24 de outubro de 2016


Passo, descompasso: a perda da passada do Fla no Brasileiro

Passo. Maracanã lotado, torcida ansiosa, mosaico que inunda a arquibancada de vermelho e preto. A união, enfim, estava refeita depois de tanto tempo de espera. Flamengo e a grande Nação. Assim que a escalação ganhou rádios, tvs, internet e redes sociais, o torcedor na arquibancada vislumbrou ideia nova de Zé Ricardo. Emerson, o Sheik, e Mancuello como titulares. Aumento de troca de passes, posse de bola, entendimento. Fim dos pontas, do jogo que força velocidade e cadece de pensamento. Descompasso.

Não deu nem tempo. Com poucos minutos de jogo a torcida já avistou da arquibancada que o ritmo da equipe não batia com o esperado. Era o mesmo esquema de sempre. Mas com Sheik, na direita, e Mancuello, pela esquerda. Sem pernas para marcação. Sem a velocidade para o ataque. Não deu mesmo tempo. Diante de um Flamengo que ainda tentava se encontrar no jogo e reencontrar no campeonato, Guilherme aproveitou o enorme espaço, a falta de pressão e arriscou marotamente um chute rasteiro. Muralha pulou. Faltou um passo. A bola beija o pé da trave e escorrega, marota, no fundo do gol. Descompasso. 

Passo. A torcida entende. A razão da festa era a união dela com o time. Cabia a ela empurrá-lo. Ela tenta, puxa cânticos, ameaça pulsar. Mas o time, morno, não a faz ferver. Troca passes com a tranquilidade de quem não tem a pressão de poucas rodadas para seguir - e ultrapassar - o líder. Guerrero briga, mata lançamentos ferozes no peito. Mancuello cai para a direita, Jorge ocupa o meio e entrega a direita corintiana para Fagner, às vezes Romero, quem sabe Rodriguinho. Flamengo em descompasso. Longe da característica que o fez arrancar na tabela, passa a alçar bolas na área. Cava faltas. Quer o jogo aéreo que já o salvou nas partidas mais recentes. Consegue. Guerrero, impedido de forma obscena, toca de cabeça para o gol. A arbitragem tira o descompasso. Tudo igual.

De passe em passe. O Corinthians chega, troca posições, coordena o ataque, ameaça. Guilherme encontra Muralha um passo à frente e tenta o gol de cobertura. Por pouco. A arquibancada treme. Sente o Flamengo no ritmo lento que o condenou em partidas anteriores. Parece faltar o espírito necessário. Jorge se arrasta pelo lado esquerdo. Pará é reticente pela direita. Arão não sabe ocupar seu espaço. Perde-se. Diego retorna, busca a bola, gira o jogo. Passe, passe, passe. E descompasso. Rodriguinho tabela com Fagner pelo meio e encontra Romero arrancando na direita. Entrada na área, bola rolada para trás, na medida. O corta-luz de Guilherme acerta o passo. Rodriguinho, na rede. Arquibancada e time não se entendem rumo ao intervalo. Total descompasso. 

Sem Mancuello e com Fernandinho, Zé Ricardo mantém o esquema e tenta afiná-lo. Precisa da vitória. Para manter o passo do campeonato. A derrota parcial era assustadora. Arquibancada e time voltam a acertar o passo. O grito acorda o time, que se joga à frente, tentando intimidar o adversário. Bola no Fernandinho pela esquerda. Duelo com Fagner. Ele tenta o drible, arrisca jogar a bola na área. Não tem espaço. Faltam organização, criatividade, aproximação. Haja espaço. A falta de ideias leva à bola aérea. É num escanteio de Diego que Guerrero aproveita a sobra na pequena área e toca de cabeça. Tudo igual de novo. Passo, passo, passo. Não se sabe mais o ritmo de um Flamengo em descompasso. 

O time busca o abafa. Bolas alçadas na área. O Corinthians se segura, tem contra-ataques e busca o desafogo com Marlone. Mas Guilherme é infeliz e recebe o vermelho. Dá campo para que o Flamengo acerte o passo. O coração da arquibancada, acelerado, não acompanha de forma uníssona. Vive entre a euforia e o desespero. Sabe da importância dos três pontos. A equipe rubro-negra tenta a pressão final. Puxa o fôlego. Sheik, na ponta direita, avança com o que pode e sobrecarrega Pará. Arão já não se entende e deixa o campo para a entrada de Damião. A ansiedade domina o time. Que se perde nos passos. Sheik avança pela direita e cruza na mão de Walter. Guerrero, sozinho de cabeça no meio da área, toca para fora. De novo Sheik, na ginga, tira o rival e bate forte para correr para o abraço. Puro descompasso. 

Passo. O jogo termina, a arquibancada entende o esforço. Aplausos. Desorganizado, com uma nota só, a equipe deu o que podia para tentar a vitória. Foi pouco. Com já fora diante de São Paulo e Internacional. O jogo rubro-negro empobreceu. Do chão saiu para o alto. Viciou-se em pontas rápidos, com pulmões para atacar e defender. Não se entende mais com tanta facilidade. Zé Ricardo terá de tirar o coelho da cartola e trocar o pneu do carro em movimento. Mudar para reviver. Voltar a acertar o passo. Agora o time está a seis pontos de distância para o líder. Tem de olhar para baixo e proteger a vice-liderança na próxima rodada. Ousar. Para retomar a passada do Brasileiro a seis rodadas do fim. 

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