16 de outubro de 2016


Líder com o coração

A história era conhecida no Ninho do Urubu em 2009. Túnel do vestiário do Mineirão, o Flamengo entraria em campo para enfrentar o Atlético-MG, então postulante ao título, e precisava vencer. Adriano, ícone do time, chamou todos, comissão técnica e jogadores, e, entre um e outro palavrão, berrou com o time que sempre fora campeão na vida e queria ser de novo. A cada palavra, um murro imperial no ombro de cada espectador. Quem acompanhou a cena garante que o time entrou em campo eletrizado e, por isso, engoliu o Atlético diante do Mineirão lotado. Era um time sedento por título, em plena arrancada. Encorpado por um espírito necessário para levantar taças. Com coração. 

Neste Brasileiro, o Flamengo se notabilizou na disputa pelo título não por ser implacável aos adversários, dotado de uma característica agressiva que lhes impunha respeito quase intimidador. Mas, sim, pela organização tática. Os dois pontas, a ótima saída de bola de Arão, a boa fase de Pará, o jogo que fluía. Chegou ao ápice contra o Figueirense. E parou. Contra o São Paulo, pontas presos e um time tocando bola, com campo e sem inspiração. Talvez até sem pernas, dado o cansaço físico. Mas um cansaço que cortou a atitude. Era um Flamengo, à caça do líder Palmeiras, tranquilo de que o resultado chegaria como consequência. Não chegou. Não fosse Muralha contra Chavez, a derrota poderia ter acontecido ali. Foi só adiada. 

Após encurtar a distância na briga, o Flamengo voltou a campo em condições parecidas contra o São Paulo. Fora de casa, contra um grande clube que tem um time pobre de ideias e na luta contra o rebaixamento. De novo, o time de Zé Ricardo apresentou guarda baixa. Teve campo cedido pelo Inter, apesar dos lados marcados. Mas teve, de novo, lentidão. Trocava passes como se o jogo fosse durar dois dias e o gol fosse questão de tempo. Não parecia, ali, ser um time capaz de assumir a liderança na rodada. Apático, saiu na frente com Rever. E, inexplicavelmente, desmoronou. Cedeu à vontade do Inter de não se entregar em casa diante de um desafiante do título. Viu a distância para o Palmeiras aumentar. Um rival que mostra o coração. 

Assim como o próprio Flamengo, o líder paulista encarou seu momento de declínios físico e tático. Passou sufoco, teve embates duros contra Grêmio e Corinthians, ambos fora de casa, e não perdeu. Segurou o momento pela crina, mostrou energia, ainda que o bom desempenho tenha ficado em segundo plano. Muitas vezes é o diferencial para ser líder. Para ser campeão. Ter casca, aguentar pancadas da sequência da tabela, com desfalques e pressões que só fazem aumentar na reta final. Ouvir um berro. O Palmeiras, há 22 anos sem um título brasileiro, entra em campo sedento por uma vitória. Sabe que não basta esperar o tempo passar. Precisa tomar os minutos a seu favor. Briga, vê Zé Roberto se estirar no chão, de peito, para evitar o gol adversário. Gana. Coração. É o que o torna líder e favorito nesta reta final de Brasileiro. 

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