29 de março de 2012


O caminhar de Edmundo

7 de dezembro de 2008. Nem trinta minutos tinham se passado do rebaixamento do Vasco em São Januário quando, sozinho, uma figura cruzava o campo já quase na penumbra de São Januário, rumo ao estacionamento. Olhos marejados, cabisbaixo, passos apressados, Edmundo deixou o campo no qual tanto brilhou quase na clandestinidade. Não merecia. Por tudo que fez pelo Vasco. Pelo craque que foi. Por ser uma contradição com uma personalidade sempre explosiva, em busca de destaque. Pouco mais de três anos depois, o Animal ressurgiu.

Em vez da penumbra, os holofotes. Os olhos de novo marejados, mas desta vez a tristeza deu lugar à alegria. No peito, a camisa do clube que tanto ama. Na arquibancada, os protestos deram lugar às homenagens. Nas costas, o número 10 com o qual tanto brilhou. E seguem os aplausos. Merecidos, portanto, para aquela noite. Porque Edmundo errou ao longo da carreira e da vida. E como errou. Mas a noite era de celebração. De festa. Em homenagem ao craque e ao personagem que foi no futebol brasileiro.

Há quem não compreenda tamanha idolatria da torcida vascaína ao, agora definitivamente, ex-atacante. Pois é fácil explicar. Edmundo entende a língua da gente que leva a cruz-de-malta no peito. Por essa gente, a sua gente, foi feliz. Deu carrinhos, debochou, correu, explodiu, deu declarações sem pensar. Sofreu, raspou o cabelo como autopunição, chorou, fez gols e até vestiu a camisa de goleiro. Encarnou a paixão que emana da Colina como poucos fizeram na história. Incoerente, vestiu a camisa do maior rival e desrespeitou sua torcida. Reação agressiva de quem, com emoções repreendidas em cores que não eram as de suas raízes, ama. Por tudo isso, mais de 20 mil cúmplices dessa paixão estavam lá, a postos para o último adeus.

Incoerente até o último fio de cabelo, Edmundo fez sua despedida quase três anos depois da aposentadoria. Mais encorpado, embora ainda técnico, fez seu gol de pênalti. Agradeceu, aplaudiu, se emocionou. E, de primeira, completou o cruzamento que veio pelo alto. Debochado, repetiu a dancinha provocante que eternizou 15 anos atrás em seu êxtase com a camisa cruzmaltina diante do grande rival. Festa completa para o ídolo que fez explodir o amor pela cruz-de-malta de uma geração de vascaínos. Ao deixar o gramado, expulsou os demônios daquele triste e escuro caminhar de 7 de dezembro de 2008. Agradeceu aos torcedores, "do fundo do coração". Disse estar em paz consigo mesmo. A caminhada agora é feliz, sob luz, honrarias e aplausos. Da arquibancada, Edmundo ouviu gritos de "Fica!". Tolice. Mal perceberam que o Animal já havia atendido a este pedido. Edmundo ficou mesmo. Entre suas contradições, amado e odiado, ele está na história do Vasco e, consequentemente, do futebol brasileiro. Fará uma falta animal.

Nenhum comentário: