24 de maio de 2012



Contrato é contrato

Assis não dá ponto sem nó. Enquanto fui repórter do LANCE!, por algumas vezes tive a oportunidade de conversar com o empresário, fosse na cobertura do Flamengo, Seleção Brasileira ou sobre constantes boatos de uma possível volta de Ronaldinho Gaúcho ao Brasil. O tom, por vezes, é cordial, quase na amizade. Mas pode mudar conforme o dia ou andamento da conversa. Em dezembro de 2010, tão logo soube da nova investida do Flamengo no craque dentuço, com o suporte da Traffic, liguei para o irmão do camisa 10 para buscar a confirmação. A recepção foi boa, mas o cuidado com qualquer confirmação sobre a negociação foi calculado milimetricamente. Assis demonstrou ter duas premissas. A primeira, não arranhar a imagem de um homem que honra contratos. A segunda, tão importante quanto, garantir o retorno financeiro, sem sobressaltos, o que aumentava a importância da participação da Traffic na empreitada. A filosofia dos Assis, depois eternizada por Ronaldinho ao  mencionar o Flamengo na coletiva do Copacabana Palace, foi ouvida por mim ao telefone:

- Amigo, o Ronaldo tem contrato com o Milan. Contrato é contrato. E o Ronaldo sempre os cumpre.

Achei engraçada a frase, lembrei-me do imbróglio com o Grêmio e sua saída conturbada para a França. Mas o pensamento europeu estava estabelecido em Assis. Já no início da madrugada seguinte, a reportagem, confirmada com tantas outras fontes, com o interesse do Flamengo e o suporte essencial da Traffic, foi publicada no site. E Ronaldinho chegou à Gávea em festa pomposa. Diante do carnaval promovido pelo empresário na loja oficial do clube, relatada em excelente e saborosa matéria do site Globoesporte.com, foi perceptível a estratégia de Assis e a sua preocupação em manter o irmão como um cumpridor de contratos, ainda que a situação já esteja à beira do caos. 

Ao entrar de sobressalto na Fla Concept, pegar camisas e outros produtos e lembrar os funcionários que iria levar tudo pelo simples fato de o Flamengo não pagar Ronaldinho, Assis quis expor o clube ao ridículo e indicar que a continuidade não é mais possível. Um pedido de saída. O ônus da rescisão, no entanto, os irmãos não desejam levar na mala. Protagonizar tal episódio serviu para chocar e aborrecer os corredores da Gávea, aumentar a pressão sobre a presidente Patricia Amorim pela saída do jogador. Caso R10 seja dispensado devido a esse episódio lamentável, Assis propagará no mercado a fama de que sempre cumpriu os contratos que assinou. O desejo de saída, no entanto, não é mais tão velado. Parece mais uma súplica. 

Pouco mais de 15 meses depois da chegada de Ronaldinho ao clube, já sem a participação da Traffic na parceria, ficou claro que o casamento não deu certo. É preciso rompê-lo. Mas as partes parecem não saber como fazê-lo. Assis sabe que o irmão, sombra do que já foi, não receberá nem perto do que está celebrado no contrato entre eles e o Flamengo, atualmente. Já o clube sabe que terá uma bomba financeira mais explosiva do que as de Pet e Romário caso rompa unilateralmente o compromisso. Assis está à espera. Cabe ao clube procurá-lo, buscar a melhor maneira de acertar a rescisão e deixar os irmãos buscarem seu caminho. É preciso serenidade, produto em falta na Gávea, para admitir que não deu certo. A cada vez que leio ou ouço falar do imbróglio entre Ronaldinho e Flamengo, já longe da cobertura do dia a dia de clube, lembro sempre das palavras de Assis e as associo às atitudes tomadas por ele. Afinal, contrato é contrato.  
 

Um comentário:

Ad@1LtoN disse...

Começou errado, termina errado.
Eu já tinha pé atrás com essa Traffic desde a bagunça que ela fazia no Palmeiras na epoca. Muitos desmandos, que todo dia apareciam na TV.
Aí ela chega no Flamengo, e paga um dinheiro fudido no R10, pra depois descobrirmos que não tem contrato, não tem nada assinado.
Isso o conselho do Flamengo, tão ativo contra o Zico, nunca se deu ao trabalho de questionar.