30 de agosto de 2011


Por Leonardo André, jornalista e assessor de imprensa do departamento de futebol do Flamengo

Há alguns anos, eu achava essas peladas de profissionais de imprensa contra ex-jogadores e/ou integrantes da comissão técnica dos clubes algo muito legal. Foi em um desses eventos que conheci Ricardo Gomes. Sem saber que o meu futebol não mete medo em marcador algum, ele logo mandou o recado quando viu que eu jogaria de atacante: “Não apronta correria para cima de mim, respeita a minha idade”. Eu sorri e respondi sem pensar: “Mesmo que eu quisesse, não seria maluco. Eu respeito a tua história”. Naquele dia, o máximo que consegui no imenso campo das Laranjeiras foi um bom passe, mas Ricardo não estava mais em campo.

A convivência diária com Ricardo Gomes aconteceu somente em 2004. E tudo que eu ouvia falar dele se confirmou. Ricardo é o tipo de pessoa que milita no futebol porque gosta, não porque precisa de holofotes para massagear seu ego. Foi nos poucos meses de Tricolor que virei fã dele. Educado, gentil, sincero, firme sem ser estrela, decidido, mas sereno, Ricardo era incapaz de tratar mal alguém.

No Brasileiro de 2004, em um jogo contra o São Paulo, Ricardo substituiu Edmundo no intervalo, perdeu a partida, e o atacante não poupou críticas ao treinador. No dia seguinte, liguei para o Ricardo, que mostrou a tranqüilidade de sempre. “Léo, o Edmundo pensa de uma forma e eu de outra. Mas a conversa vai ser interna, e o assunto será resolvido. Discussão pública não é comigo”. E eu realmente não esperava nada diferente. Firme sem ser espalhafatoso, Ricardo contornou a situação, Edmundo se desculpou e a vida seguiu.

Meses depois, Ricardo negociava sua ida para o Flamengo. Eu nem fazia a cobertura rubro-negra, mas queria muito vê-lo na Gávea. Quando soube da chance, mandei um torpedo. “É só curiosidade...rs...Só quero saber se vou te ver de Flamengo agora. Abraços, Léo”. Não demorou muito e veio a resposta. “Pode ficar feliz. Vou treinar o teu time. Forte abraço”.

Quando Flamengo e Fluminense se enfrentaram no Brasileiro de 2004, Ricardo treinava o Fla, e Edmundo continuava no Flu. Foi do atacante o gol da vitória tricolor por 2 a 1. No dia seguinte, Edmundo quebrou o gelo e me deu uma longa entrevista pelo telefone. Aproveitei para matar uma curiosidade. “Você teve um problema com o Ricardo no Fluminense, mas foi abraçá-lo antes da partida. Eu achei estranho...” Edmundo nem me deixou terminar a pergunta. “Léo, é impossível não gostar do Ricardo. Naquela discussão, eu era o errado. Passou, eu adoro ele”.

Depois que foi para o a França, o contato com Ricardo diminuiu. Algumas vezes, porém, seu nome era falado para voltar ao Fluminense. Em duas ocasiões, conversamos por telefone sobre o assunto e, ao dizer que tudo não passava de especulação, eu tinha a certeza de que ele falava a verdade. Em 2009 e 2010, quando jogamos contra o São Paulo, fiz questão de cumprimentá-lo no vestiário antes dos jogos e sempre ouvi um “Como é bom te ver”, frase simples, mas que retratava o carinho e a cordialidade de uma pessoal especial.

No domingo, antes do clássico, ia seguir minha rotina e dar um abraço no Ricardo mais uma vez. Pensei e achei melhor deixar para depois da partida. Agora, não vejo a hora de encontrá-lo e poder dizer: “como é bom te ver”. Força, amigo...

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