10 de setembro de 2011


Respeitem o Ricardo

Diante da cena dramática de Ricardo Gomes com parte do corpo paralisado no banco de reservas do Vasco e, posteriormente, de seu comprovado grave estado de saúde, é natural e legítimo o interesse que ronda o técnico vascaíno. A comoção em abundância, no entanto, passou. Sem dó nem piedade, muita gente pouco se importa em perceber quão delicado é o momento. Especulações de nomes para o cargo de Ricardo Gomes aparecem mais do que os milhões de euros para levar Neymar para o futebol europeu. São ofertas, desmentidos, boatos e nenhum bom senso nas consequências do que palavras e imagens ao vento podem causar a Ricardo e sua família.

Por diversas vezes, o Vasco se pronuncia. Não está pensando, não pensa e não tem interesse em trazer no momento um substituto para Ricardo Gomes. Até porque a principal cabeça que pensava ao lado do treinador em São Januário está à beira do gramado: Cristóvão Borges, seu fiel auxiliar. Mas o apetite pela fome e pelos boatos é insaciável. Dane-se o Vasco dizer não ter interesse em substituir o técnico agora. Parece valer levantar a polêmica ao afirmar que o clube deveria fazê-lo o mais rápido possível com o argumento de não perder a chance de título do Campeonato Brasileiro. Pois bem. Pergunte a cada jogador vascaíno, à maioria dos torcedores que carrega a cruz de malta no peito se o sentimento não aumentou ainda mais com o drama do treinador. Claro que gostariam de levar a taça em homenagem a ele, figura correta, querida e respeitosa no sujo meio da bola. Mas sem ninguém em seu lugar. Pelo menos até o fim da temporada.

Caso Ricardo Gomes seja aconselhado por médicos e família a não continuar a carreira de treinador, a discussão sobre um novo nome para o cargo será válida. Já com ele fora do hospital e de perigo, talvez até com um novo cargo oferecido pelo clube. Mas por enquanto não é. Ricardo Gomes merece mais consideração agora do que nos dias em que esteve à beira do gramado com o agasalho vascaíno. Internado em um hospital, lutando a cada dia para voltar a viver sem sequela alguma, ele emociona multidões com a simples informação de que retribuiu a declaração de amor do filho. Maldade pensar, de maneira mesquinha, que alguém cogitaria substituí-lo por agora. Não vale. No oceano das especulações, até qualquer lucidez é perdida com jornais que estampam em sua capa uma foto do técnico entubado no hospital. Deveriam repensar a consequência. Não pelos leitores, não pela profissão. Por humanidade. Por favor, respeitem o Ricardo.

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