e devolve, como numa ameaça: "Tem coisa boa na Europa...". É o jogo de empurra boleiro.

Na selva traiçoeira do mercado da bola, ninguém é mocinho. Todos são vilões. Mas os jogadores, instruídos por representantes, sejam eles empresários, tios, avós, amigos de infância, sempre acreditam que vão controlar habilmente o vaivém das notícias como controlam a pelota nos gramados. Pois Kleber, o Gladiador, bom atacante, já colocou a diretoria do Verdão na parede. Coincidentemente, a coxa do bravo guerreiro falha no limite dos seis jogos no Campeonato Brasileiro. Uma lesão verdadeira, mas que veio a calhar. E a diretoria palmeirense, antes tranquila com seu principal atacante com contrato até 2015, tem de se desdobrar. No mundo da bola, as artimanhas se repetem, de tempos em tempos e contam com a amnésia do torcedor.

Pois Kleber repetiu a mesma novela na transferência do seu amado Cruzeiro para o Palmeiras. Reconheceu a proposta, disse que gostaria muito de ficar, mas não era com ele. Então, deu adeus à Toca da Raposa. Chegou ao seu verdadeiro lar, ao Palestra que tanto lhe fez feliz. Até a proposta rubro-negra e seus números tentadores pousarem na mesa da presidência palmeirense. A história, então, se repete com o camisa 30. Assim como Dagoberto é interessado em polêmicas em suas transferências. Quem não lembra, afinal, quando o garoto prodígio virou as costas para o Atlético-PR para acertar com o São Paulo, onde, já não é de hoje, esperneia vez em outra. O caso parou até na Justiça.

Pois você, clube que deseja contar com os talentos futebolísticos de Kleber ou Dagoberto, em breve. Fique atento ao noticiário, estude o passado, analise as possibilidades, as consequências. Hoje, o jogo de empurra dos boleiros é com Palmeiras e São Paulo. Quem garante, então, que o show não se repetirá daqui a algum tempo com uma camisa rubro-negra ou de algum clube europeu? Afinal, por eles, os jogadores, ficariam para sempre a defender os escudos históricos dos clubes. Mas, sabe como é, as decisões em determinados momentos não são mais com eles. E voltará o jogo de empurra.

29 de junho de 2011


Fla de Luxa: um candidato nem luxo nem lixo

O mundo da bola gira mesmo com incrível facilidade. Bastaram duas rodadas e o Flamengo de Luxemburgo saiu da crise para ter 13 pontos, estar invicto, entre os quatro primeiros da tabela e com Ronaldinho jogando bem, artilheiro do campeonato. Mundo perfeito? Longe disso. O Fla de Luxa não é nem luxo e nem lixo. Por enquanto, como diz Muricy Ramalho, o Flamengo precisa ainda de trabalho. Mas, claro, há pontos positivos nesse início de Brasileirão rubro-negro. Afinal, nenhum time chega ao final de junho com apenas uma derrota no currículo. É notável. E o time se aperfeiçoa com as críticas, rodada após rodada. Basta saber se não será uma chuva de verão.

A partida contra o América-MG evidenciou o que está na boca do povo: o Flamengo precisa de reforços, urgentes, para a zaga. Welinton apresenta sempre graves problemas técnicos, como na partida de hoje, e Angelim, apesar de ainda ter qualidade, já não tem mais o mesmo vigor para suportar a maratona de jogos às quartas e aos domingos. Airton estrará em breve, mas não é solução para atuar como zagueiro. Deve ser o mesmo de 2009, ao lado de Willians, para fechar a frente da zaga como um cão de guarda. Enquanto isso, o time fica sujeito a trovoadas como as corridas na primeira etapa. Um jogo dominado, com vantagem no placar e, em dois apagões, a noite quase termina mal.

Vanderlei Luxemburgo tem lá suas teimosias, os volantes continuam expostos, a movimentação do meio de campo por vezes demora a acertar. Mas é fato que vem mexendo bem na equipe e lhe deu um padrão tático, goste o torcedor ou não. Nos dois últimos jogos, a entrada de Negueba, com velocidade, deu novo panorama ao jogo. Mas, claro, tudo se define no talento. Não tivesse Ronaldinho mais uma bela noite e o tom poderia ser diferente. É exatamente nisso em que o Flamengo deve apostar no Brasileiro: na sua técnica. Difícil ter um time com qualidade do meio para frente com gente do quilate de Ronaldinho, um craque, e Thiago Neves, ótimo jogador. A bola gira de um lado para o outro, de pé em pé, cansando o adversário, há uma cobrança de falta na rede, outra finalização no fim da partida é certeira. Como aconteceu hoje.

E há, sim, boas opções no banco de reservas. Bottinelli é uma delas. Com bons passe e chute é importante em partidas como a disputada diante do Coelho. Deivid mais uma vez marcou presença e a substituição por Diego Maurício foi importante. Luxa abriu a zaga adversário, com Drogbinha de um lado, Negueba do outro e Ronaldinho, vejam só, centralizado. Funcionou. Com um a mais, o Flamengo passou a tocar bola, envolver o adversário e abrir a defesa. Após o segundo gol, o tento da vitória nasceu também por ali, com Bottinelli enxergando Ronaldinho no meio. O camisa 10, então deu sua dose de talento na finalização.

Este é o Flamengo no Campeonato Brasileiro. Um candidato a título, com boas peças e que pode e deve melhorar com o passar das rodadas. Basta manter a pegada rodada após rodada e reconhecer que ainda há falhas a serem consertadas. A competição é longa, os percalços também. Luxa é macaco velho nos pontos corridos e sabe muito bem disso. Ajustar é preciso. Reforços ainda são necessários. Mas ainda sem isso o time precisa vencer, como parece ter aprendido neste Campeonato Brasileiro. O Fla de Luxa é, sim, candidato ao título brasileiro. Mas por enquanto não é luxo e nem lixo.


A maquiagem tricolor

O nome de Muricy Ramalho parece ecoar cada vez com mais força no Salão Nobre das Laranjeiras. Tal e qual um fantasma, o técnico insiste em aparecer no noticiário tricolor mesmo mais de três meses após a sua saída. O inconformismo dos mais novos sucessos do treinador do Santos parece tirar o sono de quem comanda hoje o Fluminense. Eleito como um símbolo de modernidade, o presidente tricolor, Peter Siemsen, dá um tapa em sua plataforma ao procurar atingir Muricy e tentar tapar com peneira o sol de uma grande incompetência administrativa ocorrida logo nos primeiros meses de gestão.

