8 de novembro de 2011


A Copa das cotas

O cidadão comum brasileiro já se recosta no sofá. Tristonho, suspira ao imaginar os jogos da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Logo ele, torcedor de carteirinha, que frequenta Maracanã, Morumbi ou Olímpico desde moleque e contava as horas para assistir no seu quintal aos maiores craques do planeta tem grande chance de ficar fora da festa. Sozinho, ele observa o noticiário na televisão e fica ainda mais deprimido. Afinal, não é mais estudante, ainda não é idoso, não é estrangeiro, também não tem amigos políticos e muitos menos é índio. Está fora das cotas de ingressos para a Copa do Mundo. Está privado de um direito que deveria ser seu. Sempre foi. O simples prazer do brasileiro de frequentar um estádio de futebol.

Dotados de sorrisos cínicos, os caciques da Copa brasileira decidiram fatiar o torneio a bel-prazer. Caso você se enquadre no perfil estipulado por donas Fifa e CBF talvez tenha chance de sentar em uma arquibancada de um estádio novíssimo, construído com o dinheiro que você próprio sua para receber todo mês e depois contribuir para os polpudos cofres do Estado. Um acinte. O cidadão comum brasileiro tem tantos direitos quanto um índio. A cota não se justifica. Apoia-se na muleta do populismo governista em troca de boas palavras, manifestações positivas de ONG´s pró comunidades indígenas. Pratica-se, mais uma vez, o nefasto jeitinho brasileiro. Ingresso para índio assistir à Copa tem. Combate ao desmatamento em reservas indígenas, não.

A Copa do Mundo em território brasileiro após 64 anos deveria ser uma grande celebração do futebol no país que respira o esporte. Pelo que se desenha, não será. Fatia-se os ingressos em inúmeras cotas, premia-se os estrangeiros, facilita-se elites e faz-se populismo com quem não deveria ser exposto a tal façanha, os índios. O velho e bom torcedor, apaixonado pelo seu time, que vai ao Maracanã de chinelo de dedo, gasta seu domingo debaixo de um sol escaldante só para apoiar o time, ao que parece, não será convidado. Em um país marcado por diferenças sociais gritantes, estimular a desigualdade em um sistema surrado de cotas para ingressos em jogos de futebol extrapola qualquer limite do bom senso. Triste Copa das cotas.

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