1 de julho de 2014


À sombra do capitão imaginário

"Capitão do time". Puxe na memória a imagem que vem à sua cabeça para preencher esta este cargo. Certamente será a que habita o imaginário popular talvez desde que Bellini tenha levantado a Jules Rimet na Suécia, em 1958. Mãos erguidas, com taça acima. Personalidade forte. Liderança. Cara à tapa. Expressão fechada. Cobrança e estímulo aos companheiros no momento difícil. Nada perto de Thiago Silva nesta Copa do Mundo.

Mais longe ainda da cena do capitão da Seleção Brasileira na decisão de pênaltis contra o Chile, pelas oitavas de final: sentado na bola, lágrimas pelo rosto, cabeça baixa. Angustiado, precisando de apoio dos companheiros. À sombra do capitão imaginário. Thiago Silva, aos 29 anos, está longe de ser um garoto inocente. Não ganhou a braçadeira, como faz questão de se orgulhar em um comercial de tv, por acaso. Exibe liderança, ainda que técnica. É um zagueiro primoroso. 

Mas ao demonstrar o abalo emocional visto no Mineirão ele causa choque. Principalmente por ir em direção contrária à imagem de capitão no imaginário brasileiro. Seja de Dunga, em 94, esbravejando e erguendo os punhos ao cobrar o pênalti na finalíssima diante da Itália ou de Bellini e Carlos Alberto Torres, imponentes, inabaláveis, ao levantar a taça. Liderança, garra, sem fugir à luta. Cientes da responsabilidade. 

Coube a Paulinho, o ex-titular com colete de reserva, motivar jogador por jogador na roda antes dos pênaltis. Thiago Silva apenas assistiu. Não cobrou o pênalti, embora figurasse na lista. Fugiu ao seu papel. Ao sentar na bola, derramar lágrimas antes do ponto final do jogo, o zagueiro postou-se à margem da função que lhe foi dada. E precisa se levantar e sair. Não continuar à sombra do capitão imaginário.

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