1 de dezembro de 2016


De Medellín a Chapecó, a materialização do clichê

Não é só futebol. As luzes na arquibancada do estádio Atanasio Girardot inflaram o sentimento que varreu o continente sul-americano diante de uma tragédia que sufocou gargantas e provocou lágrimas coletivas como em raras ocasiões. O abraço dado pelo Atlético Nacional e sua torcida é daqueles maternais, de quem diz que está tudo bem e nada vai acontecer. Afagos fazem bem para suprimir a dor. Em Medellín e Chapecó, o futebol transbordou fronteiras para nos desarmar. 

Somos o que pretendemos ser. Quem buscamos ser. A linda cerimônia dos colombianos indicou que podemos, sim, sermos solidários. Sermos bons, mesmo. Importarmo-nos uns com os outros. Ignorarmos diferenças. Adversários não são inimigos. Foi o que espelhou o futebol em uma semana que começou com a alegria do título do Palmeiras depois de 22 anos, presenciada pela própria Chapecoense, e seguiu com a perda de tantos sonhos e histórias em uma montanha colombiana. Na dor, o futebol seduziu até quem não liga para o esporte. Instigou lágrimas e reflexões. Não é só futebol.

Em Chapecó, não é mesmo. O clube se confunde com a cidade e torna a relação entre jogadores e cidadãos mais intimista. O sofrimento de perdê-los de forma tão trágica parece ser maior. A Arena Condá, de novo, vestiu-se de verde para homenagear quem tanto a honrou. Em Medellín, o laço de solidariedade pareceu se completar. Um povo distante que abraçou a dor como sua. Homenageou mortos como seus. Palavras afagaram, gestos emocionaram. E a barreira da linguagem se dissipou com o coro de "Vamos, vamos, Chape!" ecoado em uma arquibancada colombiana, que encharcou o gramado de flores brancas. Não é preciso final alguma. Não é preciso entender regras. Na mais bela homenagem do esporte, o Atlético Nacional e sua torcida tiveram sua mais grandiosa conquista. Amenizaram dores. Afagaram corações. Materializam o velho clichê. Não, não é só futebol. Gracias, Colômbia.  

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