Assim que Peter e sua turma assumiram a administração das Laranjeiras, Muricy era intocável para qualquer torcedor tricolor. Campeão brasileiro após 26 anos, o Fluminense enxergava no técnico o símbolo de uma virada na história tão sofrida com rebaixamentos e administrações. Tarefa hercúlea, então, seria tirá-lo do posto de treinador e todo poderoso sem sofrer críticas da torcida e ter a imagem de uma gestão dita como promissora arranhada de maneira tão precoce. A solução, então, foi minar o treinador nos bastidores. Pessoas de sua confiança deixaram o clube, o diálogo deixou de ser simples e até seu maior escudo, Alcides Antunes, deixou o cargo de vice de futebol em uma guerra política. Muricy não suportou. Pediu o boné e foi embora. Urros de alegria nos corredores das Laranjeiras. Missão cumprida.

Desgastado e irritado com o clima pífio dos bastidores, o técnico errou, sim, em sua saída ao disparar publicamente contra a estrutura do clube, a diretoria e outros erros. Talvez tenha lembrado das reuniões marcadas e não atendidas com a alta cúpula. As invasões à sua sala sem aviso prévio. Então, rescindiu seu contrato e aceitou, como todo profissional tem direito, trabalhar na melhor equipe do Brasil. A cada vitória do treinador no Peixe, o assombro do erro crasso da diretoria ficou maior. Por pura politicagem e despreparo, fritaram o melhor técnico do Brasil nos nos bastidores para que ele saísse como vilão. Há quem compre a história e chame Muricy de rato até hoje. Pura ingenuidade.

Muricy não é santo. Para ser o maior vencedor atual do futebol brasileiro, não há mesmo como ser perfeito e sobreviver aos percalços do traiçoeiro mundo da bola. Por vezes é rabugento, mal educado e chama o holofote para si. Mas quem perdeu em toda a história foi o Fluminense, ao assistir, já eliminado, o triunfo do técnico na tão sonhada Libertadores. Um golpe duro demais para quem quis ver o técnico pelas costas e pintá-lo como o vilão de toda a história. Ao conceder entrevistas disparando contra Muricy logo após o título santista na Libertadores, Peter Siemsen no fundo parece mostrar um certo arrependimento. Talvez o gerenciamento de bastidores deveria ter sido feito de maneira com que o melhor treinador do Brasil continuasse a vestir verde, branco e grená. Agora, porém, é tarde. Mais fácil é continuar com essa maquiagem tricolor.

27 de junho de 2011


O desafio de Ricardo Gomes

Ricardo Gomes é praticamente unanimidade em São Januário. De fala mansa em frente aos holofotes, sempre educado, mas com pulso firme no vestiário para manter o Vasco nos trilhos, sobe degraus na escadaria dos técnicos brasileiros. E tem em suas mãos um desafio que geralmente se apresenta ao campeão da Copa do Brasil todos os anos: realizar um bom Campeonatoo Brasileiro. Busque nos últimos anos e verá que somente o Cruzeiro de Vanderleu Luxemburgo, campeão da tríplice coroa em 2003, e Renato Gaúcho com o Fluminense, em 2007, conseguiram manter o elenco campeão da Copa do Brasil ligado na maior competição nacional e não apenas na Libertadores do ano seguinte. Complicado, mas tarefa menor do que Ricardo já teve neste ano.

Ao aportar em São Januário, o técnico viu terra arrasada, jogadores e torcida sem confiança. Sem sobressaltos e vaidade levou a caravela ao inédito título da Copa do Brasil. Conhecedor dos caminhos do vestiário, deu dias de folga para os campeões. Agora, porém, puxou novamente as rédeas. E parece ter dado certo. vá lá que a partida do Vasco diante do Atlético-GO não tenha sido um primor. Longe disso. Mas o time vascaíno hoje tem em si o espírito vencedor. Sim, o campeonato está no começo, mas lá está o Vasco, campeão da Copa do Brasil, com 11 pontos em seis rodadas e o quinto lugar da tabela. Está no bolo para disputar, lá na frente, o título. É o que resta ao Vasco. É o que resta a Ricardo Gomes neste Brasileiro.

Das 20 posições no Campeonato Brasileiro, ao Vasco só interessa o primeiro lugar. Manter jogadores e até mesmo torcida no foco pela briga pelo penta nacional é o desafio de Ricardo Gomes. Fosse outro treinador, mais boleiro, dado a valorizar o boi na sombra e demonstraria aquela boa acomodação. Mas Ricardo Gomes parece estar pronto para o desafio. O time, bem encaixado, e com o reforço de Juninho Pernambucano, pode, sim, se candidatar ao título. Basta se concentrar no objetivo. De ponto em ponto, como quem não quer nada, o Vasco chegaria à reta final embolado nos líderes. A partir daí, o elenco, já com o doce gosto de campeão nacional na boca, poderia partir com tudo para o título nacional. Um grande desafio para Ricardo Gomes.

25 de junho de 2011


O que basta ao craque

Conte nos dedos quantos jogadores podemos chamar de craque no futebol brasileiro atualmente. Talvez quatro. Neymar é o nome da moda. Paulo Henrique Ganso, com boa vontade, vai no embalo. Juninho Pernambucano ainda nem reestreou pelo Vasco. E, claro, Ronaldinho. Criticado por saídas à noite durante a última semana, pela má fase técnica em campo e por ter deixado o futebol genial em outros tempos, o camisa 10 rubro-negro deu apenas 20 minutos de graça nesta noite no Engenhão. Foi o suficiente para o time virar uma partida e bater o adversário com uma goleada de 4 a 1. De virada. Com direito a golaço. De quem? Do craque.

Ronaldinho em sua essência vive em um mundo da bola tão superior aos demais que bastam, sim, esses poucos minutos para que ele vire o tom de uma partida. Craque é assim. O torcedor rubro-negro talvez o tenha xingado a semana toda, deu indícios de que poderia deixar de apoiá-lo, mas não. Diante do Atlético-MG certamente sentou-se em frente à tv ou na arqubancada do Engenhão na esperança de que Ronaldinho aparecesse. Talvez um golaço. Talvez uma jogada magistral. Talvez a referência na partida. E deu sorte.

Claro, o time rubro-negro ainda conta com muitos defeitos. Os coadjuvantes de outrora, como Eto´o e Iniesta, não estão mais ao lado. A defesa consegue titubear. A escalação, por vezes, parece errada. Mas no fundo, no peito do torcedor, sempre há a esperança de que o craque repetirá ali na sua frente os lances eternizados nos vídeos na internet. Ronaldinho não foi o do Barcelona diante do Galo. Verdade. Mas fez um golaço que só os poucos que entendem de futebol conseguiriam fazer. De repente, até fez menção a não comemorar o feito, com um bico para a arquibancada. Mas o craque é, acima de tudo, inteligente. E lá foi o camisa 10 se redimir com a torcida que tanto o criticara durante a semana. A partir daí, a união fez, sim, a força.

