1 de julho de 2011


A escolha de Conca

Talvez nem mesmo Darío imaginasse que Conca, seu alterego, valesse tanto assim. E lá está o melhor jogador do Brasileiro de 2010 arrumando as malas, rumo ao verdadeiro negócio da China em sua carreira. Em sua vida. Talvez só na timidez diante das câmeras Conca lembre aquele garoto franzino, de cabelo arrepiado e olhos arregalados que aportou no Vasco em janeiro de 2007. Era uma aposta, com o selo de qualidade da base do River Plate, onde por vezes foi renegado, e após boa passagem pelo futebol chileno. Nem de longe Darío, reserva do Vasco e que andava sempre ao lado do compatriota Dudar, imaginaria a valorização que teria quatro anos depois.

Ao receber a proposta do inexpressivo futebol chinês, Conca abriu os olhos. Observou o passado, o presente e imaginou o futuro para si e para a família. Terceiro maior salário do futebol mundial. Inúmeros zeros. 28 anos. Sem passagens por seleção principal ou futebol europeu. Darío não poderia mesmo deixar que Conca deixasse a oportunidade ir embora. Agarrou-a e pediu ao Fluminense que o liberasse para a chance única. Parece ter conseguido. Apesar da tristeza, até o torcedor tricolor lá da arquibancada consegue compreender.

Conca está longe de ser um gênio. Nem craque é. É um ótimo jogador, ainda mais para os padrões atuais do futebol e que vive seu auge técnico, físico e psicológico. Profissional, jogou todos os 38 jogos da campanha do título brasileiro de 2010 do Fluminense enquanto seus badalados companheiros utilizavam o departamento médico como casa. E Conquinha, como é chamado por muitos, aguentou o tranco no alto de seu 1,67 metro e com dores no joelho posteriormente operado. A Libertadores que escorreu entre os dedos em 2008 quando ainda era um coadjuvante também não se apresentou em 2011. Missão cumprida. Protagonista no futebol brasileiro após ser ignorado no futebol argentino.

Enquanto a Argentina estreia na Copa América nesta noite, Conca arruma as malas, faz exames físicos e se prepara para encher os bolsos e garantir seu futuro nos próximos dois anos e meio na aventura chinesa. Na terra portenha, seus compatriotas o ignoram. Acham até graça como aquele canhotinho pode ficar atrás apenas de Messi e Cristiano Ronaldo no ranking da grana. E o River Plate, que ignorou sua prata da casa, amarga o rebaixamento. Com o sorriso tímido característico, Conca sabe que sua missão foi cumprida no Brasil. Cabe ainda a confirmação. No mundo da bola, o baixinho pode até permanecer no Tricolor. Mas Conca está decidido a saltar sobre o cavalo encilhado. Uma boa escolha.

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