7 de outubro de 2016

Sobre gerações e o debate míope

Bastou um primeiro tempo com quatro gols sobre a Bolívia para a discussão voltar à tona. Em pauta a geração do futebol brasileiro. Ódios e paixões. Ironias sobre quem acha a safra ruim. Piadas com quem classifica a geração como ótima. Entre lá e cá, a discussão não encontra seu meio termo e se envolve de incrível miopia em tempos em que polarizações e radicalismos voltaram à moda. Todos têm um pouco de razão. A discussão, atualmente, é míope. 

A safra que Tite tem em mãos não é mais a que gerou debate, amor e ódio por bares, tvs, redações e redes sociais brasileiras. Afirmar que Philippe Coutinho, Neymar, Marquinhos, Gabriel Jesus são de ótimo nível e capazes de formar, nas mãos de um bom técnico, uma seleção capaz de ser extremamente competitiva é sentar em cima do óbvio. Analisar que todos estes nomes, embora com potencial, ainda estão aquém do alto padrão clássico do futebol brasileiro também está longe de residir no absurdo. Mas voltemos no tempo.

A raiz da discussão está na entressafra da última década. Entre ciclos de Copas do Mundo, torcedor e crítica brasileiros jamais haviam enfrentado um período sem um elo entre os craques. Havia sempre uma ponte em alto nível. Depois de Romário, Ronaldo começou a abraçar o mundo entre 1994 e 1998 na companhia de Cafu, Roberto Carlos e Rivaldo. Protagonistas no futebol mundial. Três finais de Copa do Mundo, conquistas por clubes europeus, referências técnicas. Geração do mais alto nível que ganhou, até seu derradeiro fim em 2006, as companhias de Kaká, Ronaldinho e Adriano. 

Três craques e protagonistas que, por diversos motivos, deixaram a função de elo antes do fim do ciclo natural de uma carreira. O futebol brasileiro se viu só entre 2006 e 2010. Criou-se a imagem de que a geração a seguir já não acompanhava o alto padrão. E, de fato, tinha dificuldades. Afonso Alves, Grafite, Doni, Júlio Baptista. Bons jogadores, com importância relativa em seus clubes. Mas, de fato, abaixo de um padrão histórico. 

Kaká, já num ostracismo insistente no Real Madrid, figurava na competitiva seleção de Dunga diante de falta de opções. Robinho, coadjuvante em clubes internacionais, também ganhava holofote com a camisa amarela. Esforçaram-se, mas estavam longe de serem protagonistas que pavimentassem o futuro para novos valores. Neymar era um astro em plano nacional, com a camisa do Santos, sem cancha para assumir qualquer papel na seleção. Philippe Coutinho, tímido, começava uma trajetória na Europa. Gabriel Jesus engatinhava pela base. Sem individualidades brilhantes, a seleção brasileira principal carecia de melhor trabalho tático e, coletivamente, fracassava. Por não ter um técnico tão bom. Por não ter uma geração imponente. O sarrafo brasileiro era mais alto. 

Não se tratava de uma questão de idade. Neymar, precoce, assumiu o protagonismo a fórceps após 2010. Foi alçado a um patamar ainda cru. Mas não tinha opção ou suporte. E a crítica ganhou o seu auge no 7 a 1 diante da Alemanha. Um time com média de 27,6 anos. Eliminação vexatória. Críticas. Sim, a geração estava aquém de quem esperava uma linha sucessória do mesmo nível. Era apenas boa. Certamente longe de ser candidata a título mesmo em seus melhores dias. Obviamente aquém de um 7 a 1 se bem treinada. Surgiu, então, a miopia na discussão. 

A diferença de média de idade entre o time do 7 a 1, à sua época com 27,6 anos, e a escalação que goleou a Bolívia nesta quarta, com 26,7 anos, nem é tão grande. Mas o Brasil de Tite hoje é mais bem treinado e tem garotos mais maturados no alto nível do futebol europeu. Coutinho e Neymar. Gabriel Jesus, espetacular no futebol brasileiro, de malas prontas para desembarcar sob as asas de Guardiola em Manchester. São inegavelmente melhores do que Maicon, Luiz Gustavo, Hulk, Dante e companhia. São de uma geração posterior. E melhor. Vangloriar a nova turma para responder críticas feitas a outra é tornar míope a discussão sobre gerações. Nem tanto lá, nem tanto cá.  

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