Ronaldinho mudou em um mesmo jogo. Estava solto. Deu uma ou duas arrancadas. Passou por um, por dois. Deu toques de efeito. Olhou para um lado e lançou para o outro. Parece que Ronaldo Assis Moreira também sempre espera que Ronaldinho, o craque, irá aparecer. Contra o Atlético-MG, ainda que por minutos, ele realmente apareceu. Por isso, vale ter paciência com o craque. Apesar de tudo, a ponta de esperança da vitória, do gol, da jogada de tirar o fôlego, reside nele. Ronaldinho é bem pago por isso. É cobrado por isso. Há uma cartilha que ele deve seguir como profissional. Mas assim como qualquer um, ele tem sua vida pessoal. Dentro dos gramados, é craque. Dota o jogo da mágica necessária para hipnotizar os olhos e vencer jogos. É o que basta.

23 de junho de 2011


O desabrochar de um craque

O jeito moleque já foi confundido com molecagens no passado. Não sem razão. O mesmo rosto que traz um fácil sorriso, de garoto, já também abrigou um bico sem tamanho a ponto de contrariar seu técnico, um superior, pelo desejo de cobrar um pênalti. Mas Neymar evoluiu. E como. De promessa a craque da primeira Libertadores santista após o reinado de Pelé. Não parece e não é mesmo pouco para um jovem de 19 anos. Pronto para conquistar o mundo da bola. Como todo talento nato, Neymar é precoce e já tem currículo e bola que veterano nunca terá. Em vez de despertar a raiva do adversário, incita a admiração, o queixo caído quando trata a bola com intimidade que poucos conseguem no tapete verde. É atração à parte.

Bendito seja o futebol brasileiro que concebe frutos dessa natureza de estações em estações. Pois justamente quando suas últimas grandes dádivas dão adeus, como Ronaldo, ou já se preparam para figurar apenas no imaginário dos torcedores, como Ronaldinho e Kaká, que o projeto de craque aparece. Neymar tem, sim, tudo para ser o novo herdeiro dessa safra que encanta o mundo desde que o futebol é futebol. Ainda não é gênio, mas tem tudo para ser. Ainda não é mito, mas poderá ser. É um craque que povoa a mente do torcedor não com o que já fez. A excitação gira, sim, em torno do que ele poderá ainda fazer pela frente.

Quem vem para marcar história geralmente aparece no cenário de maneira precoce. Nos dribles mágicos, nos chutes certeiros, no dom para vencer. Foi assim com Romário no início de Vasco. Ronaldo fez o mesmo no Cruzeiro. Ronaldinho deu o ar da graça em um Gre-Nal, além de um golaço de placa pela Seleção. Neymar também parece ser assim desde o início. O trato com a bola é diferenciado. Não a trata apenas como um instrumento da profissão.

É alegria, é graça. Com a leveza que só os craques têm, Neymar a carrega entre os adversários. sem pedir licença, como se ela, a pelota, estivesse seduzida pelo balé de seus pés. E não para. Já venceu Paulista, Copa do Brasil, Libertadores. Todos como protagonista. Tudo com apenas 19 anos. Por isso, senhores, aproveitem. A Libertadores provou, mesmo, que diante de seus olhos ocorre aquele fenômeno raro: o desabrochar de um craque.

A inquestionável competência

Terminada a partida, Muricy caminha pelo campo visivelmente emocionado e, indagado por um repórter, dispara: "Eu merecia esse título!". Pronto. A senha para os opositores foi dada. Pouco importa se dos últimos seis Brasileiros ele venceu quatro. Pouco importa se é, em sequência, campeão brasileiro, paulista e da Libertadores. Não interessa que ele tenha superado o estigma de não vencer em mata-matas importantes. O que interessou, mesmo, é dizer que Muricy no seu maior momento de glória na carreira de técnico foi arrogante. Notem a hipocrisia: um técnico multicampeão afirma que merecia um título e é rotulado como arrogante. Muricy incomoda.

O estilo de jogo das equipes do técnico virou motivo de galhofa dos detratores. É o Muricybol, dizem. Prioriza a defesa, vence de 1 a 0 e isso não tem absolutamente graça. Não? Pois pergunte hoje aos santistas se eles se arrependem de terem recebido o treinador de braços abertos após a saída do Fluminense. Difícil achar um só que levante a mão. Muricy parece ter o toque de Midas dos dias atuais do futebol brasileiro. Exceto a breve passagem pelo Palmeiras em 2009, todas as outras equipes comandadas por ele conheceram glórias sob sua batuta. Talvez seja só coincidência.

No Fluminense, Muricy disse não ao cargo de treinador da Seleção Brasileira, desejo de dez entre dez técnicos de futebol. Manteve firme um time desfalcado das estrelas e deu ao clube o título brasileiro que não aparecia há 26 anos. Ano novo, vida nova. E Muricy acabou fritado nos bastidores da incompetência que assolou as Laranjeiras. Aos poucos, derrubaram pessoas de confiança do técnico até forçá-lo a pedir o boné e sair como vilão. Magoado, Muricy talvez tenha cometido o erro de falar publicamente de uma estrutura precária. Talvez. E pagou o preço apenas com torcedores cegos que compraram a história da diretoria tricolor, afoita em esconder um erro crasso.

Pois Muricy foi atacado por ter dito antes que não quebrava contratos. E foi forçado a quebrá-lo no Flu. Acuado, repousou por alguns dias no interior e, sim, assumiu o Santos. Em suas mãos, contava com um time ameaçado de eliminação na Libertadores e em plena disputa do Paulista. Pois faturou o Estadual e nesta quarta-feira colocou seu maior título no currículo, a Libertadores pela qual era tão cobrado desde perdê-la pelo São Paulo, em 2006. Mas os detratores atacam de novo e voltam à carga após o desabafo de que ele merecia aquele título. Sim, Muricy merecia. Assim como mereceu cada um dos quatro Brasileiros. Deu padrão tático ao time, consolidou a defesa e contou com a sorte de ter Neymar em estado de graça. A sorte segue a competência. E, no caso de Muricy, isto é algo inquestionável.

22 de junho de 2011


A falta de Don Diego

Copa América na Argentina sem Don Diego Armando Maradona. Sem graça. Imagine como aumentaria o interesse de público, crítica e até dos participantes da competição com o maior jogador história do futebol do país em ação. A cereja do bolo argentino, certamente Você pode não concordar com Maradona, pode não gostar das atitudes de Maradona. Mas deve reconhecer que Dieguito é daqueles personagens do quais o futebol não pode abrir mão. Faz bem. Dá brilho ao espetáculo dentro e fora de campo. É saudável. Não? Lembre, então, da Copa da África, há um ano.

Maradona, técnico da seleção argentina, era o astro na terra do Waka Waka até a eliminação dos hermanos diante da Alemanha. Em cada entrevista coletiva um show de palavras, provocações, afirmações. À beira do campo, um gordito nada confortável dentro de um terno e que vibrava como poucos, proporcionando ótimas fotos.

Sorridente, Mandava beijos à plateia, acenava para a família, matava a bola na lateral com a categoria de um craque jamais deixará de ser. Antes de entrar em campo, tascava um beijo em cada um de seus comandados. Durante o hino, os fotógrafos se debatiam para buscar um ângulo do personagem da Copa no banco de reservas, como revela a foto acima. Um showman por si só.

