20 de outubro de 2016

O orgulhoso Botafogo

O botafoguense puxa a tabela do Campeonato Brasileiro, confere os números, abre um sorriso e relaxa. Inquieto, abre de novo, constata a campanha do time, decora cada item, suspira e enche o peito. Está orgulhoso. Viaja no tempo, pensa no fim de 2014 e olha para o céu. Jamais duvidou. Mas houve quem o fizesse duvidar de seu orgulho. Rebaixado com uma rodada de antecedência, o torcedor do Botafogo tentava entender por que estava condenado por um crime que não havia cometido. Era o papo dos bares, a provocação dos rivais, a resenha da tv. O clube estava decretado a hibernar. Glorioso que só, o Botafogo disse não. Olhou para a própria grandeza e faz de sua torcida a mais orgulhosa do futebol brasileiro no momento. Vale muito. 

Tolos os que disseram que caberia ao clube um ostracismo semelhante ao do América diante de tantas dívidas. R$ 850 milhões, a maior do futebol brasileiro, depois de uma festa com direito a Seedorf, Renato, Vitinho, Libertadores. Aí a tarefa de se mostrar um grande. O Botafogo mostrou. Carlos Eduardo Pereira, presidente eleito para a, talvez, maior batalha da história do clube, cansou de repetir: poderia faltar papel, caneta no escritório, mas não salário aos jogadores. O Botafogo encontrava a sua realidade para renascer. Porque, sim, parecia condenado às dívidas, longe da elite. Mas o futebol, esse esporte que insiste em desafiar a lógica e as meras calculadoras, nos faz entender que o espírito move um clube. E o espírito do Botafogo é grande. Glorioso. E está orgulhoso. 

Lógico que a estupenda campanha no segundo turno do Campeonato Brasileiro, nove vitórias nos últimos 11 jogos, perspectiva de Libertadores, é surpreendente a quem deveria apenas sobreviver a olhos comuns. Mas, lembrem-se, o Botafogo decidiu buscar um reencontro com si próprio. Não se ouve falar em atrasos de salários. Jogadores estão com sorrisos de orelha a orelha nas comemorações de gols. O time é valente, luta por cada palmo de campo. A torcida, exultante, enche a Arena Botafogo. Ah, a Arena da Ilha. A um clube que contava com Caio Martins e Engenhão, ela parecia ser desnecessária. Mas ali, com aquele alçapão à la anos 90, no pulsar da torcida, o Botafogo se reencontrou com o passado. Fez-se ser temido por adversários que o visitam. Vive, vive como nunca o Botafogo. Pulsa. Glorioso. Orgulhoso. 

Pode até ser que o time de Jair Ventura não chegue à Libertadores. O clube está em reconstrução, longe de qualquer perfeição. A dívida é grande, a tarefa é longa, o trabalho continua. Tudo verdade. Mas se reencontrar com a própria história, tornar a união torcida e time uma combustão para novos horizontes é o presente de 2016. A Série B ficou para trás. Entre os arranques de Pimpão, a batida na bola de Camilo, a segurança de Sidão e os gols sorridentes de Sassá, o clube retomou sua aura. Merecia, desde já, mais destaque do que vem arrancando a cada vitória. Condenado? Por ora, apenas a sorrir. É o orgulhoso Botafogo. 

Um comentário:

Marllus Henrique disse...

Belo texto! Sincero e fiel aos últimos acontecimentos envolvendo o Glorioso.