6 de janeiro de 2017


Estruturado, Flamengo busca o equilíbrio para alçar o prometido voo 

Talvez um dos grandes passos em falso da gestão Bandeira de Mello no Flamengo tenha sido indicar um ano mágico aos torcedores. Fosse em papo com dirigentes, em conversas nos corredores da Gávea ou troca de informações com conselheiros, 2015 era apontado como um ano em que o clube, provavelmente, estaria hegemônico no campo esportivo do futebol brasileiro. Por outras vezes, a tarefa passou para 2016. Em seguida, ao recém-nascido 2017. Convenhamos, apontar ano mágico ou dourado é tarefa impossível em um futebol que vai além das planilhas. Fato é que o Flamengo chegou em 2017 renovado e estruturado fora de campo. Falta alinhar os botões e aprender com os erros no futebol para fazer a engrenagem decolar. 

A mudança de patamar do Flamengo recebido por Bandeira de Mello no fim de 2012 de Patricia Amorim salta aos olhos. O clube que só fazia aumentar a dívida e temia um monstro de R$ 750 milhões vislumbra, enfim, o equilíbrio de um para um entre déficit e receita, ambos na casa dos R$ 430 milhões. Uma dívida ainda alta, mas equacionada e em queda constante. Algo inimaginável há alguns anos. Os atrasos salariais deixaram de ser manchete e dívidas milionárias históricas, com Romário e Ronaldinho, foram quitadas. Se antes o Flamengo chegou a enfrentar um ano sem patrocinador master, agora anuncia acordo de R$ 200 milhões pelos próximos seis anos com a empresa tailandesa de energéticos Carabao. A marca Flamengo foi revitalizada e a receita subiu. A ponto de permitir ao clube comprar brigas políticas grandes, como o não acordo, até o momento, de televisionamento dos jogos da equipe no Campeonato Carioca, gerido pela Ferj. R$ 15 milhões que deixam de entrar no bolso. Mas o Flamengo, garante, pode se dar a este luxo.  

Entre os inúmeros acertos, Bandeira e seus pares pecaram no desenvolvimento do futebol. Talvez por falta de conhecimento do meio em alguns momentos, talvez por falta de verba em tanto outros. Mas neste 2017 o Flamengo entra diferente. O centro de treinamento do clube, enfim, é moderno. A estrutura é básica para qualquer grande instituição do futebol, mas o Ninho do Urubu concluído e à disposição dos profissionais é um marco. As imagens de instalações abandonadas, poças em dias de chuva, lama, condição precária passarão a figurar no passado. Impacta não apenas na imagem do clube no mercado para captar receitas, mas, também, entre os profissionais de futebol. Queixas sobre o CT eram veladas, mas constantes entre jogadores e membros da comissão técnica. Tendem, portanto, a sumir. O clube injetou verba de R$ 15 milhões e seduziu Conca e seu clube chinês com o oferecimento da estrutura. Mais um degrau para subir de patamar.  

Na tentativa de equilibrar o lado financeiro e deixar a máquina rubro-negra em plena atividade, a diretoria errou a mão ao permitir ao elenco ser itinerante em 2016. O desgaste chegou no fim do ano, reduziu as chances de briga com o Palmeiras pelo título brasileiro e o aprendizado parece assimilado. Mesmo sem o Maracanã garantido, acordo e investimento previsto de R$ 12 milhões para tornar o Estádio Luso-Brasileiro, na Ilha do Governador, na sua casa, concretizados. O elenco terá menos viagens e desgaste pela frente. Estruturado, o Flamengo tem orçamento em 2017 previsto em R$ 435 milhões. Fruto de um trabalho iniciado em 2012 e que torna o clube sólido para alçar voos altos nos próximos anos. É hoje um clube que firma sua base, cresce de acordo com seu enorme potencial, sem fórmulas mágicas ou almas caridosas. A tendência é crescer o investimento no futebol no futuro. Mas, atualmente, o Flamengo investe cerca de 60% de sua receita no futebol, abaixo dos grandes clubes brasileiros em geral. Mas há o porém. A dívida, ainda que equacionada, freia investimentos altos em direitos econômicos de atletas. 

Aí pode ser que more, por enquanto, o maior desafio. Ainda que tenha formado um elenco robusto, com investimentos salariais altos em busca de retorno técnico como Diego e Guerrero, o elenco carece de reforços, como provado em 2016. Equilibrar a balança do financeiro com o lado técnico do time será tarefa dura, mas necessária. Rômulo está próximo de reforçar o meio e dar ao menos alternativa a Márcio Araújo. Conca será opção. Mas Zé Ricardo precisa de atacantes velozes e técnicos para as extremidades do campo. Marinho voa rumo ao paraíso chinês. Cabe ao clube achar a solução para os pontas e não repetir o erro de 2016 com a zaga, setor claramente debilitado e reforçado apenas no meio da temporada. Com receita robusta, patrocínios encaminhados, CT concluído e estádio garantido no Rio, o Flamengo anuncia para 2017 uma estruturação inédita em anos no clube. Resta o equilíbrio com o elenco de futebol para alçar o sonhado voo. 

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