Fora da seleção argentina, Maradona começa sua série de provocações mesmo diante. Da Espanha, chamou Neymar de mal-educado, "como Pelé". É engraçado, sim. Sabe promover o espetáculo. Pois pense, então, que a Copa América em solo portenho não contará com Diego Armando Maradona, aquele que é chamado de Dios por lá. Quantas frases ótimos perderemos, de quantas atitudes engraçadas seremos privados ao não pode ver o ídolo argentino em seu próprio palco? Uma pena.

Messi, melhor jogador do mundo e herdeiro da camisa 10 da Argentina, não tem cacoete para tal façanha. Assim como no futebol, é preciso um dom para ser a grande atração de um esporte, de um evento. Em um mundo da bola tão sem graça e padronizado como o atual, Maradona é um personagem que faz falta. E como.

21 de junho de 2011


A volta do Papai

Ele não tem o ar professoral, não usa ternos, não utiliza neologismos nas entrevistas. Pelo contrário. Faz o estilo boleiro, usa sempre o agasalho da equipe que comanda e solta pérolas irresistíveis em suas coletivas. Pois Papai Joel está de volta. Bom para o mundo da bola. Mas Joel Santana não é só isso. Ainda hoje, a figura caricata do treinador atrapalha as avaliações sobre seu verdadeiro potencial como técnico de futebol. Mas Joel tem qualidade. É inegável.

Lembre-se de 2010. De um combalido e goleado Botafogo após os humilhantes 6 a 0 para o Vasco, fez do time limitado um campeão após três anos de sina diante do rival Flamengo. Fez a festa da torcida, foi homenageado. No Brasileiro, Joel até conseguiria alçar voos mais altos caso tivesse em mãos mais, digamos, matéria-prima qualificada. O sexto lugar na tabela foi um prêmio ao esforço de Papai Joel. Entre idas e vindas, lá estava ele com sorrisos e pérolas.

Joel, porém, é vítima de um preconceito. O estilo bonachão, a alcunha de papai e a velha prancheta o fazem ser vítima do deboche. Não? Pois lembre-se do funk com o inglês de Joel Santana enquanto ele comandava a África do Sul. Engraçado, sem dúvida. Mas com o claro objetivo de desqualificar a figura de Joel Santana. Pouco importava se ele estava lá dando a cara à tapa, tentando se comunicar em inglês ou se sua equipe tivesse feito jogos duríssimos contra Brasil e Espanha na Copa das Confederações.

Fosse Joel Santana acostumado a dar tapas no braço e dizer "isso aqui é trabalho!", usasse ternos de alta etiqueta e concedesse entrevistas com ar professoral provavelmente seria mais conceituado pelos famosos especialistas. Mas Joel não é. Sabe falar grosso, mas também fala manso. Sorri e fica emburrado. De volta aos holofotes no Cruzeiro, Papai Joel terá boa missão, mas com ótimas peças nas mãos. Talvez a fama de retranqueiro e o preconceito fiquem por terra. É bom, sim, ter um personagem como Papai Joel de volta ao futebol brasileiro. Dentro e fora de campo.

20 de junho de 2011


Os Caças Gaúcho

Mais um jogo e Ronaldinho, de novo, não foi bem. Prato cheio para os Caças Gaúcho espalhados por aí. O que será que o craque faz em casa, no banheiro? E os jogos de futevôlei? Será que a festa no condomínio teve influência direta naquela finalização errada? Um poço vazio. Ronaldinho foi contratado para jogar futebol pelo Flamengo e vive uma má fase. É inegável. Por isso deve ser cobrado, vaiado, solicitado para treinamentos especiais e até mesmo barrado se for necessário. Tudo dentro do limite de sua profissão. Não em sua vida pessoal.

Em tempos de jornalismo manja, onde o jogador é vigiado até quando vai ao banheiro, Ronaldinho parece ser duro no baque. Vai a todos os treinos, está em todos os jogos. É um fato, não uma teoria conspiradora. Não está, por exemplo, redondo como esteve Ronaldo por um ano e meio no Corinthians. Neste caso, bastava assistir ao ex-Fenômeno em ação, esbaforido, com uma enorme pança, para concluir que os descuidos com a alimentação refletiam claramente a dificuldade do atacante em se locomover.

Ronaldinho deve ser, sim, criticado por suas atuações abaixo do esperado e treinamentos realizados nas coxas. Assim como foi aplaudido em suas boas exibições e no gol de falta na Taça GB. Tudo dentro de sua profissão. O problema dos Caças Gaúcho é que vão além. A culpa é de uma ida a boate, do beijo em uma morena, a bela mansão. Ora, convenhamos. Ronaldinho tem 31 anos, já conquistou tudo na carreira, é milionário e não faz nada diferente do que fazia nos tempos de melhor do mundo, no Barcelona. A não ser que apareçam exames físicos e fisiológicos comprovando que a ida dele em determinado treino baixou seu potencial para determinado jogo, o mimimi dos Caças Gaúcho será, simplesmente, caso para fofoquinhas de corredor.

Seria mais interessante, portanto, tentar entender o porquê de o craque, um meia-atacante, ser escalado como centroavante, totalmente fora de posição. Ou então observar o time que o cerca e compreender que não se trata de um primor de craques bem organizados. Pelo contrário. Ronaldinho, por tudo que é e já foi, recebe a maior chuva de críticas. Normal e válido desde que se concentre em campo e bola. Sua vida pessoal, salvo casos em que extrapolem os limites da lei como aconteceu com Bruno, não interessa realmente a ninguém a não ser a ele próprio. Craque que é, Ronaldinho em breve acertará um lançamento, fará um golaço, o Flamengo voltará a vencer. Depois, como todo ser humano, ele sairá para comemorar em churrascaria, boate ou show sertanejo. Mas deve ter cuidado. Afinal, atrás de um muro, à espreita, estarão sempre os incríveis Caças Gaúcho.

19 de junho de 2011


O viaduto da bola

Pegue a tabela do Campeonato Brasileiro e você verá o São Paulo como líder absoluto, com cinco vitórias consecutivas. E no comando do Tricolor? Paulo César Carpegiani. Impossível imaginar tal panorama há pouco mais de um mês. O poderoso clube paulista era eliminado da Copa do Brasil, maior objetivo do primeiro semestre, pelo modesto Avaí. Rivaldo, primadona do banco de reservas do Morumbi, reclamava aos quatro ventos e batia de frente com Carpegiani, considerado praticamente como carta fora do baralho. É o viaduto da bola, como já disse uma vez Branco. Um dia você está por cima. No outro, já está por baixo.

