1 de setembro de 2004

O Brasil olímpico

Como foi a performance brasileira em Atenas? Para os números, a melhor da história. Tudo bem, tivemos algumas conquistas emocionantes e alguns desempenhos surpreendentes. No entanto, não nos esqueçamos das frustrações. Incomodou um certo "carnaval" em cima de um quinto lugar, por exemplo. A nadadora Joanna Maranhão chegou nesta posição pela primeira vez em 50 anos? Sem dúvidas, uma evolução, mas ainda é pouco, muito pouco para um país que tem tudo para ser uma potência olímpica. O futebol e o basquete masculinos nem mesmo chegaram a embarcar para Atenas. Ficaram no meio do caminho. Nossa seleção de vôlei feminino, campeã do Grand Prix, fracassou no momento decisivo; as meninas do basquete não trouxeram uma medalha pela primeira vez após três Olimpíadas e até mesmo Daiane dos Santos não conseguiu conquistar a medalha quase certa. Uma realidade áspera. Nos classificamos para finais inéditas no atletismo, mas, ainda assim, deixamos a desejar. O Comitê Olímpico Brasileiro comemora a participação brasileira em 30 finais em Atenas, mas parece se esquecer que a conquista de medalha é o verdadeiro objetivo. É neste ponto que exageramos. Não encaramos as frustrações cara a cara. Em vez disso, preferimos valorizar todos os feitos, seja ele qual for. Não foram poucas as vezes em que ouvimos locutores de televisão bradarem a frase "esse bronze vale ouro". Certo está o comentarista do Sportv, Alex Escobar, ao afirmar uma sensata obviedade: ouro é ouro, prata é prata e bronze é bronze. Existiram até mesmo atletas que ficaram em quinto lugar e, mesmo assim, desfilaram em carro de bombeiros, homenagem mais apropriada à brilhante Seleção masculina de vôlei e a Vanderlei Cordeiro Ribeiro, impedido de alcançar o ouro por um fanático religioso. A hora é de enxergar que conquistamos apenas quatro medalhas de ouro em apenas duas modalidades, a vela e o vôlei. Os passos em natação, sem medalhas, e no atletismo, só com o bronze de Vanderlei, foram dados para trás. Os argumentos de falta de investimento no esporte que vêm à tona em época olímpica estão corretos. Mas é preciso cobrar do Governo Federal medidas para a massificação esportiva no Brasil e descobrir os diamantes que estão pelo país à espera do incentivo para serem, enfim, dilapidados. Por enquanto, pés no chão e consciência de que somos grandes e podemos mais, muito mais. Atenas foi pouco. Quem sabem em Pequim, daqui a quatro anos, o resultado seja melhor. Com as palavras "trabalho" e "investimento", sem euforia, ficará mais fácil.