19 de junho de 2014



Quem tem alma não morre

Das crônicas que eu gostaria de ter feito.

Acostumou-se o Uruguai a ressurgir pelas mãos ou pelos pés de Luisito. Acostumou-se Suárez a ressurgir com a camisa celeste. Um entendimento mútuo de almas que acabou por afundar a Inglaterra na Copa do Mundo. 2 a 1 para o Uruguai no Itaquerão. Dois gols de Suárez. A Celeste, dada quase como morta, está mais do que viva. Quem tem alma não morre.

Suárez e Uruguai se recusam a morrer de véspera em terras tupiniquins desde 1950. Talvez seja exagero comparar Luizito a Ghiggia. Talvez, às vezes, não seja. Pois ambos se negaram a deixar essa gente que traduz raça em futebol se abater sem o embate. Luis Suárez, há um mês, estava em uma cadeira de rodas, recém-operado do joelho. Não está mais. Quem tem alma levanta, anda, joga. Sobrevive.

Da forma mais dura, os ingleses entenderam o que a paixão de um atacante pela bola e pela pátria é capaz de fazer. Por mais que os comandados de Roy Hodgson tenham apresentado um bom jogo, com investidas pelas laterais e boas chances pelo meio, um Rooney impetuoso, com direito a bola na trave em cabeçada, não eram suficientes. 

O Uruguai contava com seu batalhão ferido após a derrota para a Costa Rica na primeira rodada, mas estava reforçado de seu principal soldado. Suárez infernizava os ingleses com dribles, brigas, disputa, assim como Cavani. Aos 38 minutos do primeiro tempo, Luisito recebeu cruzamento preciso do amigo na área. Na categoria cabeceou no contrapé de Hart. Golaço. Gol de explosão. Gol de quem pulsava na Copa. Gol de quem tem alma. E não morre. 

Veio o segundo tempo e, com ele, os ingleses para o tudo ou nada. Oferecendo campo, dando espaço aos uruguaios. Por duas vezes, Suárez teve a chance de sacramentar a partida. Seria simplista demais. Seria necessário, ainda, o empate dramático de Rooney, que completou o cruzamento rasteiro de Johnson pela direita. 1 a 1, placar que complicava a estrada da Copa do Mundo para ambas as seleções. Mas quem tem alma insiste e não se deixa morrer. 

Aos 40 minutos do segundo tempo, Muslera dá um chutaço para frente. A bola resvala no companheiro de Liverpool, o inglês Gerrard, e se oferece, faceira, para Suárez, a caminho da área, pelo lado direito. Se usou as mãos diante de Gana para salvar a pátria e entrar para a História em 2010, Suárez encheu o pé direito para libertar o Uruguai nesta Copa do Mundo. Para se libertar após a cirurgia. De novo, golaço. Vitória celeste. Prantos de Luisito. O ressurgir de uma camisa. Quem tem alma não morre. Jamais. 

Foto: Fifa.com

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