Pois saia, então, do líder do Brasileiro e pegue a ponte aérea. Pouse no Rio de Janeiro. Em solo carioca, o Flamengo campeão estadual invicto, o Bonde Sem Freio, já encontra vozes insatisfeitas com Ronaldinho, Luxemburgo e companhia. Apenas uma derrota em 30 jogos, mas a Gávea já vive um Caldeirão. Diferente, por exemplo, do rival Vasco. No começo da temporada, o pior início de Campeonato Carioca em sua história. Agora, enfim campeão pela primeira vez da sonhada Copa do Brasil com vaga na Libertadores de 2012 garantida. É o viaduto da bola.

Logo ao lado de Rio e São Paulo, o exemplo mais recente. Pois o Cruzeiro de futebol mais encantador do Brasil em 2011 e dono da melhor campanha da Libertadores não existe mais. Cuca, o mentor daquele time, pediu demissão. Antes no alto do viaduto, a Raposa agora conhece o lado mais amargo. Sorte, claro, do Santos, campeão paulista e finalista da Libertadores. Mas o Peixe que não se anime. Basta um infeliz insucesso contra o Peñarol na próxima quarta-feira para que o bonde de Neymar, Elano e companhia desça vertiginosamente. Faz parte. Afinal, Branco tinha mesmo razão. Todos os dias, o mundo do futebol mostra como é mesmo um viaduto. Um dia por cima. No outro, por baixo.

18 de junho de 2011


Quando a bola dá chances

47 minutos do segundo tempo no Engenhão, contra-ataque fulminante e Jobson marca e dá ao Bahia a primeira vitória no Campeonato Brasileiro. No rosto do atacante alegria pelo presente, tristeza pelo passado e dúvida quanto ao futuro se entrelaçam e tomam o formato de lágrimas. Justas, sinceras. Jobson é muito mais vítima do que culpado e amanhã ruma para a Suíça, onde será julgado após ter sido flagrado por doping. Não tivesse o dom de jogar, e bem, futebol e talvez o atacante estivesse encostado em qualquer esquina das grandes cidades brasileiras. Mas não.

Jobson teve mais uma chance no Botafogo, clube que carinhosamente o acolheu após o caso de doping. Mas falhou de novo. Parecia destinado ao anonimato. Veio, então, a mão amiga do Atlético-MG. Jobson não conseguiu. Pediu para voltar ao Rio de Janeiro, ao seu Botafogo. Dessa vez a resposta foi não. Para o Glorioso e para o jogador, talvez tenha sido a melhor escolha. Pois o Jobson que aparece agora com a camisa do Bahia, seu mais novo porto seguro, parece diferente. Mais leve e até mais disposto a dizer que ele pode, sim, deixar tudo para trás.

Contra o Flamengo, já havia infernizado a zaga adversária com o que tem de melhor: o futebol. Dribles curtos, velocidade e chutes muitas vezes certeiros. Um jogador que chama a atenção. Amanhã, porém, Jobson caminha ao encontro do seu passado. Após a suspensão, pode amargar novamente um tempo fora dos gramados pela utilização de drogas. Um dia antes da viagem, a lembrança de que ele está, sim, vivo, a fim de jogo, talvez até empenhado em livrar-se de vez do mal que consome não só ele, mas vários na sociedade. Gol da vitória contra o Fluminense e Jobson está, novamente, nos holofotes. A bola dá várias chances. Cabe a ele aproveitá-las.

17 de junho de 2011


A Sociedade do Sorrisão

Faltam apenas três anos para a Copa do Mundo de 2014, realizada em solo pátrio. Mas parada em frente à tv a Sociedade do Sorrisão absorve a figura do boneco criado para diverti-la tão somente. E pouco se importa com os tapas de mão cheia dados por deputados, senadores, governadores e outros poderosos desse país no que realmente importa. Pois durante essa semana o jornal Folha de São Paulo revelou que foi aprovado na Câmara dos Deputados o texto da Medida Provisória 527, criando um Regime Diferenciado de Contratações para eventos públicos, tais como Copa e Olimpíada, e que permite o sigilo de orçamentos da União para estes eventos. Um soco no estômago dos vários sorrisões espalhados por aí.

Ao mesmo passo explodem notícias de que faltam cobertores e remédios em hospitais. Basta cair uma chuva mais violenta para que as cidades brasileiras se transformem em autênticos parques aquáticos do terror. E os governantes da sociedade do sorrisão, vejam só, trabalham arduamente para que os gastos estratosféricos da Copa do Mundo e das Olimpíadas possam ser sumariamente escondidos. Falta uma cobertura ao Maracanã? É fácil, Sorrisão.

Temos R$ 1 bilhão para reformar o estádio e transformá-lo no palco principal da Copa do Mundo. E logo ali ao redor do futuro novo Maraca está uma das áreas mais vitimadas pelas chuvas sem que uma medida enérgica seja tomada para poupar vidas que nem mesmo assistirão ao brilho da Copa de 2014. Um tapa na sociedade Sorrisão, quase inerte, absorvida em seu entretenimento com comemorações de gol de jogadores e o sorrisão estampado na cara de governantes que afirmam que a Copa aqui será de Primeiro Mundo. Mais um tapa bem dado no Sorrisão.

Pois é esta Sociedade do Sorrisão, inofensiva diante da possibilidade do sigilo de orçamentos de eventos públicos e gigantescos, que reclama do péssimos hospitais públicos, reclama do transporte coletivo, mas comemora a chegada da Copa do Mundo e faz festa no Carnaval. É a sociedade que assiste ao mais alto órgão judiciário da nação, o Supremo Tribunal Federal julgar a legalidade da Marcha da Maconha, e nem mesmo a legitimidade do uso da droga, enquanto o país se perde em meio a vultosos e escandalosos orçamentos.

Mas ali em frente à tv, com o boneco a balançar e sorrir, está tudo bem. A Sociedade do Sorrisão levou mais um tapa, talvez o maior dos últimos anos. Estagnado, porém, continua com o sorriso estampado no rosto e balança um pouco. Mas quem sorri, mesmo, são os governantes com a certeza de que os Sorrisões balançam, mas já, já voltam ao seus lugares. Completamente inertes e com caras de bobos.

15 de junho de 2011


Um craque que nunca foi, mas é

Às 21h50 desta quarta-feira, o Santos entrará em campo no Estádio Centenário, em Montevidéu, capitaneado por Neymar, em busca do tri da Libertadores. A quilômetros de distância, talvez na sala de seu confortável apartamento, estará Paulo Henrique Ganso. O meia, sem dúvidas, é uma das boas revelações e promessas do futebol nacional nos últimos anos. Mas ao assistir aos companheiros pela televisão hoje, Ganso deveria parar e refletir sobre o craque um dia poderá ser, mas ainda não é. Ou melhor, para muitos já é.

