17 de junho de 2011


A Sociedade do Sorrisão

Faltam apenas três anos para a Copa do Mundo de 2014, realizada em solo pátrio. Mas parada em frente à tv a Sociedade do Sorrisão absorve a figura do boneco criado para diverti-la tão somente. E pouco se importa com os tapas de mão cheia dados por deputados, senadores, governadores e outros poderosos desse país no que realmente importa. Pois durante essa semana o jornal Folha de São Paulo revelou que foi aprovado na Câmara dos Deputados o texto da Medida Provisória 527, criando um Regime Diferenciado de Contratações para eventos públicos, tais como Copa e Olimpíada, e que permite o sigilo de orçamentos da União para estes eventos. Um soco no estômago dos vários sorrisões espalhados por aí.

Ao mesmo passo explodem notícias de que faltam cobertores e remédios em hospitais. Basta cair uma chuva mais violenta para que as cidades brasileiras se transformem em autênticos parques aquáticos do terror. E os governantes da sociedade do sorrisão, vejam só, trabalham arduamente para que os gastos estratosféricos da Copa do Mundo e das Olimpíadas possam ser sumariamente escondidos. Falta uma cobertura ao Maracanã? É fácil, Sorrisão.

Temos R$ 1 bilhão para reformar o estádio e transformá-lo no palco principal da Copa do Mundo. E logo ali ao redor do futuro novo Maraca está uma das áreas mais vitimadas pelas chuvas sem que uma medida enérgica seja tomada para poupar vidas que nem mesmo assistirão ao brilho da Copa de 2014. Um tapa na sociedade Sorrisão, quase inerte, absorvida em seu entretenimento com comemorações de gol de jogadores e o sorrisão estampado na cara de governantes que afirmam que a Copa aqui será de Primeiro Mundo. Mais um tapa bem dado no Sorrisão.

Pois é esta Sociedade do Sorrisão, inofensiva diante da possibilidade do sigilo de orçamentos de eventos públicos e gigantescos, que reclama do péssimos hospitais públicos, reclama do transporte coletivo, mas comemora a chegada da Copa do Mundo e faz festa no Carnaval. É a sociedade que assiste ao mais alto órgão judiciário da nação, o Supremo Tribunal Federal julgar a legalidade da Marcha da Maconha, e nem mesmo a legitimidade do uso da droga, enquanto o país se perde em meio a vultosos e escandalosos orçamentos.

Mas ali em frente à tv, com o boneco a balançar e sorrir, está tudo bem. A Sociedade do Sorrisão levou mais um tapa, talvez o maior dos últimos anos. Estagnado, porém, continua com o sorriso estampado no rosto e balança um pouco. Mas quem sorri, mesmo, são os governantes com a certeza de que os Sorrisões balançam, mas já, já voltam ao seus lugares. Completamente inertes e com caras de bobos.

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