6 de novembro de 2011


A honra de Deivid

Difícil acreditar que o camisa 9 do Flamengo recebe bordoadas de todos os lados desde que chegou à Gávea. Deivid não demonstra mágoa. Não faz gestos obscenos, não falta a treinos, não passa dias e dias lesionado no departamento médico. Está em todas. Vá lá que 2010 não tenha sido muito efetivo. Em vez daquele veloz atacante dos tempos de Santos e Cruzeiro, o que vestiu a camisa 99 na Gávea estava lento, pesado e foi comparado a atacantes pavoroso. Foi comparado a atacantes pavorosos que já passaram pelo futebol brasileiro. Virou vítima de piada de programa de tv e recusou vestir a camisa e atestar a gracinha. Mas Deivid tem honra.

Porque o atual camisa 9 do Flamengo não explodiu diantes de nenhuma das provocações e há quase um ano não recebe seus direitos de imagem, a parte mais polpuda dos salários de muitos jogadores. Quieto, Deivid assistiu à torcida pedir Wanderley ou Jael em inúmeros jogos, vaiá-lo em outros, fazer campanha por Adriano e Vagner Love e a diretoria buscar incansavelmente por André. Nada resolveu e Deivid permaneceu no time a maior parte do tempo, sempre bancado por Vanderlei Luxemburgo. De gol em gol, ele foi diminuindo a fúria da torcida, mas nunca deixou de ser alvo de chacotas. Ainda é até hoje. Diante do Cruzeiro, mais uma vez foi fundamental para o Flamengo no Brasileiro. Fez dois gols e chegou a 15 gols em todo o campeonato. Não é mesmo pouco.

Em 2009, Adriano foi artilheiro com 19 gols e marcou alguns de pênalti. Deivid fez todos com a bola rolando, a maioria com um só toque na bola. De atacante veloz dos tempos de Corinthians, Cruzeiro e Santos, demorou até entender que seu corpo não aguenta mais tanta velocidade aos 31 anos. Mudou o estilo. É o atacante de um toque só. Não é nada, não é nada e o camisa 9 já é o vice-artilheiro do Campeonato Brasileiro. Artilheiro do time que tem o melhor ataque da competição. Fez 15 dos 57 gols do Flamengo. Ou 26%. Não é pouco e não há como não ter méritos. Com salário atrasado, achincalhado pela torcida, Deivid nunca levantou a voz, fez gestos ou veio a público reclamar de seu salário atrasado. Pelo contrário. Por vezes exaltou que realiza um sonho ao jogar no Flamengo, seu clube do coração. Deivid não é o maior atacante que o clube já teve. Nunca será. Tem limitações e hoje parecer saber disso. Mas tem couraça forte. Aguenta pancadas, chacotas e salário atrasado. Ainda assim treina, joga e já fez 15 gols no Brasileiro. Sujeito honrado este Deivid. Não é mesmo pouco.

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