Justamente quando o processo de amadurecimento começaria em sua carreira, Ganso sofreu um baque: a lesão no joelho esquerdo e o afastamento dos gramados por quase sete meses em 2010. Ao contrário de outros jogadores, Ganso pediu valorização justamente no momento em que estava parado, fora de combate, sem ajudar o Santos. E surpreendentemente conseguiu. Enquanto isso, Neymar alternava bons e maus momentos em seu processo de amadurecimento, mas se consolidava como a grande revelação do Santos e do futebol brasileiro. Neymar tornou-se uma realidade. Ganso, ainda não.

Sem ele, o Santos voltou a ser campeão paulista em 2011 e está na final da Libertadores. Neymar, com razão, pediu reconhecimento e foi tratado pelo que apresenta em campo. Ganso pede tratamento igual com a justificativa do que ele poderia representar. Neste ano, voltou aos gramados, mas já desfalca o Santos novamente com uma lesão e justamente na final mais importante desde 2003. Ainda assim, o esboço de craque bate o pé, pede reajuste salarial, flerta com rivais, sonha com o futebol europeu, é convocado para a disputa da Copa América e se torna virtualmente a estrela que muitos e ele próprio imaginam que ele seria. Mas por enquanto Ganso é apenas um craque que nunca foi, mas, para alguns, é.

14 de junho de 2011

Rótulo desnecessário

Que Neymar tem tudo para ser um craque, ninguém duvida. Os dribles desconcertantes, as finalizações certeiras e o talento raro de chamar o jogo para si e decidi-lo falam por si. Justamente por isso o rótulo de novo protagonista da Seleção Brasileira é desnecessário. Até Ronaldo, impulsionado pela discussão, fez questão de afirmar em meio ao mar de emoções de sua aposentadoria que Neymar tem tudo para ser seu substituto. Mais calma.

O atacante santista tem apenas 19 anos. É jovem e ainda passa por um processo de amadurecimento. Felizmente, o atacante melhora com o passar do tempo. Robinho, por exemplo, pareceu estagnado por anos em meio a uma incrível imaturidade e certamente por isso não alçou voos mais altos. Neymar, por outro lado, parece aprender com os erros. Depois da fantasia de garoto mimado em 2010, com embate com o técnico Dorival Júnior, o atacante vestiu-se de símbolo do Santos em campo em 2011, com título paulista e na final da Libertadores. Ótimo.

Daí, no entanto, ainda vai uma distância a transformá-lo, necessariamente, em novo ícone da Seleção Brasileira. Quantos craques foram irresistíveis em seus clubes e decepcionantes com a amarelinha? Neymar já deu até mostras que pode não sentir o peso da camisa da Seleção. Mas ser representante de uma nova era leva tempo, gols, belas jogadas e carisma. Neymar já tem esses ingredientes com a camisa do Santos. Falta levá-los para a Seleção Brasileira. Tempo não falta. Mas o rótulo precoce é desnecessário.

13 de junho de 2011



O fator Luxemburgo



Em 2011 são 29 jogos e apenas uma derrota. Um título invicto, uma eliminação, um início regular de Campeonato Brasileiro e um mar de dúvidas. Fosse outro treinador e a presidente do Flamengo, Patricia Amorim, talvez não ouvisse tantas reclamações e até pedidos de saída do técnico. Mas há o fator Luxemburgo. Pesa demais em momentos como o atual, em que o time patina no gramado e a torcida torce o nariz.

Luxa chegou ao Flamengo em outubro de 2010 com duas missões: livrar o time do rebaixamento e comandar o futebol rubro-negro, incluindo aí a transformação do Ninho do Urubu em CT de Primeiro Mundo. O primeiro objetivo foi cumprido a duras penas, o CT parece ter, enfim, decolado rumo à profissionalização, mas o problema está quando o treinador se encontra com o gestor em uma pessoa só. Luxa, o técnico, pode não ser culpado em algumas situações. Mas Luxa, o gestor não oficial, com influência direta no futebol rubro-negro, será. E vice-versa.


Mesmo com Ronaldinho Gaúcho e Thiago Neves em campo, o Fla do técnico Vanderlei Luxemburgo patina diante de adversários de nível mais elevado. No Campeonato Carioca, com nível técnico inferior, o time passou sem sobressaltos. Mas, no fundo, a torcida rubro-negra sempre lembrava ao gestor Luxa: em determinado momento, a equipe iria precisar de peças em posições. Aí, então, o técnico passaria a ser cobrado. É o que acontece atualmente.


Sim, o time perdeu apenas um jogo na temporada. Mas foi eliminado na Copa do Brasil pelo Ceará por limitações claras: o baixo nível técnico da zaga, a lateral esquerda inexistente e o ataque inoperante. Aí, o técnico passou a bola para o grande responsável pela montagem do elenco. Para azar de Luxa, ambos se reúnem na mesma pessoa. Dispensar o técnico com o bonde andando seria bobagem. Mas é melhor o gestor agir rápido e livrar seu alter ego de pressão. Do contrário, um pagará a conta pelo outro. Foi assim no Palmeiras, no Atlético-MG e poderá ser na Gávea. É o fator Luxemburgo.

11 de junho de 2011

Gol de quem?



Há quase 13 anos, o chute certeiro, sem chances para Burgos, transformou um lance em música. Gol de quem? Gol do Juninho. Monumental. Dez anos depois, o Reizinho está de volta ao trono que nunca deixou de ser seu. O tempo parece ter esperado a volta do ídolo cruzmaltino. O meia deixou o seu Vasco após o título brasileiro de 2000 com a vitória de 3 a 1 sobre o São Caetano. Teve gol de quem? Gol do Juninho.


Os desprazeres da Colina foram acompanhados de longe, enquanto reinventou o Lyon, na França. Com Juninho no comando, o clube francês saltou de intermediário a time imbatível no país. Seis títulos seguidos. Com direito a vários gols. De quem? Gols do Juninho. E nos corredores da Colina não faltou torcedor que amargasse a saída do craque. A magnitude da idolatria a Juninho cresceu, então, na mesma proporção de seu sucesso internacional.

Até mesmo a imprensa esportiva sentia falta daquele valente garoto pernambucano. Pois as mordaças impostas pela ditadura euriquista, cada vez mais comuns com o craque no Lyon, eram derrubadas pelo Reizinho ao conceder entrevistas na calçada em frente a São Januário. Um golaço. De quem? Do Juninho, cada vez mais monumental.

Romário marcou o milésimo gol, Edmundo voltou, Philippe Coutinho surgiu. Nenhum deles, no entanto, foi citado de maneira tão espontânea em um coro de arquibancada. E de repente o gol de Juninho passou a ganhar bocas da Colina. A cada jogo, a exaltação do ídolo, do feito se misturava ao desejo de que ele retornasse à casa. Muitos desejavam ver um gol. De quem? Do Juninho.

