28 de janeiro de 2017

Na goleada rubro-negra, indícios de um Zé Ricardo livre

Os olhares de desconfiança já pairavam sobre Zé Ricardo com as derrotas em amistosos para Vila Nova e Serra Macaense. Mas diz o chavão que treino é treino, jogo é jogo. E é mesmo. A goleada de 4 a 1 sobre o Boavista, em Natal, pelo Campeonato Carioca, na estreia oficial da temporada, trouxe alívio e promessa de ideias interessantes para o restante da temporada. O técnico do Flamengo está mais solto. Sim, solto. 

Quando assumiu em 2016, Zé Ricardo deveria empilhar resultados para garantir sua permanência no cargo. Com a primeira etapa cumprida, agarrou-se a um esquema para manter o time no ritmo de competitividade que o permitia sonhar com o título brasileiro. Em 2017, a pedra está zerada. O técnico se sente mais livre para arriscar e tentar pôr em prática ideias que provavelmente já acumulava na última temporada. À primeira vista, o time lançado a campo neste sábado era um Flamengo no velho 4-2-3-1 dos pontinhas, com Everton de um lado e Mancuello do outro. O camisa 22 passou mal e deu lugar a Adryan antes do apito inicial. Imprevisto que atrapalhou.  

Longe de ter o vigor de Everton para ajudar na marcação pelo lado esquerdo, o meia-atacante prata da casa desequilibrou a balança do time na primeira etapa. Trauco, agudo, lançou-se ao ataque, mas teve de tomar cuidado com as bolas às suas costas. Por ali o Boavista atacava, rápido, com Erick Flores e Maicon. Assim, o lateral peruano ficou pelo meio do caminho no primeiro tempo. E o time parecia desentrosado, sem saber como se movimentar. A dupla de volantes, nova, Rômulo e William Arão, ainda se entendia quanto a quem deveria cobrir o avanço de quem. Natural para o início de temporada. Na direita, Mancuello, quando muito ao extremo do campo, tinha dificuldades. Mas claramente tinha a indicação de buscar o jogo pelo meio por um passe ou arremate, por vezes infiltrando na área. Mas na maioria das vezes tentava passe longo. Tinha espaço, mas não velocidade para aproveitar o espaço pelo lado. Não encaixava. 

Talvez por isso o gol do Flamengo veio do meio do caminho. Trauco, de longe, olhou para a área e enxergou Guerrero pronto para subir sozinho de cabeça no meio dos defensores do Boavista. 1 a 0, com ajuda do goleiro Felipe. Senhor cruzamento. Nem assim o jogo rubro-negro fluiu melhor. Pelo contrário. Ainda continuava exposto a contra-ataques. Arão errava passes, Diego voltava para tentar buscar a bola. Era confuso. Nessa, o time de Joel aproveitou para empatar antes do intervalo, em belo cruzamento de Pedro Botelho para Mosquito, nas costas de Trauco. 1 a 1. 

Com o resultado ruim, Zé Ricardo tirou o Flamengo do gesso do 4-2-3-1 do primeiro tempo. Maior movimentação, mais troca de passes, como no início da partida com o Vila Nova. Surtiu efeito diante de um time tão espaçado quanto o Boavista, claro. Justamente com uma característica responsável pelos melhores momentos do time de Zé Ricardo em 2016: a troca de passes rápidos. Trauco avançou pelo meio, rolou para Guerrero, que passou de primeira para Mancuello. O argentino, posicionado por dentro, longe da ponta, apenas rolou com um toque açucarado para o próprio Trauco, como atacante, ultrapassar pelas costas de Antonio Carlos e tocar para o fundo da rede. Golaço de um time mais solto e consciente. 

Logo em seguida, Adryan deixou o campo após uma pancada no tornozelo. Zé Ricardo, então, se libertou. Jogou Mancuello para o lado esquerdo e colocou Rodinei, lateral de ofício, à frente de Pará. Com explosão, o camisa 2 aproveitou o espaço com a velocidade. Não tardou a chegar sozinho, olhar para a área e enxergar Guerrero livre para marcar mais um de cabeça. 3 a 1. Boavista entregue. Flamengo relaxado, como Zé Ricardo. Uma equipe que passou a encaixar passes, de pé em pé, girando o jogo, trabalhando triangulações pelos lados. Rodinei fez o que se esperava de Cirino e o que se espera de Berrío. Velocidade, explosão. Apareceu na cara de Felipe pelo lado direito, mas bateu em cima do goleiro.

A goleada foi fechada em mais um belo lance. Rebote depois de tentativa de finalização de Guerrero, Trauco, inspirado, rápido o bastante para achar Diego no meio da área. Frio, o camisa 35 deu um corte em Antonio Carlos e colocou de chapa no fundo da rede de Felipe. 4 a 1. Início com vitória e um Zé Ricardo à vontade para testar ideias. Mancuello pela direira ensaiando entradas na área e passes pelo meio, vislumbrando Conca no futuro. Aproveitar a explosão de Rodinei além da lateral. Rômulo posto à prova. Berrío está a caminho. Zé Ricardo, livre, parece pronto para ser inventivo e buscar soluções. Vale acompanhar.  

2 comentários:

Marcus Braga disse...

Excelente análise Pedro. Minha maior expectativa pra esse ano é justamente vendo o Fla com variações táticas, algo que passou longe em 16. Abs.

Helder Dutra disse...

A entrada do Rodinei realmente me surpreendeu. O cara tem um baita vigor físico. Pode ser aproveitado ali pela ponta realmente. MUITO mais efetivo que o Gabriel, por ex.