20 de novembro de 2016


O saldo rubro-negro de 2016 acende a luz amarela

Mesmo com o frustrante empate em 2 a 2 com o Coritiba no Maracanã é muito provável que o Flamengo encerre o Campeonato Brasileiro entre os três primeiros colocados, com vaga garantida na fase de grupos da Libertadores de 2017. Ainda assim, o saldo de 2016 será ruim. Isso mesmo. Ruim. A patinada na reta final da maior competição nacional e a consequente saída da briga pela taça não seriam, por si só, motivo para análise negativa. Mas o pacote de todo o ano, com seguidas eliminações, é forte e puxa a balança para baixo. Acende a luz amarela. Diminui a paciência. Em 2017, o tom de cobrança de todos os lados, torcida, imprensa e do ambiente interno do clube tende a aumentar. Mas há, claro, o que peneirar para azeitar o carro quando parado na oficina. 

Talvez seja o maior aprendizado que o Flamengo, aluno insistente nos erros. Não trocar peças com o carro em pleno andamento. Assim como em 2015, o clube rubro-negro repetiu a dose em 2016. Houve, claro, erro de planejamento. O elenco precisava de zagueiros. Não os contratou a tempo da estreia no Brasileiro e, de quebra, viu Wallace abandonar o clube na véspera, tendo de recorrer ao então dispensado César Martins. O campeonato cobra erros tão primários como o de escalar zagueiros recém-saídos dos juniores em jogos profissionais tão exigentes. Cobra a entrada do principal jogador do time, Diego, com vários pontos já disputados. Cobra a indefinição do técnico quando Muricy Ramalho já havia abandonado o barco por motivos de saúde. Este último, um acerto por linhas tortas. 

Zé Ricardo deve permanecer no Flamengo em 2017. É compreensível que, estreante nos profissionais, tenha errado na reta final da competição. Mostrou-se inseguro ao tentar diversificar o esquema tático, geralmente preso ao 4-2-3-1 com os valentes pontinhas, conhecido de cor pelos adversários. Apostou errado em veteranos como Sheik. Investiu pouco na dupla Guerrero e Leandro Damião e nos estrangeiros Cuellar e Mancuello. Mas o técnico, por si só, tem saldo positivo. Soube formar um time competitivo em grande parte da competição, administrar jogadores cascudos. Há margem para crescimento, maior cancha e liberdade para diversificar o esquema no início da temporada, sem grande pressão como em um campeonato de pontos corridos. Fez um bom trabalho. Merece continuar e receber peças mais qualificadas para forjar uma equipe competitiva e com bom desempenho e resultados. E ser, claro, cobrado.

A bússola do desempenho financeiro do clube e sua recuperação indicam para um céu azul de austeridade, mérito de um trabalho constantemente elogiado de Bandeira de Mello e seus pares. Mas nenhum céu de brigadeiro fora de campo consegue se equilibrar sem o resultado esportivo. 2016 seria o ano dourado do futebol. Passou longe. O time ficou pelo caminho no Carioca para o rival Vasco. Caiu na semifinal da Primeira Liga com time misto diante do Atlético-PR. Deu vexame na segunda fase da Copa do Brasil contra o Fortaleza. Passou vergonha diante do inexpressivo Palestino na Copa Sul-Americana. O fardo é grande para quem investe tanto e colhe tão pouco. 

A ideia propagada na Gávea atualmente é de que 2017 será um ano com maior potencial para glórias. A torcida, compreensiva desde 2013 com o quadro de recuperação financeira do clube, já mostra ansiedade. A paciência diminuiu com o aumento de fracassos em campo. A margem para manobra será menor. Rodrigo Caetano e Flávio Godinho, diretor e vice de futebol, serão mais cobrados a conduzir o clube e seu potencial de investimento a voos verdadeiramente altos. A compreensão poderá virar pressão. A boa campanha rubro-negra no Brasileiro tem méritos de Zé Ricardo em extrair ao máximo de jogadores medianos. Pará, Vaz, Gabriel, Fernandinho e até o contestado Márcio Araújo viveram ótima fase. Mas o declínio individual de cada um proporcionou a queda vertiginosa do desempenho da equipe. O futebol do time diminuiu, os resultados se foram. O gosto de fim de ano é amargo. O elenco é bom, mas há buracos.

Ao indicar uma renovação de contrato por duas temporadas com o Márcio Araújo, por exemplo, a diretoria indica ainda flertar com águas turvas para o futuro. Não pela simples aversão da torcida ao camisa 8. Mas o volante é limitado tecnicamente, embora vigoroso. É pouco para quem sonha alto. Para quem investe alto. A mesma situação se aplica a nomes como Gabriel, Fernandinho, Rafael Vaz. São jogadores para composição de grupo. A ambição é entendida pelas ações da diretoria. Reforçar as pontas, a zaga, trazer um primeiro volante de maior qualidade, dar um companheiro a Diego na criação de jogadas. Resta também definir um estádio para não ser um eterno peregrino que se comprometa fisicamente no fim da temporada. 

A lista de tarefa é grande demais para quem parece tentar apontar um lugar entre os três primeiros como sucesso. É necessário reconhecer que 2016 esteve longe disso. Houve méritos no Brasileiro, mas o conjunto de ações falhou. Na reta final, o time patinou. Não é por acaso. O saldo ruim acendeu a luz amarela. O Flamengo de Bandeira ainda espera para dar o seu grande salto dentro de campo. 

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