29 de junho de 2011



A maquiagem tricolor

O nome de Muricy Ramalho parece ecoar cada vez com mais força no Salão Nobre das Laranjeiras. Tal e qual um fantasma, o técnico insiste em aparecer no noticiário tricolor mesmo mais de três meses após a sua saída. O inconformismo dos mais novos sucessos do treinador do Santos parece tirar o sono de quem comanda hoje o Fluminense. Eleito como um símbolo de modernidade, o presidente tricolor, Peter Siemsen, dá um tapa em sua plataforma ao procurar atingir Muricy e tentar tapar com peneira o sol de uma grande incompetência administrativa ocorrida logo nos primeiros meses de gestão.

Assim que Peter e sua turma assumiram a administração das Laranjeiras, Muricy era intocável para qualquer torcedor tricolor. Campeão brasileiro após 26 anos, o Fluminense enxergava no técnico o símbolo de uma virada na história tão sofrida com rebaixamentos e administrações. Tarefa hercúlea, então, seria tirá-lo do posto de treinador e todo poderoso sem sofrer críticas da torcida e ter a imagem de uma gestão dita como promissora arranhada de maneira tão precoce. A solução, então, foi minar o treinador nos bastidores. Pessoas de sua confiança deixaram o clube, o diálogo deixou de ser simples e até seu maior escudo, Alcides Antunes, deixou o cargo de vice de futebol em uma guerra política. Muricy não suportou. Pediu o boné e foi embora. Urros de alegria nos corredores das Laranjeiras. Missão cumprida.

Desgastado e irritado com o clima pífio dos bastidores, o técnico errou, sim, em sua saída ao disparar publicamente contra a estrutura do clube, a diretoria e outros erros. Talvez tenha lembrado das reuniões marcadas e não atendidas com a alta cúpula. As invasões à sua sala sem aviso prévio. Então, rescindiu seu contrato e aceitou, como todo profissional tem direito, trabalhar na melhor equipe do Brasil. A cada vitória do treinador no Peixe, o assombro do erro crasso da diretoria ficou maior. Por pura politicagem e despreparo, fritaram o melhor técnico do Brasil nos nos bastidores para que ele saísse como vilão. Há quem compre a história e chame Muricy de rato até hoje. Pura ingenuidade.

Muricy não é santo. Para ser o maior vencedor atual do futebol brasileiro, não há mesmo como ser perfeito e sobreviver aos percalços do traiçoeiro mundo da bola. Por vezes é rabugento, mal educado e chama o holofote para si. Mas quem perdeu em toda a história foi o Fluminense, ao assistir, já eliminado, o triunfo do técnico na tão sonhada Libertadores. Um golpe duro demais para quem quis ver o técnico pelas costas e pintá-lo como o vilão de toda a história. Ao conceder entrevistas disparando contra Muricy logo após o título santista na Libertadores, Peter Siemsen no fundo parece mostrar um certo arrependimento. Talvez o gerenciamento de bastidores deveria ter sido feito de maneira com que o melhor treinador do Brasil continuasse a vestir verde, branco e grená. Agora, porém, é tarde. Mais fácil é continuar com essa maquiagem tricolor.

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