Pois o Reizinho, aos 36 anos, resolveu voltar à Colina e, no mesmo momento, o Vasco ressurgiu. Não por acaso. O título da Copa do Brasil, o mais importante do clube daquele Brasileiro de 2001, veio no embalo do retorno do craque. Não faltará torcedor hoje em São Januário para comemorar a boa fase do time e, principalmente, a volta definitiva de quem jamais deveria ter saído. Após tanto ouvir de longe, ensinar aos filhos, o Reizinho terá a dimensão do que é para a torcida vascaína. Idolatria não se fabrica. Conquista-se. E lágrimas escorrerão novamente ao ver ele, de novo, com a camisa que sempre lhe caiu tão bem. Um golaço na história do Vasco. De quem? Do Juninho. Sempre monumental.

10 de junho de 2011


Quando a raquete toca o coração

Antes dele nenhuma raquete havia tocado o coração brasileiro de maneira tão intensa. Pois Gustavo Kuerten, o Guga, começou em 97 a trilhar o caminho em direção ao peito dessa brava gente. De repente, tínhamos um campeão de Grand Slam. Incrível. Valia a pena, sim, prestar atenção naquele rapaz de cabelos encaracolados, nem um pouco organizados, camisa viva de cores e que surfava com habilidade ímpar no saibro.

Três anos depois, em 2000, Guga arrebatava mais gente para as telas de tv. Alunos matavam aulas para assistir às incríveis paralelas daquele brasileiro, donas de casa prestavam atenção no novo herói do esporte nacional, tão carente de um ídolo que levantasse a bandeira por aí. Como Senna fez nas manhãs de domingo, Guga acostumou-se a nos presentear em decisões de torneios e, mais ainda, a cultivar o coração dos brasileiros.

Pois é difícil achar alguém que ouse falar mal daquele craque da raquete que conseguiu alcançar, vejam só, o posto de número um do mundo. E lá no topo da carreira, ao bater monstros sagrados como Agassi e Sampras, teve o carinho de agradecer à sua gente, à mãe, aos irmãos, à avó e ao técnico que gostava como se fosse um pai. É a humildade arrebatadora de Gustavo Kuerten, o Guga, conquistando o mundo.

Há dez anos, há exatíssimos dez anos, Guga nos brindava com uma das maiores alegrias que o esporte brasileiro já pôde conhecer. De novo, lá estavam os alunos matando aulas para assistir à sua performance, as donas de casa estavam em frente à tv e os executivos consultavam na internet, ponto a ponto, a trajetória daquele brasileiro de sorriso fácil e humildade gigantesca. Guga, há dez anos, foi tricampeão de Roland Garros.

Talvez ele nem saiba ao certo, mas uma década depois há quem ainda chore só de pensar no coração desenhado no chão do saibro após vitória histórica sobre Michael Russell. Ou, ainda, quem deixe a lágrima escorrer ao relembrar a cena em que ele, pela terceira vez, ergueu o troféu do torneio francês. No país da bola, Guga arrebatou multidões em frente à tv com uma bolinha. Um herói nacional, por natureza. Dez anos depois, vale dizer: obrigado, Guga. A raquete tocou o coração.

A dificuldade de uma entressafra

Se você tem cerca de 20 anos deve estar estranhando a fase da Seleção Brasileira. Muitos nomes novos, nem tão badalados mundialmente. Título mundial? Nas duas últimas Copas nem mesmo estivemos entre os quatro melhores. É um quadro curioso e, sim, talvez preocupante. Não é mesmo fácil lidar com uma entressafra. Olhe para os maiores times atuais. O Barcelona é comandado por um argentino e dois espanhois. O badalado Real Madrid é reduto português de Mourinho e Cristiano Ronaldo. O Manchester tem Rooney, um inglês, e Chicharito, um mexicano. Nenhum protagonista é brasileiro.

E então você, por volta dos 20 anos, pega as revistas de cinco anos trás. Ronaldo era ícone no Real Madrid. Ronaldinho encantava o mundo no Barcelona. Kaká era endeusado no Milan. Hoje, o futebol brasileiro se depara com um papel que não lhe agrada: ser coadjuvante. Os grandes destaques do futebol nacional estão mesmo na defesa. Thiago Silva no Milan. David Luiz no Chelsea. Marcelo no Real Madrid. Julio Cesar e Lúcio na Inter. Robinho faz o papel ao qual foi relegado desde que aterrisou na Europa e é coadjuvante de Milan. Pato é uma aposta, mas ainda sem a convicção.

Mano Menezes necessita dar cara a essa Seleção, identificar os jogadores com o público. Não depende só dele, claro. Em breve, Paulo Henrique Ganso, Lucas e, principalmente, Neymar deverão rumar à Europa. Lá serão testados e também cobrados para assumir os tronos deixados vagos por Ronaldo, Kaká e Ronaldinho, o que, naturalmente, não acontece de um dia para o outro. O problema é faltar apenas três anos para 2014, o ano onde a Copa volta a ser sediada neste país tropical.

Pela frente, uma Espanha campeã do mundo e com uma geração ainda com fôlego para defender seu título. Uma Alemanha já madura, unindo plástica e eficiência no jogo, com Schweinsteiger, aos 30 anos e duas semifinais de Copa no currículo, ciente do que será necessário. A tarefa não é fácil. Morto, o futebol brasileiro não está, como questionado pela revista inglesa "Four Four Two". O difícil, mesmo, é lidar com a entressafra.

9 de junho de 2011



O renascer de um Gigante


O apito soou em Curitiba e todos cantaram de coração. Após oito anos uma taça novinha em folha vai figurar na sala de troféus do clube que tem o nome do heroico português. Justamente assim, com conquistas, que a tua fama assim se fez. O gol de Alecsandro logo no início já fez de tua imensa torcida bem feliz.

Do Norte ao Sul deste país o aperto no peito era inevitável. Depois de tanto tempo, de tanta espera tua estrela na terra iria brilhar. Vá lá que o bravo Coritiba por algumas vezes até tentou acabar com a alegria vascaína. Mas Eder Luis pôs cada cruzmaltino a cantar novamente de coração. A angústia continuava ali, teimosa.

O sentimento não poderia mesmo parar. Não agora. Tão próximo do momento esperado, o grito ficou preso na garganta até o apito final. A imensa torcida, então, explodiu de tão feliz. Em anos. Do Norte ao Sul deste país fez-se o grito de campeão.

Pois até na Terrinha houve patrício que sorriu com a alegria no futebol. O traço de união dentre Brasil e Portugal. Pelos cantos de São Januário houve quem chorou por todos os amores. Pois o que aconteceu no Couto Pereira é vida. É história. É o primeiro amigo. No levantar da taça, o grito de casaca ecoou pelo Brasil. E, vejam, quem não o conhece perguntam por que o seguem. Fácil. Eles não param. É coração. Paixão. Religião. Assim renasceu um Gigante.

