23 de junho de 2011


A inquestionável competência

Terminada a partida, Muricy caminha pelo campo visivelmente emocionado e, indagado por um repórter, dispara: "Eu merecia esse título!". Pronto. A senha para os opositores foi dada. Pouco importa se dos últimos seis Brasileiros ele venceu quatro. Pouco importa se é, em sequência, campeão brasileiro, paulista e da Libertadores. Não interessa que ele tenha superado o estigma de não vencer em mata-matas importantes. O que interessou, mesmo, é dizer que Muricy no seu maior momento de glória na carreira de técnico foi arrogante. Notem a hipocrisia: um técnico multicampeão afirma que merecia um título e é rotulado como arrogante. Muricy incomoda.

O estilo de jogo das equipes do técnico virou motivo de galhofa dos detratores. É o Muricybol, dizem. Prioriza a defesa, vence de 1 a 0 e isso não tem absolutamente graça. Não? Pois pergunte hoje aos santistas se eles se arrependem de terem recebido o treinador de braços abertos após a saída do Fluminense. Difícil achar um só que levante a mão. Muricy parece ter o toque de Midas dos dias atuais do futebol brasileiro. Exceto a breve passagem pelo Palmeiras em 2009, todas as outras equipes comandadas por ele conheceram glórias sob sua batuta. Talvez seja só coincidência.

No Fluminense, Muricy disse não ao cargo de treinador da Seleção Brasileira, desejo de dez entre dez técnicos de futebol. Manteve firme um time desfalcado das estrelas e deu ao clube o título brasileiro que não aparecia há 26 anos. Ano novo, vida nova. E Muricy acabou fritado nos bastidores da incompetência que assolou as Laranjeiras. Aos poucos, derrubaram pessoas de confiança do técnico até forçá-lo a pedir o boné e sair como vilão. Magoado, Muricy talvez tenha cometido o erro de falar publicamente de uma estrutura precária. Talvez. E pagou o preço apenas com torcedores cegos que compraram a história da diretoria tricolor, afoita em esconder um erro crasso.

Pois Muricy foi atacado por ter dito antes que não quebrava contratos. E foi forçado a quebrá-lo no Flu. Acuado, repousou por alguns dias no interior e, sim, assumiu o Santos. Em suas mãos, contava com um time ameaçado de eliminação na Libertadores e em plena disputa do Paulista. Pois faturou o Estadual e nesta quarta-feira colocou seu maior título no currículo, a Libertadores pela qual era tão cobrado desde perdê-la pelo São Paulo, em 2006. Mas os detratores atacam de novo e voltam à carga após o desabafo de que ele merecia aquele título. Sim, Muricy merecia. Assim como mereceu cada um dos quatro Brasileiros. Deu padrão tático ao time, consolidou a defesa e contou com a sorte de ter Neymar em estado de graça. A sorte segue a competência. E, no caso de Muricy, isto é algo inquestionável.

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