3 de agosto de 2011


Nova ordem

O espanhol e o italiano voltaram para o Velho Continente inconformados. Quão petulantes são esses moleques para recusar propostas milionárias dos poderosos Real Madrid e Inter de Milão? Passaram a entender, então, que o panorama mudou. As recusas de Neymar ao time espanhol e Lucas ao clube italiano podem simplesmente ser exceções perdidas em meio às naturais exportações de pé-de-obra. Até podem. Mas, de fato, já são a representação de uma nova ordem no futebol brasileiro. Não basta mais chegar com milhões de euros, assinar meia dúzia de papeis e sair com a nova promessa do futebol nacional debaixo do braço. É preciso convencer os garotos de que se trata, sim, de um bom negócio.

Real Madrid e Inter de Milão, por ora, não tiveram êxito com Neymar e Lucas. 45 milhões pelo primeiro. 27 pelo segundo. Nada feito. Dois expoentes da nova geração de craques do futebol nacional, os garotos dizem para quem quiser ouvir que desejam brilhar por aqui, pelo menos por algum tempo. O craque santista já o faz. Lucas vive seus altos, mais frequentes, e baixos. Impulsionados pela estabilidade da economia brasileira, os clubes se cercam de patrocinadores, assinam contratos antes inimagináveis de direitos de tv e oferecem aos garotos salários estratosféricos. Qual a razão, portanto, de deixar a proximidade da família, a identificação com o clube de origem, o carinho das ruas e a zona de conforto? Neymar e Lucas ainda não a encontraram.

Fatalmente daqui a algum tempo, talvez até meses, ambos rumarão para o futebol europeu em busca não do dinheiro, o que lhes é oferecido aqui. Mas, sim, do prestígio de ter vencido no futebol do Velho Continente, de ser eleito por dona Fifa o melhor do mundo, tarefa quase impossível para quem joga do lado de baixo do globo. Ninguém poderá culpar os garotos por esses desejos. Mas vale elogiá-los agora.

Neymar, 19 anos. Lucas, 18 anos. Garotos com milhões nos cofres e talento nato para jogar futebol se dispuseram a lascar tapas nas caras dos europeus. Da Espanha, um colunista desdenhou de Neymar, afirmando que o jovem não conhece o Real Madrid para recusar uma proposta. Sorridentes com as molecagens, no ótimo sentido, que aprontaram, a dupla mandou o recado a quem se acostumou a tratar o Brasil como colônia. Há uma nova ordem por aqui, colonizadores. Acostumem-se.

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