19 de julho de 2011

O preço de deixar o Olimpo

Falcão permaneceu por anos no Olimpo com outros deuses da bola. Foi Rei em Roma, mas nunca esqueceu a camisa vermelha do clube em que era o maior ícone da história. De cima, contemplou o seu Colorado ganhar Libertadores e o Mundo, algo que nem ele teve pôde provar como jogador. O desejo, então, invadiu o coração do ídolo. E Falcão se propôs a deixar o Olimpo para vestir o agasalho vermelho do Internacional e despir-se de seus poderes de deus colorado. Tornou-se mortal, passível de críticas e de injustiças do mundo da bola.

A expressão de incredulidade de Paulo Roberto Falcão, já ex-técnico do Internacional, em sua entrevista coletiva após a demissão é comovente. Revela um deus traído e até culpado por ter sido tão ingênuo. Após se acostumar por anos a ser reverenciado, tratado com tapete, literalmente, vermelho, Falcão não esperava que fosse tratado como mais um. Ou, pior, que fosse julgado de maneira até mais severa do que um simples técnico qualquer. Ao entregar-se novamente à paixão colorada, o ídolo esqueceu-se de que era deus.

Lá de cima, Falcão pôde observar o que ocorreu com outros deuses que toparam a empreitada de deixar o Olimpo. Mas fez vistas grossas à crueldade com que as novas geraçõs tratam o ídolo de sempre. Zico foi reverenciado por sua história no Flamengo. É, ainda, chamado de Deus. Mas como dirigente rubro-negro encontrou uma inquisição que nem mesmo os piores dirigentes do Flamengo não tiveram de enfrentar. Magoado, deixou o clube incrédulo e sofrido. Falcão nã percebeu o exemplo. E foi apunhalado.

A poucos quilômetros do Beira-Rio, Renato Gaúcho, o deus gremista, também desceu do Olimpo. Sorriu, sofreu, comemorou, chorou. Mas ainda que tenha deixado o clube, teve o abraço do povo e palavras respeitosas. Falcão, não. Sentia-se confortável, acreditava piamente que seus poderes de deus seriam suficientes para segurá-lo em caso de tempestades no comando do Colorado. Não foram.

Na primeira rajada de vento severa em poucos tempos de trabalho, Falcão olhou para cima. Magoado, não acreditou que fora traído. Por parte de seus antigos súditos. Por comandantes de sua camisa colorada. E, com os olhos marejados, percebeu o que Zico já percebera quase um ano antes. Há um preço para deixar o Olimpo.

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