7 de junho de 2011

Ele não merecia


Ronaldo foi um monstro do futebol mundial. Campeão e destaque de uma Copa do Mundo, destaque na Inter de Milão, no Barcelona, no Real Madrid e por seis meses no Corinthians. Enfim, um dos grandes nomes da história. Exatamente por tudo isso Ronaldo não merecia uma despedida como a realizada na noite desta terça chuvosa no Pacaembu. Ronaldo, o maior artilheiro das Copas, já tinha se despedido há temos quando a figura rechonchuda entrou em campo aos 30 minutos do primeiro tempo.


O caminhar pesado, com dificuldade, e a camisa estufada com a volúpia da enorme barriga deram um ar constrangedor ao adeus de um dos maiores que já vestiram a camisa da Seleção Brasileira. O ex-atacante poderia ter tomado o mínimo de cuidado com a sua imagem para não se apresentar daquela maneira. O Ronaldo com o qual nos acostumamos e que conquistou o mundo era rápido, habilidoso, dava arrancadas e tinha porte de atleta.

Há algum tempo Ronaldo Nazário de Lima desistiu de ser Ronaldo. Mas poderia ter tentado ao menos uma última vez. Bastariam dois meses de treinamento, alimentacão regrada, vontade. E sairia muito bem de cena. Mas não. Ronaldo Nazário de Lima preferiu desrespeitar Ronaldo de novo. Algo que Edson Arantes do Nascimento, em campo, jamais fez com a imagem de Pelé. Nem Romário de Souza Faria com o Baixinho, que se despediu da Seleção em 2005 em forma e com um gol marcado. Ronaldo Nazário de Lima, lento e pesado, perdeu duas chances de estufar a rede que Ronaldo jamais perderia.


Ofegante, ele deu sua última volta olímpica com a camisa da Seleção Brasileira. Depois, como numa mea culpa, foi ao microfone e pediu desculpas ao público pelos gols perdidos. Mas ele deve olhar o espelho e refletir. Quem merece um pedido sincero de desculpas de Ronaldo Nazário de Lima é Ronaldo, o Fenômeno. Ele não merecia.

A boa e válida polêmica

Impulsionada pelo adeus fenomenal, a polêmica voltou com tudo. Mas, afinal, quem foi melhor: Romário ou Ronaldo? Ao contrário de tantas outras comparações sem sentido como Messi x Maradona ou Pelé, essa encontra um fundamento interessante. Ambos jogaram juntos na Seleção, cada um foi ícone de uma Copa conquistada pelo Brasil, brilharam na Europa e marcaram gerações. Mas como fazer para sair de cima do muro?

Não é fácil, mas, sem trocadilhos, a balança pesa para um lado. Romário fez 1.002 gols na carreira. Ronaldo tem a metade, cerca de 500. Romário era tecnicamente completo, a Ronaldo faltava o cabeceio. O Baixinho marcou pela genialidade, a técnica. Ronaldo, apesar de também ser muito técnico, se notabilizou muito pelas arrancadas, força física. Na bola e no campo, sem dúvidas Romário foi mais jogador do que Ronaldo. Era mais genial. Basta assistir aos melhores lances de cada um para ter certeza disso. Mas por quê muitos insistem em pôr Ronaldo acima do Baixinho? Fácil entender.

Ronaldo surgiu exatamente no instante em que o futebol se tornava um show business. Além de brilhante em campo, o artilheiro foi e é um fenômeno do marketing. As declarações em sua grande maioria são oportunas, agradáveis, dando afago a quem merece. Ronaldo foi instruído para ser assim, além de, claro, ter um dom natural para o negócio. Portanto, a benevolência com o Fenômeno foi maior em toda a carreira. Enquanto Romário foi sumariamente cortado da Copa seguinte à que foi o grande astro, Ronaldo foi tratado a pão de ló para se recuperar e brilhar em 2002. O lado fenomenal e midiático de Ronaldo é facilmente explicado por ser um atleta de superação. O eterno camisa 9 da Seleção tomou para si a imagem de fênix da bola, aquele que ressurge quando menos se espera. Justo e perfeito para um personagem que sabe trabalhar como poucos a sua imagem.

Romário, por sua vez, sempre foi contestador. Não tinha papas na língua, provocava adversário, dava declarações nada politicamente corretas e nunca foi simpático ao show business da bola. E pagou por isso. Embora na Seleção Brasileira o Baixinho não tenha derrota marcante, ao contrário de Ronaldo nas Copas de 98 e 2006, o Herói do Tetra disputou apenas uma Copa do Mundo de fato. E a venceu como ícone de talento . Ronaldo com tuda sua benevolência disputou, de fato, três Copas e pegou elencos mais técnicos. Até mesmo em 2002 ele dividiu o bastão com Rivaldo e Ronaldinho.

Romário decidiu deixar o futebol após o milésimo gol. Ronaldo foi deixado por ele pouco depois do gol 500. Para a geração atual, é fácil dizer que Ronaldo foi maior e comprar o que é vendido por grande parte. Mas vale o debate. Romário nunca jogou em São Paulo e para muitos paulistas está abaixo de Ronaldo. O Fenômeno nunca jogou no Rio e para muitos cariocas está abaixo de Romário. Faz parte do jogo. Mas se você acompanhou a carreira de ambos com atenção, não vai mesmo ter dúvidas de sacramentar: pelos números e pela bola, Romário foi mais do que Ronaldo dentro dos gramados.

6 de junho de 2011



Uma só despedida


Ídolo e jogador entraram em campo juntos. Seria apenas mais uma vez de tantas outras. Mas era a última. A nação que tanto o reverenciou estava lá, pronta para recebê-lo. Abraçado às filhas, faixa de capitão no braço esquerdo, camisa com número 43 e seu nome às costas de todos, ele respirou fundo, subiu os degraus e entrou em campo. É o Pet.

Da arquibancada, a torcida que o tornou ídolo o recebeu com o carinho de sempre. Com dentes trincados, ele viu seu nome surgir desenhado em um mosaico primeiro com as cores da Sérvia e, depois, rubro-negro. Emocionado, com a mão direita no peito e o punho esquerdo cerrado, no alto, ele agradeceu. Faltava pouco.

A bola rolou ao sair dos seus pés. Lá no alto, os gritos de “Fica!” nem pareciam mexer com ele. Aos 38 anos, o jogador não é mais o mesmo. Mas o ídolo mantém a classe de sempre. Em uma jogada, lança para Ronaldinho com categoria. Aplausos. Em outra, dá linda enfiada de bola para Wanderley. Peito apertado.

E no roteiro, claro, haveria uma falta. Na arquibancada, a lembrança. 27 de maio de 2001. O dia em que o jogador se transformou em ídolo. Mas Pet apenas acompanhou a bola de Renato entrar no ângulo. Como um menino, ele explodiu pela última vez. É o Pet. É, Pet. Chegara a hora.

Emocionado e reverenciado, o meia deu sua última volta olímpica, recebeu aplausos, abraços, placa. Então, jogador e ídolo se separaram. O primeiro, sim, se despediu. O segundo? Permanece.



Crédito da foto: Lancepress/Paulo Sergio